Menos produtores e cebola mais pequena no tricentenário da FRIMOR em Rio Maior
A FRIMOR – Feira Nacional da Cebola – que decorreu de 1 a 4 de Setembro em Rio Maior, comemorou 300 anos, mas os tempos não estão para festas. Nesta edição o certame contou com apenas 19 ceboleiros, menos nove do que no ano passado, e os poucos que ainda resistem queixam-se dos males que afectam o negócio: a seca, que fez encolher o tamanho das cebolas, e a subida de preços das matérias-primas que está a asfixiar a produção.
A FRIMOR – Feira Nacional da Cebola – que decorreu de 1 a 4 de Setembro em Rio Maior, comemorou 300 anos, mas os tempos não estão para festas. Nesta edição o certame contou com apenas 19 ceboleiros, menos nove do que no ano passado, e os poucos que ainda resistem queixam-se dos males que afectam o negócio: a seca, que fez encolher o tamanho das cebolas, e a subida de preços das matérias-primas que está a asfixiar a produção.
Com apenas dois meses de vida, Tomás é o mais jovem ceboleiro da FRIMOR – Feira Nacional da Cebola – que, em 2022, celebra vetustos 300 anos. Ao colo da mãe, Elisabete Martins, encarregue da banca do negócio familiar fundado pelo sogro, o bebé resguarda-se do aperto de mão da praxe do presidente da Câmara de Rio Maior, Filipe Santana Dias, na inauguração do certame, mas também das ameaças à produção que apoquentam os demais ceboleiros.
Entre os 19 ceboleiros que este ano garantiram lugar no maior evento nacional dedicado à divulgação e venda de cebolas, menos nove do que em 2021, não houve um que não reclamasse a O MIRANTE das consequências da seca e do calor que têm assolado o país. Por causa da falta de água e das temperaturas demasiado altas fora de tempo, “as cebolas estão mais pequenas e houve menos quantidade, a produção foi mínima”, reclama Manuel Vicente, presença assídua na feira desde há 53 anos.
A apreensão é partilhada por Armindo e Fátima Marques que se orgulham de vir à feira desde tenra idade. “O negócio está mau, a cebola está muito miúda e não temos hipótese de a regar, os poços estão secos”, lamentam apontando igualmente o dedo às matérias-primas cada vez mais caras.
“Isto já não compensa”, lastima Manuel Vicente, preocupado com as contas do negócio, sempre a subtrair. Adubos e pesticidas “subiram para o dobro”, assim como os custos com os combustíveis, mas os aumentos não se têm reflectido no preço de venda das cebolas, que se manteve “praticamente inalterado” desde o último ano, assegura o ceboleiro.
“Até o custo das sementes duplicou” nos últimos cinco a seis anos, completa ainda Elisabete Martins queixando-se de que os clientes fogem dos preços mais elevados face aos que encontram nas grandes superfícies. “As pessoas dizem que nos supermercados compram a cebola a 30 ou 40 cêntimos por quilo, mas esquecem-se que a cebola é espanhola”, acusa. A qualidade também não se pode comparar, avisa Maria do Céu Silva, ceboleira que conduz o negócio familiar com mais de 60 anos. “Temos estado a vender a 90 cêntimos o quilo, mas as cebolas que vendemos aqui não se encontram nos supermercados! Ainda há pouco tempo lá fui e vi cebolas muito piores, a 1,39 euros o quilo”, remata.
As contrariedades crescentes na produção da cebola não afastam só quem compra, reconhece ainda Carlos Leal, que se ajeita para a fotografia, na banca, junto aos netos. Matilde, com 13 anos, gosta de fazer companhia ao avô na feira, mas não se vê a perpetuar a tradição familiar. “O negócio não está fácil e não há sucessores para lhe dar continuidade, nem outras pessoas que queiram trabalhar neste ramo”, conclui o ceboleiro.
Colaboração a Oeste
Alheia aos lamentos de novos e velhos ceboleiros, a festa, que na FRIMOR se compõe, cada vez mais, com a presença de empresas de outros sectores, como admitiu Filipe Santana Dias, na cerimónia de abertura, prosseguiu com a inauguração de um monumento evocativo dos 300 anos da antiga Feira de Setembro, junto ao Pavilhão Multiusos de Rio Maior. Já dentro do pavilhão, longe da cebola gigante, mas dentro do espírito da arte ceboleira “que também une os dois concelhos”, os municípios de Rio Maior e de Caldas da Rainha reforçaram a cooperação institucional através de um protocolo de colaboração assinado por Filipe Santana Dias e o seu homólogo caldense, Vítor Marques. Segundo o presidente da Câmara das Caldas da Rainha o acordo é uma oportunidade para os dois municípios e as respectivas regiões “unirem esforços” para combaterem os problemas e evidenciarem as mais-valias que têm em comum.