Economia | 09-08-2022 12:00

“Santarém é procurada por famílias que fogem aos custos de Lisboa”

António D’Avó fundou a Cred & Casa em Maio de 2021 quando fez seis anos de experiência no sector imobiliário

António D’Avó, 56 anos, é director executivo na Cred & Casa, agência de mediação imobiliária e intermediação de crédito. Nascido em Amiais de Baixo, reside actualmente em Santarém, cidade que diz estar a ser cada vez mais procurada devido ao custo de vida nos grandes centros urbanos. Valoriza a honestidade, diz-se cansado de politiquices e alerta para a quantidade de imóveis em ruínas na cidade, que precisa de uma estratégia global para atrair investimento.

Os preços elevados do arrendamento têm levado ao aumento da procura de casa para comprar. Arrendar um T3 na cidade de Santarém provavelmente já não se faz por menos de 700 euros, quando a média de vencimentos líquidos não é muito superior a 800 euros. É quase o ordenado de uma pessoa só para pagar a renda de casa.
Santarém precisa urgentemente de mais investimento no sector imobiliário. Mas estar numa zona agrícola de elevada importância para o país e ter o Tejo a definhar torna difícil atrair grandes investimentos. A criação de mais oferta imobiliária depende deles, tal como depende de obras estratégicas que atraiam os investidores a criar pólos habitacionais.
Se perguntarmos aos políticos locais o que esperam de Santarém, o mais provável é que não saibam dizer. Falta uma estratégia global e uma política concertada para a cidade capaz de captar investimento. Se Santarém se posicionar como dormitório de uma grande cidade nunca vai ter uma população estabilizada. Quem se serve de uma cidade apenas para dormir depressa se muda consoante as oportunidades.
Sempre gostei de política mas começo a detestar políticos. Entre o que dizem e o que fazem vai uma diferença abismal. Depois temos a mediocridade, as palmadinhas nas costas e os arranjinhos. Há quem continue a achar que o importante é parecer, eu continuo a dizer que o importante é ser.
Enquanto pessoa tenho dois princípios básicos: respeito pelo outro e a honestidade. Nos outros, a hipocrisia é o que mais me aborrece. Já fui enganado por um cliente que falhou no momento da escritura. Foi a excepção, porque dos negócios que tenho feito, por norma, nascem amizades.
Na Cred & Casa trabalhamos com mediação imobiliária e intermediação de crédito, duas áreas que conjugadas trazem vantagens para o cliente. Aconselhamento, avaliação e acompanhamento grátis e verificação da viabilidade do processo. Trabalhamos com honestidade e fazemos questão de estar presentes em todos os momentos para auxiliar o cliente, até mesmo na escritura.
Santarém está a ser procurada por famílias que fogem ao custo de vida exorbitante de Lisboa. Quem compra casa cá e fica a pagar entre 500 a 600 euros de empréstimo pagaria o mesmo pelo arrendamento de uma casa com muito poucas condições em Lisboa. Mesmo se olharmos para a periferia, em Alverca há apartamentos T3 a rondar os 400 mil euros. Com esse valor ainda se compra uma pequena quintinha em Santarém.
Imóveis degradados, alguns a ameaçar ruir, numa cidade são o resultado da desertificação. A sede de atrair as pessoas para os grandes centros levou a que isto acontecesse. Em Santarém basta olhar para o centro da cidade ou para a Ribeira de Santarém, que ainda tem o senão de ter uma linha de comboio e uma estação sem condições ao meio.
É degradante olhar para o Tejo, mas quando tinha água Santarém nunca o soube aproveitar. Fez-se zero para fomentar uma actividade ribeirinha ou para atrair jovens para junto do rio com a construção de bares, por exemplo.
As melhores memórias que guardo da minha infância são os jogos de futebol que fazíamos entre os bairros de Amiais de Baixo, onde nasci. Sorrio sempre que me lembro que a caminho da escola, em Alcanena, aproveitava para roubar peças de fruta pelo caminho.
Faz-me confusão como é que hoje há tantos alunos de 20. Considero que fui um bom aluno, que teve um percurso linear. Licenciei-me em Economia, no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, mas a minha vida profissional acabou por se fazer na área da gestão.
Uma terra que quer ser conhecida como a Capital do Gótico não pode ter os seus monumentos mal preservados. A ideia que tenho é que o pouco turismo que há é de passagem. Os autocarros param, as pessoas vão até às Portas do Sol e vão-se embora sem gastar cá um cêntimo. Não é isto que se quer. Santarém se calhar tem muito pouco de capital de distrito. Tomar, por exemplo, é muito mais interessante a vários níveis.
Não podemos continuar com uma inflação destas durante muito tempo, mas para já ainda não sabemos quando vai parar. A subida da taxa de juros ainda não é alarmante, o problema é que durante sete anos as pessoas habituaram-se a taxas muito baixas e houve casos em que os créditos foram aprovados no limite. É possível que esses comecem a ter problemas.
Sou um pai que nunca foi capaz de dar uma palmada, para mim não é assim que se educa. Sou casado há 31 anos e tenho duas filhas, de 29 e 21 anos. Gosto de conhecer novos países. Não gosto de fazer compras, por isso, passados dez minutos num centro comercial já me quero ir embora.

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