Ambientalistas temem impactos da nova central solar de Vialonga
Projecto de central fotovoltaica teve luz verde de várias entidades para avançar, incluindo da Câmara de Vila Franca de Xira, mas na consulta pública houve organismos que manifestaram preocupações com os impactos que poderá ter na comunidade. Vai funcionar durante 30 anos.
Não é garantido que a população da Fonte Santa, em Vialonga, não venha a sofrer impactos com a instalação da nova Central Solar de Vialonga (CSV) na aldeia de Santa Cruz, à qual a Câmara de Vila Franca de Xira deu agora luz verde para a sua instalação. O alerta é deixado pela associação ambientalista Zero na fase de consulta pública prévia à aprovação do projecto, que prevê a colocação de mais de 63 mil módulos fotovoltaicos numa área total a rondar os 62 hectares que abrangem Vialonga e parte do concelho de Loures.
A Zero avisa que no estudo de impacto ambiental há aspectos vagos a que não é dado um enfoque directo, como a degradação da área envolvente e de que forma os impactos paisagísticos de magnitude moderada previstos para o local serão minimizados com as medidas de recuperação das áreas intervencionadas. “Sobretudo nas áreas próximas dos aglomerados populacionais, nomeadamente a Fonte Santa, onde devido à proximidade às habitações o espaço restante pode não ser suficiente para que possa ser instalado um corredor arbóreo e arbustivo que minimize o impacto paisagístico”, alerta a associação.
Na consulta pública, uma cidadã também se manifestou contra o projecto pelos impactes causados em áreas de Reserva Ecológica Nacional e Reserva Agrícola Nacional, sobretudo na fauna e flora e no património natural e cultural. Também a Associação para a Valorização da Floresta de Pinho (Centro PINUS) avisou na sua participação que face à importância ambiental, social e económica daquela fileira de árvores, manifesta a sua preocupação com o abate de áreas florestais para instalação de centrais fotovoltaicas. Constatou que no caso da CSV praticamente não haverá impacte em áreas florestais apesar de destruir alguns sumidouros naturais como prados secos seminaturais e matos pouco densos.
Nas peças do procedimento, a que O MIRANTE teve acesso, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) acaba por afirmar que a nível da saúde humana não se prevêem, em geral, impactos directos significativos durante a fase de construção da central, “ainda que as diversas actividades construtivas possam provocar alguma incomodidade temporária nas populações da área envolvente”. Já na fase de exploração a APA diz não esperar impactos negativos significativos na saúde humana. “Prevê-se que o reduzido número de trabalhadores afecto à fase de exploração do projecto não tenha qualquer impacto ao nível das infraestruturas de saúde existentes”, refere.
A APA acabou por condicionar a instalação da central a várias obrigações a que o promotor fica sujeito, incluindo afastar-se da estrada militar de Serves, classificado como Monumento Nacional, que os painéis solares não interfiram com sobreiros e azinheiras, que sejam definidas faixas de protecção ao longo das linhas de água, faixas de exclusão e o devido afastamento às casas da rua principal de Santa Cruz e a Avenida da Liberdade, na Fonte Santa.
Na sua última reunião de câmara o executivo municipal aprovou a proposta de construção civil e arranjos exteriores para a central, incluindo o protocolo de compensação a assinar com a ParrotCircle Unipessoal, a empresa que vai explorar a central, que permitirá ao município encaixar 1.500 euros por MVA (unidade de potência) produzido, num total de 32.625 euros.
Os números da central
A nova central terá uma potência total instalada de 36,006 MWp, distribuída por dois núcleos de produção fotovoltaica, abrangendo parte do território de Vialonga, no concelho de VFX, e outro no vizinho concelho de Loures. Segundo a documentação da APA, a central será constituída por um total de 63.168 módulos fotovoltaicos (com 570 W de potência unitária), 158 inversores, sete postos de transformação, um posto de corte e seccionamento, uma sub-estação e um edifício de comando, distribuídos pelos dois núcleos de produção.
O projecto inclui uma linha eléctrica interna a 30 kV (média tensão) de interligação entre os dois núcleos de produção com dois quilómetros e uma linha eléctrica a 60 kV (alta tensão) de dois quilómetros que escoará a energia produzida na central para a subestação de Fanhões da EDP. Prevê-se que os trabalhos de construção da central solar e linhas eléctricas se prolonguem por 12 meses e o período de exploração do projecto está estimado em 30 anos.