Especiais | 15-06-2024 11:00

De dactilógrafo na câmara a presidente que fala olhos nos olhos e detesta papelada

De dactilógrafo na câmara a presidente que fala olhos nos olhos e detesta papelada
GUIA AUTARCAS E AUTARQUIAS
Presidente da Câmara da Golegã, António Camilo, já foi dirigente do clube de futebol da terra e dos bombeiros voluntários

Presidente da Câmara da Golegã – António Camilo (2021 É O ANO)

A vitória de António Camilo na Golegã foi uma das grandes surpresas nas eleições autárquicas de 2021, embora o movimento que criou (Movimento 2021 é o ano) tenha causado um grande impacto no concelho ao longo de várias semanas. O presidente da Câmara Municipal da Golegã, que diz sentir a confiança da população para voltar a recandidatar-se, destronou o carismático José Veiga Maltez, que foi presidente do município ao longo de duas décadas, com um interregno de quatro anos pelo meio. António Camilo não escondeu a emoção na altura da conquista, partilhando com O MIRANTE que sentiu muito orgulho em ganhar a câmara “ao maior dinossauro da região”, mas que nunca se vai esquecer que foi Veiga Maltez que o convidou para a vida política.
Passaram quase três anos dessa noite de glória e António Camilo mantém-se fiel a si próprio: um homem discreto, tranquilo, de fácil trato, e que gosta de olhar nos olhos das pessoas quando fala com elas. Foi essa a postura que sempre teve enquanto presidente da Junta de Freguesia da Golegã, durante oito anos. Sobre essa experiência, Camilo só tem coisas boas a dizer: “acho que o presidente de junta está mais perto dos cidadãos (…) fico feliz quando as pessoas me dizem que não sentem que tenha mudado em relação ao que era, porque também sinto isso. Sinceramente acho que ter sido presidente de junta me ajuda a ser um melhor presidente de câmara porque compreendo as dificuldades das pessoas”, referiu numa entrevista recente ao nosso jornal.
A serenidade com que está hoje como o principal líder da autarquia é o reflexo da vida cheia que tem levado. Diz que não tem arrependimentos e que dorme descansado durante a noite. António Camilo já fez um bocadinho de tudo: foi atleta e treinador de futebol, e dirigente em várias associações do concelho, destacando-se a presidência do Futebol Clube Goleganense e a direcção dos bombeiros voluntários.
O orgulho que sente nas suas origens é notório. António Camilo nasceu em Angola, onde viveu até aos 16 anos. Os seus pais eram fazendeiros. Quando veio para Portugal, contra a sua vontade, foi estudar para Aveiro onde viveu em casa de uma tia. Um ano depois chegou ao Ribatejo quando um dos seus irmãos comprou o café/restaurante Santo António, onde trabalhou enquanto estudava. Antes de ir para a tropa, o seu tio, que era presidente da Câmara de São João da Pesqueira, proporcionou-lhe um estágio naquele município. Conheceu a primeira mulher, casou, e entrou na Câmara da Golegã em 1980 na área da dactilografia. Mais de quatro décadas depois, e após cumprir funções sobretudo na área administrativa e finanças, é eleito presidente do município por um movimento independente apoiado pelo PSD.
Assume que o que mais o aborrece enquanto principal gestor autárquico são as “papeladas e burocracias”. Afirma que gostava de ter a possibilidade de “ser o verdadeiro autarca que anda na rua a resolver problemas e a ouvir as pessoas”. No entanto, e em jeito de balanço, diz sentir orgulho no trabalho realizado desde que ele e a sua equipa assumiram os pelouros. António Camilo estabelece como grandes desafios a Educação, o Turismo e a Habitação.
O autarca refere ainda que tem sido realizado um grande esforço para redimensionar a Feira Nacional do Cavalo, e que foi criada a marca Visit Golegã que deu mais dinâmica turística a um concelho que tem no cavalo é seu ex-líbris, mas que também tem outros pontos de referência, como a Biblioteca Municipal José Saramago, a Casa-Estúdio Carlos Relvas, a Reserva Natural do Paul do Boquilobo, o Museu da Máquina de Escrever, o Museu Rural, o Museu Municipal Martins Correia, entre outros. Sobre este último, António Camilo concorda que o museu está subvalorizado pela sua má localização, e que está a ser estudada a hipótese de o deslocalizar para junto da Igreja Matriz, na zona do pelourinho.
António Camilo afirma que não ter “rabos-de-palha” e ser uma pessoa “consensual” são dois dos seus grandes motivos de orgulho. Mas nenhum é tão grande como poder dizer que está sempre presente para apoiar a sua família em todos os momentos. Em termos emocionais, António Camilo nunca deixou de ser uma pessoa transparente. Não tem problemas em admitir que tem muitas fragilidades, mas afirma que nunca vira a cara à luta e que encara os obstáculos sempre de cabeça levantada. Tem quatro filhas, duas delas gémeas. Na última conversa com O MIRANTE desabafou sobre o facto de uma das suas filhas sofrer de problemas do foro mental para passar a mensagem de que a saúde mental é a doença do futuro e que a promoção de boas práticas vai continuar a ser uma das suas missões enquanto representante político.

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