Projeto TomAC mostra potencial da Agricultura de Conservação na cultura do tomate
O consórcio de investigação TomAC, que reúne empresas do sector agrícola e do tomate, a Universidade de Évora e uma associação, promoveu uma visita de agricultores e técnicos ao campo de ensaio na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira. Os dados permitem verificar uma maior rentabilidade da cultura do tomate nos sistemas de produção em Agricultura de Conservação.
Agricultores, técnicos do sector agrícola e representantes de entidades oficiais participaram no Dia de Campo na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, onde estiveram no campo de ensaio das novas técnicas de produção de tomate. A iniciativa foi organizada pelos parceiros do projecto TomAC - Produção Sustentável de Tomate para Indústria através da Aplicação dos Princípios da Agricultura de Conservação. O consórcio é composto pelo Ag-Innov - Centro de Excelência do Grupo Sugal, o Grupo Sogepoc, a Syngenta, o MED-UÉvora (Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Évora) e a APOSOLO (Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo).
Os resultados obtidos até momento no campo de ensaio demonstraram o potencial da aplicação dos três princípios da Agricultura de Conservação, que são a mínima perturbação do solo; a cobertura permanente do solo com plantas ou resíduos e a rotação e diversidade de culturas na melhoria da sustentabilidade agronómica, ambiental e económica do sistema de produção de tomate de indústria. “A aplicação dos princípios da Agricultura de Conservação originou um aumento da produtividade de tomate comercializável de 17 a 35 toneladas por hectare face ao sistema convencional”, indica Ricardo Vieira Santos, investigador no MED-UÉvora. “E apesar do aumento nos custos, os sistemas em Agricultura de Conservação viram a sua rentabilidade aumentada, devido ao aumento da produtividade de tomate, o que indica que o acréscimo nos custos se traduziu num investimento”, explica o investigador.
O ensaio compara três sistemas de produção de tomate para indústria: o convencional (em monocultura, com mobilização intensa do solo e solo descoberto durante o Inverno); uma segunda modalidade com mobilização do solo apenas na linha da plantação de tomate (Princípio 1), e em que o solo é ocupado no período de Inverno com uma cultura de cobertura (Princípio 2); e uma terceira modalidade, em que além destes dois princípios de Agricultura de Conservação, é realizada rotação bienal de tomate com girassol ou milho (Princípio 3).
O consultor agrícola do grupo Sogepoc, líder nacional em produção de tomate de indústria, Pedro Pinho, salienta que “Portugal produz tomate de indústria em monocultura há mais de 20 anos, e com isso surgiram problemas que nos estão a dificultar o maneio da cultura. Através do projecto TomAC procuramos novas soluções, uma visão mais holística sobre a cultura e um olhar mais atento ao solo, que é o nosso maior activo”. “O nosso objectivo não é aumentar demasiado as produções, mas pelo menos mantê-las, e reduzir os custos, tendo a trabalhar para nós o solo, os microrganismos e as culturas de cobertura, juntos como ferramentas de apoio à produção”, acrescenta.
Para Ana Casimiro, gestora de coordenação de ensaios do Ag-Innov, o Centro de Excelência do Grupo Sugal, “a Agricultura de Conservação é actualmente um tema fulcral, visto que vivemos alterações climáticas constantes, escassez de recursos, e imposições políticas agrícolas que nos obrigam a olhar de forma diferente para as nossas culturas. Este projecto reúne um conjunto de possíveis soluções para estes desafios, sejam eles a nível de melhoramento da qualidade e estrutura do solo, redução de operações e acima de tudo procurar alternativas sustentáveis na prática da cultura do tomate de indústria que nos permitam de forma eficiente aproveitar ao máximo os nossos recursos”, realça.
“As nossas novas soluções biológicas, as novas ferramentas digitais como o InterraScan, integrado na nossa plataforma de agricultura digital – a Cropwise -, entre muitas outras, em conjunto com a aplicação de práticas de Agricultura de Conservação, permitirão ao agricultor garantir a sustentabilidade da sua actividade nas três vertentes económica, social e ambiental”, realça Felisbela Torres de Campos, responsável de sustentabilidade da Syngenta em Portugal. Gabriela Cruz, presidente da APOSOLO, alerta que “depois da aprendizagem que o TomAC nos revela, terá sempre que haver vontade dos produtores para a mudança, para adoptarem as práticas de Agricultura de Conservação”.