Victor Felisberto: o consagrado chefe de cozinha que começou a lavar pratos e a carregar sacos de batatas
Victor Felisberto, natural da Golegã, esteve no Festival da Biosfera e falou a O MIRANTE do seu percurso enquanto chefe de cozinha, vivido essencialmente no estrangeiro. Estudou na Le Cordon Bleu, mas antes esteve perto de iniciar uma carreira na medicina.
Victor Felisberto, 51 anos, é natural da Golegã e responsável pelo Restaurante Casa Chef Victor Felisberto, em Abrantes. No seu currículo tem duas estrelas Michelin, enquanto chefe-executivo em restaurantes em Andorra e Londres. O que pouco se sabe da sua já longa e reputada carreira é que a cozinha apareceu na sua vida como “uma obrigação”. O MIRANTE esteve à conversa com o chefe na segunda edição da Mostra Gastronómica de Peixe do Rio, no Festival da Biosfera, que decorreu na Golegã e em Torres Novas de 16 e 19 de Maio.
Victor Felisberto era estudante de medicina em Coimbra, filho de uma família com algumas posses. Os negócios da família não correram como desejado e com 18 anos viu-se obrigado a abandonar o curso e a emigrar para Andorra. “Os nossos amigos não são nossos amigos, são amigos do que nós temos e foi isso que me revoltou e fez ir embora. Quando fiquei sem nada viraram-me todos as costas”, afirma com mágoa, revelando que lhe chegou a ser oferecida uma bolsa para continuar a estudar. Começou a lavar pratos por 90 mil pesetas, cerca de 540 euros, e a vontade de aprender levou-o até França para estudar na Le Cordon Bleu, tendo sido colega de um dos mais famosos pasteleiros do mundo, Olivier Bajard. De lavar pratos e carregar sacos de batatas subiu a ajudante de cozinha e mais tarde a chefe. “Às vezes ainda penso no curso de medicina. Olho para a minha vida e foi uma vida de sacrifício, especialmente a nível pessoal”, refere, recordando o trabalho no estrangeiro: “eram noites sem dormir a pensar em ementas. Passamos dias sem ver a luz do sol, num ambiente fechado cheio de vapor”, relembra.
Foi no restaurante Cascata, em Abrantes, que conheceu a actual esposa, “a grande responsável” por ter arriscado em avançar com o seu restaurante em 2018 numa rua pacata em Alferrarede. As carnes cozinhadas a baixa temperatura em forno de lenha são uma das especialidades. Na ementa pode encontrar-se a “Perdiz à moda de Alferrarede” e é conhecido por recuperar pratos do receituário tradicional ribatejano. Nas sobremesas encontra-se o Monte Abrantino, uma das suas criações a concurso nas Sete Maravilhas de Portugal no ano passado. A sobremesa mais recente é também uma homenagem à cidade de Abrantes com o castelo e a sua palha. Apesar do sucesso, procura que a sua cozinha seja acessível a todos. Só há cerca de um ano começou a unir paladares e a dedicar-se à confecção do peixe do rio, por reconhecer que havia já quem trabalhasse bem o sável e a lampreia. Tem a particularidade de quase não usar sal na sua cozinha, optando pela utilização de ervas aromáticas.
Um trajecto repleto de conquistas
No seu percurso somam-se diversas nomeações e prémios, com destaque para o Selo de Sustentabilidade da Biosfera. O seu restaurante já mereceu estar no top cinco dos restaurantes do distrito de Santarém referidos pelo TripAdvisor, venceu o galardão Revelação 2019 pelo Tejo Gourmet – Concurso de Iguarias e Vinhos do Tejo e em 2021 de Melhor Harmonização; galardão Ouro também pelo Tejo Gourmet; prémio de Melhor Tradicional; e galardão Prata no 10º concurso de Gastronomia com Vinho do Porto em 2018. Conta com a distinção Bib Gourmand, do Guia Michelin, que tem conseguido manter desde 2019. A utilização de produtos regionais e sazonais valeu-lhe a nomeação para a categoria de Embaixador Gastronómico pelo distrito de Santarém dos Prémios AHRESP, evento que anualmente distingue os melhores nos sectores da restauração, alojamento e promoção turística no país e além-fronteiras. Os vencedores serão conhecidos durante a gala dos prémios a 21 de Junho, no Casino Estoril.