Uma estilo de gestão municipal entre o clube de fãs e a tertúlia de aficionados
Presidente da Câmara Municipal da Chamusca – Paulo Queimado (PS)
Na Chamusca, um concelho com um extenso território e uma população a diminuir, gerir a câmara municipal exige grande equilíbrio e muita dedicação aos eleitores. Paulo Queimado, um técnico de restauro com muito trabalho encomendado pelo município, sabia isso quando foi eleito presidente pela primeira vez, mas foi-se esquecendo com a euforia de poder mandar.
Paulo Queimado nasceu a 13 de Março de 1975 e a primeira vez que contactou com a política local foi em 2005, ano em que integrou a lista de candidatos do Partido Socialista à câmara municipal, em lugar não elegível. Quatro anos mais tarde repetiu a experiência e foi eleito vereador, ficando na oposição.
Quando o anterior presidente da câmara, Sérgio Carrinho, da CDU, deixou de se poder recandidatar, devido à lei de limite de mandatos, Paulo Queimado, encabeçando a lista do PS, venceu o vice-presidente Francisco Matias, em 2013, mas por uns meros 74 votos.
Nessa altura foi suficientemente inteligente para acolher o derrotado como vereador a tempo inteiro, tirando benefício da sua experiência. E teve a sorte do seu lado quando a CDU não o recandidatou em 2017, optando pela desconhecida Gisela Matias.
Nesse ano, Paulo Queimado venceu com 54,10% e obteve 2.792 votos. Deslumbrou-se! A partir dessa altura, cimentou para além do impossível a relação com a sua inseparável e prepotente vice-presidente, fez crescer a corte de bajuladores, perdeu a capacidade, que já era pouca, de ouvir quem não cantava as suas cantigas nem aplaudia tudo o que dizia, passou do pouco que já fazia para o modo de não fazer nada de jeito... e foi o que se viu. Uma descida abrupta nas autárquicas de 2021 com a perda de 736 votos. Menos dez por cento em percentagem.
De pessoa cordata, afável, dialogante e sempre disponível, o antigo técnico de restauro que tinha oficina aberta na vila, passa a mais um autarca com tiques autocráticos que se vai isolando e afastando de quem não pertença à sua corte. A situação acaba por ter reflexos negativos na sua vida pessoal e política. Aos poucos, Paulo Queimado esgota o seu património político e vai somando erros atrás de erros.
Num município tradicional e conservador, que tem registadas no seu livro de honra as assinaturas do último rei de Portugal, de um herói como Salgueiro Maia, de alguns presidentes e de muitas outras figuras ilustres, o actual presidente, também ele mais familiarizado com a sobriedade e harmonia das antiguidades devido à sua formação, decidiu implementar um tom desempoeirado. E começou da pior forma ao comparecer, no primeiro mandato, numa cerimónia de homenagem a um médico falecido, de calções e chinelos de praia.
Não insistiu na indumentária mas não resistiu à implementação do estilo fútil, de mau gosto, presumido e diletante. Uma estilo de gestão municipal entre o clube de fãs e a tertúlia de aficionados.
A compra de uma casa a um seu vereador, em 2019, com o argumento de querer ali instalar o arquivo municipal, foi a situação mais grave em termos éticos, mas outras houve que também afectaram a sua imagem e a do partido que representa. O descrédito tem aumentado e só os mais fiéis não o reconhecem, pelo menos publicamente.
O concelho da Chamusca continua a definhar. Entre 1981 e 2021 perdeu um terço da população. O raro comércio local está a desaparecer e até as grandes superfícies fecham. Os jovens partem e as críticas que Paulo Queimado fazia à anterior gestão CDU de não conseguir travar a desertificação do concelho, assentam-lhe agora na perfeição.
Ao fim de uma década o autarca não dá qualquer sinal de ter ideias que possam beneficiar a população de forma significativa e continua a não ter qualquer peso político para se fazer ouvir nos centros de decisão do poder central. Sem alterações à vista, a Chamusca é um daquele concelhos onde as autárquicas de 2025 poderiam ser antecipadas.
Com excepção da Semana da Ascensão que é uma festa do povo, Paulo Queimado tem como grande obra a implementação do slogan “Chamusca o Coração do Ribatejo”, mas um coração também pode bater para nada, como canta Sérgio Godinho, na Balada da Rita.