Economia | 10-10-2024 10:00

Projecto de cenouras bebés sai de Almeirim para Santarém por entraves à captação de água

Projecto de cenouras bebés sai de Almeirim para Santarém por entraves à captação de água
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Presidente da Câmara de Santarém, João Leite, com director geral da 52-Fresh, Yannick Le Mintier, no momento em que se acordou instalação da fábrica de cenouras bebés em Santarém. fotoDR

A fábrica de cenouras bebés da 52-Fresh vai ser construída em Santarém, onde a empresa conseguiu desbloquear os entraves que estavam a impedir a sua implementação em Almeirim. Os problemas relacionavam-se com limitações na captação de água, que não se verificam a norte do Tejo.

O projecto das cenouras bebés previsto para Almeirim vai mudar-se para Santarém, onde a empresa promotora conseguiu resolver a situação da captação de água, tendo já o pedido de aprovação prévia favorável para o licenciamento das captações de água para a zona de Pernes. O director geral da 52-Fresh, Yannick Le Mintier, enaltece o esforço feito pelo presidente da Câmara de Almeirim, Pedro Ribeiro, para tentar consolidar o projecto no concelho, que desenvolveu uma ideia inovadora de aproveitamento da água, mas as limitações provocadas pelas limitações nas captações de água a sul do Tejo e o arrastar do processo fizeram com que se tivesse que mudar a estratégia.
Neste momento a 52-Fresh está em condições de avançar com a fábrica que aguarda há anos por luz verde e que é a única fábrica na Europa, e a terceira a nível mundial. O investimento directo estrangeiro em Portugal constitui também uma oportunidade de diversificação e rentabilidade para os agricultores da região. O investimento de Interesse Nacional, é visto como um empreendimento estratégico de mais de 90 milhões de euros, que prevê criar 200 postos de trabalho e que vai promover uma importante diversificação em termos agro-industrial.
O projecto em Almeirim previa que a água captada para lavagem das cenouras fosse depois fornecida, gratuitamente, aos agricultores vizinhos, pela Alorna e pelo Casal Branco, para regar as culturas agrícolas, o que representaria também uma importante poupança energética. O presidente da Câmara de Almeirim disse em Julho a O MIRANTE que estava preocupado com o tempo que o processo estava a demorar por razões burocráticas da Agência Portuguesa do Ambiente.
Este projecto significa para a região a existência de produtos com valor acrescentado, assegurando aos agricultores preços estáveis, aproveitamento e pagamento da totalidade da produção e garantindo lucro por cada hectare produzido. A 52-Fresh é constituída por uma equipa de gestão e engenharia com três décadas de experiência na Califórnia e apostou em Portugal para replicar a sua actividade, com o objectivo de fornecer o continente europeu de uma forma mais rápida e eficiente. Na Europa não há fornecedor de cenoura bebé frescas durante todo o ano, “o que cria uma oportunidade enorme para Portugal acolher este projecto único”, sublinha o director geral da 52-Fresh, Yannick Le Mintier.

Presidente da Câmara de Almeirim, Pedro Ribeiro; empresário Yannick Le Mintier; administradora da AICEP, Madalena Silva, e secretário de Estado, Eurico Brilhante Dias, no dia da apresentação do investimento em Almeirim

Pedro Ribeiro critica inoperância, incompetência e organismos que nada resolvem

Presidente da Câmara de Almeirim, Pedro Ribeiro, diz que fez tudo o que podia para que a fábrica de cenouras bebés, um investimento de 100 milhões, ficasse em Almeirim onde os promotores já tinham adquirido 40 hectares de terreno. O autarca diz que lutar pelo mundo rural é lutar contra moinhos de vento, que há inoperância na gestão da água, que os organismos estatais nada resolvem e que parece que este é o país que as pessoas gostam de ter, revelando que foi o Governo que disse aos promotores para mudarem de concelho.

O presidente da Câmara de Almeirim considera que a não instalação da fábrica de cenouras bebés no concelho deve-se “à total inoperância e incompetência de anos e anos em não olhar para o problema da água”. Pedro Ribeiro critica o funcionamento dos organismos do Estado em projectos importantes para o território quando o município encontrou uma solução inovadora para garantir a neutralidade hídrica, para não haver desperdício de água, como forma de contrariar a proibição de se fazerem furos de captação a sul do Tejo. “Concentramos organismos, deixamo-los cada vez mais afastados e burocráticos e depois nada se resolve”, salienta o autarca.
Pedro Ribeiro, lembrando o empenhamento que teve ao longo de oito anos para garantir este investimento, aponta para a necessidade de se tomarem medidas, salientando que se anda há anos a falar do Alqueva do Ribatejo e da necessidade de mais barragens. “Se a agricultura usasse águas de superfície os aquíferos não estavam assim”, comenta, alertando que, pelo que sabe, este é o primeiro investimento que não se faz por falta de água. “Se nada se fizer será o primeiro de muitos”.
Pedro Ribeiro realça que a Câmara de Almeirim fez tudo o que podia, respondendo em 2016 ao que a AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal solicitou e ao que o promotor queria. O presidente recorda que a autarquia aprovou o projecto em tempo útil e que falou com todos os organismos com quem tinha de falar, sobretudo com a Agência do Ambiente. O autarca revela que na última reunião do promotor com o Governo lhe foi dito que do lado sul do Tejo não obtinha as licenças para os furos e que seria melhor mudar de concelho, reconhecendo que um investimento de 100 milhões de euros não pode ficar parado por uma licença.
A proibição do Governo de se fazerem furos a sul do Tejo tem vários anos e segundo o autarca não se espera que mude, lembrando que “ainda antes de ser proibido furar sugerimos e foi aceite que a água que seria usada para as lavagens das cenouras fosse aproveitada para as regas da agricultura. Realçando que não manda nem na chuva nem nas leis do Governo, o autarca lamenta a perda da fábrica, mas ressalva que do ponto de vista agrícola é indiferente a sua localização tendo em conta que os agricultores da zona de Almeirim irão produzir para a empresa. Explica ainda que foi com uma organização de produtores do concelho que se desenvolveram os vários estudos do tipo de cenoura a usar.
Em jeito de desabafo, Pedro Ribeiro salienta que os organismos do Estado “não querem saber de nada. Aprovem ou não para eles é igual”. O autarca diz que anda a “defender há anos o dito mundo rural, mas parece uma luta contra moinhos de vento. É o país que temos e parece que as pessoas gostam muito disso”. A finalizar, sublinha que “se houvesse regiões nada disto seria assim, basta olhar para Espanha, mas não se quer. Por isso estamos como gostamos, pelos vistos”.

João Leite considera histórica a conquista da fábrica de cenouras bebés

O presidente da Câmara de Santarém considera histórica a conquista da fábrica de cenouras bebés que estava prevista para Almeirim e que prevê criar 200 postos de trabalho. João Teixeira Leite, explica que foram desenvolvidos todos os esforços para garantir este investimento em Santarém, revelando que a Agência Portuguesa do Ambiente “já deu parecer favorável a diversos pedidos de informação sobre a viabilidade da actividade”. A empresa teve de desistir da localização de Almeirim, onde já tinha terreno, porque não conseguia autorização para a captação de água.
Segundo nota do município, o director geral da 52-Fresh, promotora do projecto, Yannick Le Mintier, destacou o trabalho da autarquia para a realização do projecto, salientando que desde o primeiro encontro, a capacidade do presidente de criar soluções proporcionou à Fresh 52 a confiança de que o investimento em Santarém seria bem acolhido”. João Teixeira Leite adianta que “os contratos de promessa compra e venda dos terrenos na freguesia de Pernes já foram assinados, numa área total de 50 hectares, dos quais 10 são do município e os restantes da Caixa de Crédito Agrícola de Pernes.
O presidente da câmara realça que vai continuar a promover Santarém, com foco na atracção de investimento privado, porque a criação de postos de trabalho “é o principal factor de desenvolvimento e crescimento de um território”.

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