Economia | 08-05-2025 10:00

Construção de complexo comunitário com fins religiosos abre polémica em Samora Correia

Construção de complexo comunitário com fins religiosos abre polémica em Samora Correia
Terreno comprado a particular por associação islâmica localiza-se junto aos bombeiros de Samora Correia, naquela que é a principal artéria da cidade

A compra de um terreno por uma associação islâmica com a intenção de instalar um complexo comunitário com fins religiosos está a gerar polémica em Samora Correia. A possibilidade de ali ser construída uma mesquita desencadeou críticas partidárias, uma petição contra o projecto e manifestações de intolerância nas redes sociais.

A eventual construção de uma mesquita em Samora Correia, no concelho de Benavente, está a agitar o debate político local, com acusações de falta de transparência e críticas ao executivo municipal de maioria CDU por parte de todos os partidos da oposição. Na reunião camarária de 5 de Maio, a vereadora do PSD, Sónia Ferreira, lançou críticas ao presidente da câmara, Carlos Coutinho (CDU), questionando-o sobre as garantias que terão sido dadas à comunidade islâmica. “Ninguém avança com um investimento destes sem garantias. Onde ficou a democracia?”, afirmou, sublinhando que todos os vereadores demonstraram reservas quanto à instalação de um eventual templo.
Também Milena Castro, vereadora independente que se demarcou do partido Chega, mostrou-se preocupada com a aquisição do terreno onde a mesquita poderá vir a ser edificada, enquanto Alexandra Teixeira, vereadora do PS, acusou a CDU de manter práticas políticas desajustadas. “Foi um erro político não exercer o direito de preferência na venda do terreno. Defendíamos a criação de um parque urbano naquele espaço”, disse.
Carlos Coutinho assegurou que, até à data, não deu entrada no município qualquer pedido de licenciamento ou informação prévia relacionado com a construção de uma mesquita em Samora Correia. O presidente da Câmara acusa a oposição de transformar o tema numa “arma de arremesso político”, apelando ao respeito e à verdade. “O povo da minha terra sabe receber. Somos uma terra sem ódio nem ofensa”, concluiu.

Preço do terreno mais baixo do que Lisboa justificou interesse
A associação Ahmadia do Islão em Portugal adquiriu um terreno urbano em Samora Correia, concelho de Benavente, para dotar um edifício de rés-do-chão já existente para fins religiosos, nomeadamente com a construção de uma mesquita. Segundo a escritura da venda do terreno, a que O MIRANTE teve acesso, o espaço foi adquirido a um particular por 300 mil euros. Durante o processo nenhuma entidade manifestou intenção de exercer o direito legal de preferência.
O documento, com data de 31 de Janeiro de 2025, indica que o terreno está situado na Avenida O Século, em Samora Correia, junto aos Bombeiros Voluntários, e é composto por edifício de rés-do-chão com uma área descoberta de 4.376 metros quadrados. O presidente da associação, Fazal Ahmad, afirma que pretende ali construir “um complexo ao serviço da comunidade, com uma biblioteca, uma sala de reuniões e um lugar para a prática de desporto, não só para muçulmanos, mas para toda a comunidade”.
Segundo o responsável, o projecto está ainda numa fase inicial. A escolha de Samora Correia deveu-se, explicou, à proximidade a Lisboa e aos preços dos terrenos, que “são mais baratos”. Fazal Ahmad sublinhou que a associação Ahmadia, com sede no concelho de Odivelas, está presente em Portugal desde 1987 e existe em mais de cem países. “Temos mesquitas em Espanha, França, Alemanha e Inglaterra. Somos uma comunidade pacífica que tem como objectivo divulgar uma mensagem de paz e amor”, afirmou.
Também uma petição intitulada “Contra futuras mesquitas no concelho de Benavente” reunia, até ao dia 6 de Maio, mais de dois mil e duzentos subscritores.

Todos contra mesquita, mas conheciam intenção há meses
O presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho (CDU), rejeita qualquer ligação à venda do terreno em Samora Correia e assegura que não há população muçulmana suficiente no concelho para justificar a construção de uma mesquita. A oposição, que se manifesta agora contra o projecto, admite ter tido conhecimento prévio da intenção da associação Ahmadia, debatida informalmente numa reunião camarária no último Outono.
O PS critica a maioria CDU por não ter exercido o direito de preferência sobre o terreno, onde pretendia criar um parque urbano, acusando a CDU de falta de visão estratégica. Já o PSD reitera que não faz sentido construir um templo onde não há fiéis para o frequentar. Também o Chega se pronunciou contra a eventual construção do templo, apelando à união para travar a iniciativa.

Associação apela à serenidade

A Associação Social Amigos de Samora Correia (ASASC) pediu serenidade da população. Em comunicado, a associação pede rigor na transmissão de informação e repudia discursos que “possam fomentar o ódio, a xenofobia e a divisão entre os samorenses”. Segundo a ASASC, o único dado factual até ao momento é a escritura de aquisição do terreno, onde consta a sua afectação a fins religiosos. No entanto, a própria escritura adverte que o imóvel “pode não dispor dos títulos urbanísticos para a sua utilização”.
A Associação Social Amigos de Samora Correia reforça o seu compromisso com a preservação da identidade cultural e da memória colectiva local, mas afirma-se igualmente contra qualquer movimento “intolerante” que contrarie “a hospitalidade e o sentir das gentes de Samora Correia”.

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