Já não há clima de paz na Sumol+Compal em Almeirim e contestação é cada vez maior

Trabalhadores acusam administração da Sumol+Compal, em Almeirim, de políticas salariais impostas e desiguais. O ambiente na fábrica de Almeirim tem piorado desde que a Compal foi vendida à dona da marca Sumol e há cada vez mais gente a protestar. Número de trabalhadores sindicalizados aumentou mais de 80 por cento.
O descontentamento dos trabalhadores da Sumol+Compal em Almeirim começou pouco tempo depois de a empresa ter sido comprada pela Sumolis (detentora da marca Sumol) e pela Caixa Geral de Depósitos, que entretanto saiu da sociedade, mas na última década o ambiente na fábrica tem-se degradado bastante. Os trabalhadores, que fizeram greve no dia 7, queixam-se de perda de regalias, dificuldades de diálogo com a administração, desigualdade salarial. A situação piorou ao ponto de os trabalhadores já terem feito várias greves, o que era quase impensável quando a empresa era apenas Compal. Para se notar a diferença nessa altura havia menos de 20 trabalhadores da fábrica sindicalizados e agora são mais de uma centena, revela Vítor Martins, funcionário e delegado do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Sectores Alimentar, Bebidas, Agricultura, Aquicultura, Pesca e Serviços Relacionados (STIAC)
Para Vítor Martins o que se está a passar é que parece que a fábrica está há mais de 12 anos sujeita à intervenção da troika em que os trabalhadores são pouco valorizados e com desigualdades entre mais antigos e mais recentes. O sindicalista refere que quem tem muitos anos de casa está praticamente a ganhar o mesmo do que quem entra agora. Um trabalhador da fábrica em 2011 ganhava cerca de 300 euros acima do ordenado mínimo nacional e actualmente a diferença é de 50 euros, o que revela a perda de poder de compra apesar de não serem conhecidos problemas financeiros na empresa. O sindicalista revela que o subsídio de refeição foi aumentado em 30 cêntimos, uma situação que considera ridícula.
O delegado sindical lembra que quando a Compal foi adquirida era uma empresa de sucesso com anos sucessivos de lucros e que havia um clima de paz na fábrica, o que já não acontece. Neste momento quase todos os gestores que vinham da Compal já não estão na fábrica, diz Vítor Martins. O delegado sindical diz que actualmente a empresa valoriza as pessoas nos sectores que estão a perder pessoas, como na área da manutenção, em que estão sempre pessoas a deixar a empresa. Noutros sectores, na área produtiva, como há mais trabalhadores antigos e onde as pessoas se mantém mais tempo ao serviço as carreiras não são valorizadas.
Vítor Martins acusa a administração de manter uma política salarial “imposta e desigual”. “Há trabalhadores com décadas de casa que não são valorizados”, sublinhou. Entre as exigências dos trabalhadores estão o aumento do salário base para 1000 euros, a valorização do subsídio de turno e de alimentação, o fim da disparidade salarial entre homens e mulheres e o direito a 25 dias úteis de férias. “É lamentável que, em pleno século XXI, ainda haja desigualdade salarial entre géneros nesta empresa”, frisou Vítor Martins.
Bruno Simões, trabalhador com mais de 30 anos de casa, aponta o desgaste do trabalho por turnos e defendeu a redução da idade da reforma para quem está nessas funções. De acordo com o sindicato, a adesão à greve foi significativa, embora não total. “Nem todos aderiram, mas a mobilização é muito boa”, indicou Vítor Martins, acrescentando que já estão marcadas novas greves para os próximos meses.