Mercadinho de Arruda voltou a abrir portas depois de muitos anos e obras atribuladas

Empreitada de requalificação do Mercadinho de Arruda dos Vinhos teve de enfrentar a falência do empreiteiro devido à paragem forçada pela Covid e depois um agravar do custo da empreitada devido à guerra na Ucrânia. A obra demorou, mas fez-se. Comerciantes esperam agora bons negócios.
A empreitada de requalificação do Mercadinho de Arruda dos Vinhos foi uma verdadeira “travessia do deserto” para a câmara municipal e apesar das múltiplas contrariedades ao longo de quatro anos, os trabalhos lá ficaram prontos e o espaço abriu ao público na quinta-feira da espiga, 29 de Maio, feriado municipal. Um momento que, para muitos, parecia impossível, lembrou o presidente do município, Carlos Alves (PS), no discurso de abertura. “Obrigado a todos os que nunca deixaram de acreditar que este lugar voltaria a ser um ponto de encontro. A vossa paciência, exigência e amor à terra foram sempre o que nos guiou para ir em frente”, afirmou.
Nesta nova etapa do mercado o autarca diz que o espaço marca agora a alma e a memória de Arruda dos Vinhos. “Isto foi mais do que uma mera requalificação, foi a promessa de honrar o passado sem deixarmos de olhar para o futuro. Foi a obra de mais difícil execução que tivemos até hoje. Pela complexidade técnica e os problemas que fomos tendo”, lembrou Carlos Alves.
A obra de adaptação do antigo mercado municipal da vila, recorde-se, andou a passo de caracol durante pelo menos seis anos - quatro deles praticamente parada - depois da empresa que inicialmente estava a fazer a obra ter entrado em insolvência. O projecto foi anunciado em 2018 e nesse ano apresentado aos comerciantes, prometendo revolucionar o conceito do espaço, adaptando-o aos tempos modernos, com zonas de refeição, fruição e lojas, além das tradicionais bancas do mercado e uma enoteca destinada a promover os vinhos de Arruda.
A obra foi inicialmente adjudicada por um valor a rondar os 200 mil euros, com quase metade do valor a ser co-financiado por fundos comunitários. Mas esse valor escalou após a pandemia para quase meio milhão de euros. Quando a firma que estava a realizar a obra abriu insolvência, essa circunstância obrigou o município a lançar novo concurso para tentar concluir os trabalhos.
Comerciantes esperam bons negócios
Depois de quatro anos com a banca de frutas temporariamente instalada nuns contentores junto da praça de toiros, Mónica Dias, comerciante do mercadinho, diz a O MIRANTE esperar que agora a comunidade adira ao espaço e o escolha para ali fazer as suas compras. “Sinto que felizmente as pessoas ainda vêm aos mercados. Não são apenas os mais velhos. O mercado ficou bonito e espero que mais gente possa vir”, refere, lembrando que apesar de tudo o negócio não corre mal em Arruda dos Vinhos.
Opinião semelhante tem a vizinha Graça Romano, que ali vende produtos biológicos a granel. Graça é de Oliveira de Azeméis, fez toda a sua vida na linha de Cascais e desde 2021 que escolheu viver em Arruda dos Vinhos com a família. Quando pensou abrir uma loja física candidatou-se à banca do mercadinho e foi aceite. “Uma das coisas de que tinha pena era Arruda, como meio rural, não ter um mercado a funcionar. Não fazia sentido. Acho que a obra ficou espectacular, o mercado está moderno e espero que seja um espaço que cative as gentes da terra para vir e tomar aqui um café”, defende.


Cinco largadas de toiros nos 500 anos das festas
No mesmo dia em que foi inaugurado o Mercadinho de Arruda foi também apresentado o programa das festas em Honra de Nossa Senhora da Salvação, que se realizam de 6 a 18 de Agosto. Este ano, recorde-se, a celebrarem os 500 anos. Para evocar a data, a apresentação do programa contou com a presença do pároco de Arruda, Diogo Correia, e do músico Pedro Abrunhosa, que vai ser o cabeça de cartaz dos festejos. “Estas festas são a celebração da nossa fé, identidade e da nossa tradição. Em Arruda as festas são união, comunhão, comunidade e isso é muito importante”, frisou Carlos Alves.
Este ano as festas terão cinco largadas de toiros e, como manda a tradição, terão música, momentos religiosos, tertúlias e a presença das associações da terra. Para Pedro Abrunhosa será “um privilégio” actuar nos 500 anos da festa. “Há qualquer coisa comum entre a celebração religiosa e a celebração da música. É a harmonia, pacificação, unidade, olhar para dentro. Quantos de nós, em situações problemáticas de perda de familiares ou separações, recorremos à música para consolo na solidão das nossas casas perante a ausência dos outros. O espectáculo que venho trazer a Arruda é de proximidade”, afirmou o músico, que voltou a condenar as guerras em curso em Gaza e na Ucrânia.