Especiais | 28-09-2023 10:00

A história secular da Feira de Outubro em Vila Franca de Xira

A história secular da Feira de Outubro em Vila Franca de Xira
ESPECIAL FEIRA DE OUTUBRO
Graça Nunes e David Santos apresentaram um colóquio sobre o campo da feira e a rua do cais em Vila Franca de Xira

Quando começou a feira anual de Outubro em Vila Franca de Xira? O que se vendia? Onde se realizava? Estas e outras curiosidades históricas foram respondidas num colóquio realizado no museu municipal. A feira está de volta de 29 de Setembro a 8 de Outubro.

É difícil imaginar na actualidade os toiros das esperas da Feira Anual de Outubro em Vila Franca de Xira atravessarem as ruas sem quaisquer tronqueiras a separar os toiros dos feirantes e visitantes, mas era precisamente isso que acontecia há cerca de um século na Feira Anual de Outubro de Vila Franca de Xira.
De 29 de Setembro a 8 de Outubro está de volta a Feira de Outubro em Vila Franca de Xira, que inclui também a 42ª edição do Salão de Artesanato. O MIRANTE aproveitou a ocasião para conversar com Graça Nunes, historiadora do Museu Municipal de VFX, e desvendar algumas curiosidades sobre a origem deste popular certame que anualmente atrai milhares de pessoas à cidade, durante um colóquio integrado na exposição “VFX - Imagens em Movimento” realizado no museu municipal na noite de sábado, 23 de Setembro.
Os primeiros registos da realização de uma feira anual em Vila Franca de Xira datam de 1675 quando um cronista espanhol se referiu a uma grande feira franca, com a curiosidade de todo o comércio dessa feira estar isento do pagamento de impostos à coroa, o que a tornava muito popular. Na altura era o gado o principal produto transacionado chegando progressivamente nos anos seguintes outros produtos oriundos das lezírias como o pão, os legumes e os cereais, com as roupas e as sedas a chegarem uns anos mais tarde. Ainda não existia praça de toiros (apenas o chamado campo das faenas) e a feira realizava-se entre a igreja das Mercês (hoje igreja do cemitério) e o Celeiro da Patriarcal.
“Foi no reinado de D. João I que a feira teve o seu grande desenvolvimento passando a ser uma feira muito concorrida e por volta de 1759 as memórias paroquiais já davam conta de começarem a aparecer cobradores de impostos na feira”, recordou com um sorriso Graça Nunes. À época as barracas com petiscos já eram uma atracção para os visitantes, como hoje acontece, sendo que na altura os mexilhões e as iscas eram os pratos mais servidos. Tal como hoje os historiadores referem que a feira já era economicamente muito importante para Vila Franca de Xira havendo até registos de quem alugava casas a preços inflacionados para quem vinha por esses dias à cidade mostrando que algumas coisas nem sempre mudam.
“As feiras eram os centros comerciais da altura. A partir de 1901 começaram a aparecer algumas barracas de teatro e alguns divertimentos para chamar clientes e fazer frente à vizinha feira do Campo Grande que começou a fazer uma elevada concorrência a Vila Franca de Xira”, explica a historiadora. Em 1917 a feira chegou a ter 22 barracas de feirantes.

A polémica com mudança de local
Por volta de 1918 a feira teve de mudar para o local que hoje conhecemos por motivos de segurança. “Não era viável ter os toiros a atravessar junto aos feirantes e visitantes mas mesmo assim muita gente contestou essa mudança”, explica a historiadora. A compra e venda de gado era o principal negócio na altura e, segundo a responsável, Vila Franca de Xira foi pioneira no país a vender as primeiras máquinas agrícolas e industriais. “Foi em Vila Franca de Xira que se ensaiou pela primeira vez, na Companhia das Lezírias, as primeiras máquinas agrícolas pesadas”, conta.
A partir dos anos 60 a feira assumiu o figurino actual havendo anos em que a feira era apenas comercial dando depois, lentamente, lugar ao entretenimento com jogos e diversões. “Esta é ainda hoje uma das poucas feiras que conjuga artesãos com feirantes. Essa parte tem crescido e os entretenimentos têm diminuído. Agora é a gastronomia a assumir maior relevância”, afirma David Santos, responsável do Museu do Neo-Realismo, que também falou no colóquio sobre a importância histórica da Rua do Cais.
Apesar dos anos passarem a feira continua a ser um factor importante de dinamismo económico e social do concelho, tal como sempre foi no passado, destacou também o presidente do município, Fernando Paulo Ferreira, na apresentação do certame deste ano. “O que queremos é que as pessoas venham à cidade e se divirtam em segurança”, apelou.

Seis dias de esperas

Este ano, devido ao feriado de 5 de Outubro, haverá seis dias de esperas de toiros pelas ruas. Começam sábado, 30 de Setembro, pelas 16h30, e prosseguem de 1 a 5 de Outubro sempre às 10h30. Estão também agendadas três corridas de toiros. Uma corrida mista dia 1 de Outubro, às 17h00, com os cavaleiros Miguel Moura e Luís Rouxinol Jr e os matadores Manuel Dias Gomes e Joaquim Ribeiro “Cuqui” pegando os forcados de Évora e Vila Franca de Xira. Para terça-feira, 3 de Outubro, às 22h00, tem lugar uma corrida de cinco cavaleiros da dinastia Ribeiro Telles, com António Ribeiro Telles, Manuel Telles Bastos, João Ribeiro Telles, António Ribeiro Telles filho e Tristão Telles Queiróz. Pegam os forcados de VFX. Para 5 de Outubro, feriado nacional, a corrida mista está agendada para as 17h00 com Rui Fernandes e João Ribeiro Telles e os matadores Morante de La Puebla e Alejandro Talavante, pegando os forcados de VFX e do aposento da Moita. Sábado, 7 de Outubro, pelas 22h00, tem lugar um espectáculo de recortadores.

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