Azambuja CultFest é exemplo de dinâmica, trabalho de equipa e de espírito solidário

O recinto do Azambuja CultFest começa a ficar pequeno para a dimensão da iniciativa. São mais de quatro dezenas de expositores, a maioria de artesanato, num evento que alia a arte, o entretenimento, a gastronomia e o espírito solidário. É organizado pela Junta de Freguesia de Azambuja.
A vila de Azambuja voltou a receber o Azambuja CultFest, um festival que nasceu há apenas quatro anos mas que já conquistou um lugar de destaque na vida cultural da região. O que começou como uma iniciativa ousada da junta de freguesia é hoje um evento que mobiliza milhares de pessoas. Tem uma oferta cultural diversificada, dois palcos e mais de quatro dezenas de artesãos prontos a dar a conhecer a sua arte. Para além disto, a solidariedade tornou-se uma marca distintiva desta festa.
O artesanato é uma vertente fundamental do festival. Vítor Amaro, de 59 anos, regressou com as suas peças em pedra de xisto, um trabalho que desenvolve há mais de duas décadas. “É uma área que quer representar as nossas antiguidades e lembrar as nossas origens, desde as janelas às portas. Comecei como hobby, agora faço isto a tempo inteiro”, afirmou o artesão. Susana Metelo, de 49 anos, apresentou o Crochet das Lezírias no evento. Embora trabalhe como administrativa, aprendeu a técnica aos seis anos e nunca a largou. “O CultFest também é isto, é uma oportunidade de partilha, de mostrar aquilo que nos liga à terra”, afirma a O MIRANTE.
Mas o festival é muito mais do que artesanato. É também o resultado de um enorme esforço colectivo. São principalmente quatro os responsáveis pela organização do evento: Joana Silva, Ângela Inácio, Nuno Carapinha e André Salema, presidente da Junta de Freguesia de Azambuja. A dimensão que atingiu exigiria, à partida, uma estrutura muito maior. Ângela Inácio, secretária executiva da junta, descreve o processo como “um trabalho de muito esforço e um bocadinho de loucura”, sublinhando que, apesar de cada um ter a sua área definida (no seu caso, artesanato, catering e estadias) todos acabam por se envolver e tratar do que é necessário.
A tesoureira, Joana Silva, vai mais longe, lembrando o modo como o festival tem crescido ao longo dos anos. “Olhar para trás e ver aquilo que temos hoje em dia é quase absurdo, porque realmente tivemos um salto gigante. A cada edição fazemos uma reflexão, apontamos o que pode ser melhorado e vamos implementando mudanças de forma sustentável”, refere.
Para Nuno Carapinha, director do festival e apontado pelos colegas como a “força matriz” do CultFest, a chave está no planeamento antecipado. “Começamos a trabalhar a edição seguinte logo em Outubro. Sermos quatro é pouco, mas cada um sabe exactamente o que tem de fazer.” O presidente da Junta de Freguesia, André Salema, reforça esta ideia, lembrando que tudo é feito “por pessoas da casa”, desde a angariação de patrocinadores até à montagem do recinto, que demora várias semanas a preparar.
Apesar de todos os desafios logísticos e financeiros, a essência do CultFest passa por um princípio que nunca foi esquecido: a solidariedade. Desde a primeira edição, parte das receitas reverte para instituições locais. Já foram apoiados os Bombeiros Voluntários de Azambuja, a Santa Casa da Misericórdia e o Centro Social e Paroquial de Azambuja. Este ano, a escolhida foi a CERCI – Flor da Vida, que presta apoio a pessoas com deficiência. Para Joana Silva, esta dimensão solidária é fundamental para garantir a essência do festival. “Não nos faria sentido existir o CultFest sem esta componente de proximidade com a comunidade”, realça.
O impacto na vila é visível, não apenas pelo dinamismo cultural que traz mas também pelo movimento económico que gera. Restaurantes, alojamentos e comércio local beneficiam da presença dos visitantes, artesãos e bandas. Contudo, os desafios são muitos. O financiamento continua a ser um grande obstáculo, uma vez que obriga a organização a recorrer à criatividade para montar um festival de três dias com mais de 15 bandas, street food e dezenas de artesãos, com um orçamento limitado. “é um desafio financeiro enorme, mas ao mesmo tempo obriga-nos a sermos criativos”, confessa Nuno Carapinha. Ângela Inácio alerta para outro problema: a falta de um espaço físico que dê resposta à dimensão que o festival está a ganhar: “tínhamos capacidade para 40 bancas de artesanato, este ano conseguimos 44, mas o recinto começa a ficar pequeno.” Já o presidente André Salema destaca a logística como o maior entrave: “a montagem demora várias semanas e exige um trabalho intenso de toda a equipa.”
Apesar de tudo, o saldo é positivo, de acordo com os quatro organizadores do festival, que no ano passado contou com cerca de sete mil pessoas. Este ano, a expectativa foi superar esse número. O orgulho é partilhado não só pela organização, mas também pela comunidade, que vê no CultFest uma oportunidade de ter acesso a cultura que não costumava estar tão presente na Azambuja.