Projecto de cenouras bebés em Almeirim vai revolucionar agricultura sem desperdício de água
Almeirim está em vias de receber um investimento que se destaca pela inovação na utilização da água, envolvendo duas importantes quintas agrícolas do concelho, e que vai revolucionar a agricultura com boas rentabilidades para os agricultores que queiram produzir um produto de valor acrescentado.
A 52-Fresh é um projecto de capitais estrangeiros e esta fábrica, que representa um investimento de perto de 90 milhões de euros, vai ser a primeira na Europa.
A 52 Fresh é o inovador e maior projecto agrícola das últimas décadas no Ribatejo, que garante zero desperdício de água na transformação de cenouras bebés e que vai instalar em Almeirim a única fábrica na Europa, e a terceira a nível mundial. O projecto destaca-se por ter um plano de reaproveitamento da água numa parceria com duas quintas agrícolas, das mais emblemáticas da região – a Alorna e o Casal Branco – que promove a sustentabilidade ambiental e a redução dos custos energéticos. O investimento directo estrangeiro em Portugal, que apenas aguarda a autorização da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para avançar, constitui também uma oportunidade de diversificação e rentabilidade para os agricultores da região.
Quando a empresa decidiu investir em Almeirim podia ter avançado com o licenciamento de furos de captação de água. Mas preferiu, em articulação com o município, desenvolver uma estratégia revolucionária que passa por investir cinco milhões de euros numa ETAR. A água será limpa e posteriormente fornecida, gratuitamente, aos agricultores vizinhos, pela Alorna e pelo Casal Branco, para regar as culturas agrícolas. O especialista em planeamento hidráulico e hidroagrícola, Jorge Froes, diz que se prevê, com este modelo, utilizar cerca de 858 mil metros cúbicos de água por ano, que corresponde à rega de 132 hectares de milho ou 72 ha de arroz, sendo que o volume de água inerente ao processo industrial corresponde a 0,04% dos consumos totais no rio Tejo. O impacto ambiental é bastante reduzido comparando com o elevado impacto económico-social na região.
Uma nova realidade agrícola
Jorge Froes destaca que a inovação deste projecto, com uma exportação prevista de 98%, permite uma eficiência do processo industrial que garante o aproveitamento de 95% da cenoura. A produção de cenoura tradicional em Portugal tem um aproveitamento de 70%. A 52-Fresh esclarece que todos os agricultores podem ter perdas de refugo que podem chegar aos 30%, o que significa que 30% da água usada na rega do campo foi desperdiçada, o que não acontece com a cenoura bebé.
O projecto, com estatuto PIN - Projecto de Interesse Nacional, é visto como um investimento estratégico, que vai criar 200 postos de trabalho, e no entender de Pedro Lufinha, director geral da Quinta da Alorna, vai promover uma diversificação importante em termos agrícolas no concelho e na região. O investimento, de mais de 90 milhões de euros, vai permitir que os agricultores tenham mais uma cultura disponível, realçando que a quinta é uma das interessadas. O responsável pela produção agrícola da Quinta do Casal Branco, João Brandão, destaca a solução amiga do ambiente que fará reduzir os custos energéticos relacionados com a captação de água.
Esta nova realidade agrícola vem representar a existência de produtos com valor acrescentado, assegurando aos agricultores preços estáveis, aproveitamento e pagamento da totalidade da produção e garantindo lucro por cada hectare produzido. Com três décadas de experiência, a equipa da 52-Fresh vai replicar a sua experiência da Califórnia em Almeirim, para responder às necessidades de fornecer o continente europeu de uma forma mais rápida e eficiente. Na Europa não há fornecedor de cenoura bebé frescas durante todo o ano, “o que cria uma oportunidade enorme para Portugal acolher este projecto único”, sublinha o director geral da 52-Fresh, Yannick Le Mintier.
Presidente da câmara preocupado com lentidão do processo
O presidente da Câmara de Almeirim está preocupado com o tempo que o processo tem demorado e que tem adiado o início da instalação da fábrica, por razões burocráticas. “Não faz sentido não se conseguir que um processo destes, em que está em causa um grande investimento estrangeiro na região e no país, não seja feito de uma forma expedita”, lamenta Pedro Ribeiro. O autarca sugere mesmo que se devia fazer uma reunião conjunta com todas as entidades envolvidas no processo para de uma vez por todas se esclarecer o que falta e tratar-se do que tem de ser tratado, “em vez de andarem em trocas de e-mails com perguntas e respostas”.
Pedro Ribeiro ressalva que se a empresa quando apresentou o projecto tivesse pedido a abertura de um furo de captação de água esse tinha sido licenciado e a fábrica já estaria a ser feita ou em funcionamento. O autarca refere que o projecto está dependente da Agência Portuguesa do Ambiente, que tem arrastado o processo, salientando que o que neste momento está em causa é o texto da decisão, porque se está a ver a forma jurídica de se licenciar um processo sustentável de utilização da água.