AgroAlpiarça com a cabeça no cepo
Tribunal de Contas já alertou que a cooperativa agrícola, em que a Câmara de Alpiarça detém quase todo o capital, não pode ter prejuízos três anos seguidos. A extinção da AgroAlpiarça ganha cada vez mais consistência.
O Tribunal de Contas já avisou a Câmara de Alpiarça que se a AgroAlpiarça tiver três anos consecutivos de prejuízo tem que encerrar a cooperativa. A informação foi dada pela presidente do município, a socialista Sónia Sanfona, na última sessão da assembleia municipal. Os eleitos da bancada da CDU, nomeadamente o ex-presidente do município, Mário Pereira, discorda “em absoluto” com a eventual extinção da cooperativa. “Quando iniciámos o nosso mandato a AgroAlpiarça tinha um passivo de 1,5 milhões de euros e as contas foram sempre melhorando até à pandemia, altura em que as contas pioraram, como é lógico”, reforçou Mário Pereira, acrescentando que o executivo socialista não está a tentar “arranjar uma solução” para a AgroAlpiarça.
Sónia Sanfona reforçou que já reuniu com o Revisor Oficial de Contas e juristas e a opinião foi unânime: da forma como está, a AgroAlpiarça não tem viabilidade ao longo dos próximos anos. “É cavar um buraco que não faz sentido continuar a cavar. As rendas das terras que estão arrendadas dão um total de cerca de 65 mil euros, valor que não chega para tornar a AgroAlpiarça uma cooperativa viável”, disse.
A presidente da câmara explicou que ainda não foi tomada nenhuma decisão e que só o vão fazer depois do apuramento das próximas contas. “Queremos decidir com todos os factos em cima da mesa”, reforçou. Como O MIRANTE noticiou, em Setembro passado, a cooperativa Agroalpiarça – Produção Agrícola, onde a Câmara de Alpiarça tem posição maioritária, registava uma dívida total a rondar os 827 mil euros no final de 2021 e corre o risco de ser extinta. A presidente do município informou que tem recebido do Tribunal de Contas um conjunto de “alertas e exigências de cumprimento” de normativos legais em relação à situação da AgroAlpiarça.
A única medida tomada até agora foi vender as uvas e a própria vindima à entidade que arrematou a compra das uvas. “Existia a impossibilidade de conseguir fazer face às despesas com a vindima deste ano sem recorrer a financiamento bancário, porque não havia liquidez para as despesas normais com a vindima, por isso o executivo avançou com a alienação das uvas. Decidimos não fazer vindima este ano para não endividar ainda mais a AgroAlpiarça”, explicou Sónia Sanfona. “Qualquer decisão que venha a ser tomada terá em conta a defesa da Câmara de Alpiarça. Estamos a analisar todos os dados para tomar uma decisão justa, correcta e que vá ao encontro dos interesses dos município”, acrescentou.
A Câmara de Alpiarça detém 99,87% do capital da cooperativa. A AgroAlpiarça comercializa vinhos brancos, tintos, rosés e licorosos regionais e azeite. Tem mais de 250 hectares de terra no concelho de Alpiarça, doados na sua maioria por José Relvas que, além de proclamar a independência da República portuguesa a 5 de Outubro de 1910, era um grande proprietário agrário.