“Se não levarmos a sério as mudanças climáticas há risco de uma crise alimentar”
João Gregório, Engenheiro Agrónomo da Borrego Leonor & Irmão, gostaria de uma Feira Nacional de Agricultura com uma componente mais técnica.
A agricultura e os agricultores não são suficientemente valorizados pela sociedade. Essa é a constatação feita por João Gregório, Engenheiro Agrónomo da Borrego Leonor & Irmão SA, em Almeirim, uma das mais importantes empresas ligadas ao sector agrícola. E deixa o alerta.
“Todas as profissões são importantes e acho que hoje dá-se como adquirido a comida em quantidade e diversidade em prateleiras de supermercados para os consumidores. Mas se não levarmos a sério as mudanças climáticas e não virmos o sector primário como algo fundamental corremos riscos na Europa de termos uma crise alimentar a curto/médio prazo”.
O que vai faltando para já nos supermercados são alguns produtos nacionais, como constata João Gregório. “Normalmente tento comprar produto nacional, mas às vezes não é fácil pois os supermercados nem sempre têm produto nacional disponível para venda ou o preço é excessivo.” Isto acontece essencialmente por duas razões: A primeira deve-se ao facto dos preços exigidos pelo mercado não pagarem os custos de produção, a segunda é porque é permitido importar produtos alimentares de outras regiões, em que os mesmos são produzidos sem quaisquer regras a que a Europa está obrigada.
A Borrego Leonor & Irmão SA, com sede em Almeirim, é uma empresa familiar que contribui para a evolução da agricultura sendo líder na comercialização de factores de produção para a agricultura e uma das melhores da Península Ibérica.
O engenheiro refere um exemplo de serviços prestados pela empresa. “Na actividade que desempenhamos, além do apoio comercial e técnico junto dos nossos clientes, também disponibilizamos em todos os nossos balcões as previsões meteorológicas da semana como modelos de previsão de míldio, alternaria e oídio nas principais culturas da região”.
A propósito da intenção da União Europeia, de redução dos pesticidas na agricultura em 50 por cento até 2034, salienta que todos os profissionais do sector entendem a necessidade da redução, mas ao mesmo tempo há que ter em conta que a população não pára de aumentar e que os produtores para sobreviverem precisam de tirar rendimento das culturas que instalam.
“Deve-se procurar um compromisso entre quem consome, quem produz e quem vende o produto final, para que possamos produzir melhor, com maior segurança, mas com rendimento para os que produzem e fazem os investimentos”, refere.
Questionado sobre se trocaria o novo aeroporto pela regularização do Rio Tejo, João Gregório responde apenas, que equipara em termos de importância a construção da barragem do Tejo e estruturas auxiliares de regadio, às grandes obras anunciadas. Lamenta por isso que esta obra não esteja em discussão pública na ordem do dia.
Sobre a Feira Nacional de Agricultura, considera a mesma bem estruturada, no entanto gostaria que fosse feito um esforço na componente técnica de forma a torna-la mais forte nessa vertente. E dá o exemplo das máquinas em exposição que, na sua opinião, deveriam ser mais aproveitadas e utilizadas intensamente em demonstrações das suas diversas valências e funcionalidades, explorando todos os recursos disponíveis nos novos equipamentos, atraindo assim uma maior presença dos profissionais do sector.