Gerar debate sobre a construção de uma Santarém mais desenvolvida
João Carvalho é Delegado Distrital de Santarém da Ordem dos Engenheiros
Falar do sector da construção pode e deve ser feito através de alguns vectores, tais como: território, alterações climáticas, legislação e o imobiliário. Com este artigo gostaria de gerar debate sobre a estratégia para o desenvolvimento do nosso ambiente urbano.
Território
O território na vertente urbana, nos próximos anos deve ser a componente mais importante para a transformação da cidade e das freguesias. Da mesma forma que a Expo 98 foi a âncora para a transformação do território ribeirinho da grande área metropolitana de Lisboa também as grandes infra-estruturas que vão arrancar nos próximos anos são o impulso que temos de aproveitar para reinventar o futuro.
O TGV e o aeroporto vão mudar a paisagem e criar novas centralidades. No caso particular de Santarém a localização que for escolhida para o novo Aeroporto vai naturalmente condicionar a deslocalização da estação. Penso que é razoável adicionar o TGV, o aeroporto e a ligação a Espanha (em particular) e à Europa (no global).
Temos bastante território, com preços mais acessíveis dos terrenos que grande parte do território nacional, o que é naturalmente uma mais-valia. Mas temos de assumir a responsabilidade de pensar esse mesmo espaço com visão de futuro criando novas urbanizações inseridas em espaços verdes, nas imediações de parques urbanos, como infra-estruturas não só dedicadas à prática de desporto mas também ao convívio inter-geracional que potenciem estilos de vida mais saudáveis.
Perante todas estas alterações é inevitável a ligação de Santarém (planalto) à Ribeira de Santarém, Alfange e Caneiras. E não podemos esquecer o centro histórico.
Alterações climáticas
Só com uma nova arquitectura do espaço da cidade podemos ter uma diminuição da temperatura máxima. Por isso é fundamental a criação de espaços verdes com arvoredo e ter particular atenção ao posicionamento e orientação das edificações, sem esquecer as varandas e com elas o aumento dos vãos de janela. Só desta forma podemos aproveitar o sol para reduzir os consumos de energia.
Legislação
Grande parte do orçamento das autarquias está baseado nas taxas do urbanismo e este assenta em tipologias quando, na realidade, a construção para ser sustentável tem de ser eclética, dinâmica e facilmente alterável na sua vida útil.
Julgo que temos de evoluir para a classificação por m2, ou seja, cada um, dentro das regras urbanísticas existentes, usa o espaço como pretende, ou seja, a mesma área pode ser um T2 ou um T3, com diferente número de instalações sanitárias, a existência ou não de despensa e variar durante o tempo de vida útil do imóvel. O mesmo se passando na dimensão das varandas mantendo, no entanto a estética exterior respeitando assim os direitos de autor.
Temos ainda de mudar a mentalidade dos habitantes das cidades dando cada vez menos prioridade ao automóvel.
Imobiliário
A escassez de novos fogos de habitação contribui para o aumento do valor da construção por m2 e leva muitas pessoas a afastarem-se das áreas metropolitanas. Como nem tudo é negativo esta situação está a aumentar a procura de imóveis nas freguesias onde a qualidade de vida e os serviços disponibilizados pelas juntas de freguesia são de extrema importância para esse acontecimento.
Uma nota final: qual o contributo de cada um de nós, no nosso espaço temporal, exercendo a democracia ou a cidadania para a construção de uma Santarém mais desenvolvida? Talvez valha a pena pensar nisso.