Especiais | 05-07-2023 21:00

Lúcio dos Santos é campino há 67 anos em Vila Franca de Xira

Lúcio dos Santos é campino há 67 anos em Vila Franca de Xira
ESPECIAL COLETE ENCARNADO
O campino Lúcio Isidro dos Santos vai ser homenageado no Colete Encarnado

Com mais de 67 anos dedicados à arte de manear o gado bravo o campino Lúcio Isidro dos Santos vai ser homenageado na Festa do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira. Uma vida dura mas de muitas alegrias e que deixa saudades, disse em entrevista a O MIRANTE.

Lúcio Isidro dos Santos, natural de Benavente, passou toda a vida no campo e nunca imaginou fazer outra coisa. O amor aos animais e à arte da campinagem já veio de família quando começou a acompanhar o pai aos cinco anos. Já a mãe lhe dizia que se não o tivesse parido pensava que tinha nascido no meio das vacas. Com mais sete irmãos, um deles campino, a vida na altura era dura e ganhava-se pouco.
O campino estudou até à terceira classe mas como não gostava da escola começou a trabalhar aos nove anos numa ganadaria em Vila Franca de Xira. Mais tarde trabalhou com o pai na ganadaria Rafael Mendes Calado, em Benavente, onde começou a ganhar o gosto em manear o gado bravo.
Só interrompeu a campinagem para cumprir 28 meses de serviço militar obrigatório, aos 22 anos, na guerra do Ultramar. Quando foi para Angola, a esposa, que na altura era namorada, receou que já não voltasse. “Felizmente voltei da guerra sem mazelas físicas. Nunca dispararam contra nós em Angola, nem um tiro. Tivemos sorte”, recorda a O MIRANTE.
Depois da tropa casou e agarrou a primeira oportunidade de trabalho que teve em Vale de Figueira, Santarém, na coudelaria de Gustavo Zenkl. O trabalho era pesado. Dia e noite. Lúcio Santos teve medo de morrer de cansaço em cima de um cavalo. Decidiu mudar de vida até porque gostava mais de lidar com touros do que com cavalos. O irmão arranjou-lhe trabalho a acompanhar a vacada brava do patrão Alberto Cunhal Patrício, onde também estava empregado. Daí foi para Évora, com a esposa e o filho de dez meses. Dois anos depois, na altura das ocupações, saiu do Alentejo para Coruche com uma filha bebé nos braços. Foram 30 anos ao serviço da ganadaria Cunhal Patrício, famosa nos anos 60 e 70. O campino correu as praças de toiros de Espanha e França, além de algumas praças portuguesas, como as de Almeirim, Campo Pequeno, Santarém e Vila Franca de Xira.
O maior susto que apanhou foi a 22 de Fevereiro de 1972, ainda no Alentejo. Foi atacado por um touro pelas costas quando tentava ajudar um bezerro que caiu numa vala. Agarrou-se aos cornos do animal enquanto um colega agarrava no rabo. O touro acabou por cair e correram o máximo que puderam. Escapou sem mazelas mas mentiu à esposa quando chegou a casa cheio de lama. Disse que se tinha sujado a dar de comer aos bezerros porque tinha chovido.

Os campinos hoje contam-se pelos dedos
Reformou-se aos 76 anos mas continuou nas lides até aos 80 anos. Só deixou de trabalhar porque, a descarregar fardos de palha de um camião, caiu-lhe um fardo em cima. Partiu sete vértebras e teve de ser operado. Mas como ficam muitas saudades confessa que de vez em quando ainda dá uma ajuda quando lhe pedem. “Para ser campino é preciso ter gosto e ter a cabeça a funcionar. Saber que para cumprir com o nosso trabalho não estamos disponíveis para outras coisas. São dias e até noites fora de casa. Mas as recordações são imensas. Quando ia para Espanha era uma alegria”, conta.
Lúcio Santos acha que a tendência é para os campinos acabarem. Quando vai às festas de Santarém, Benavente, Coruche e Vila Franca de Xira conhece as pessoas todas e diz que os que são campinos contam-se pelos dedos. Aparecem 50 vestidos a cavalo e vestidos a preceito mas só para desfilar na ocasião. Na verdade campinos são sete ou oito, “o resto são pedreiros”. Em Benavente diz mesmo que já não existe nenhum campino.
Aos 83 anos, e com décadas de maneio do gado bravo, Lúcio Isidro dos Santos vai ser reconhecido pelos seus pares a 1 de Julho na Festa do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira. Uma notícia que o deixou contente e que foi acompanhada com a mesma felicidade pela esposa, filhos, sobrinhos e netos.

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