Do departamento de obras à presidência da câmara sem beijos nem abraços
Presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos – Hélder Esménio (PS)
Hélder Esménio nasceu a ver mal e o cabelo nunca lhe cresceu. Na escola foi vítima de agressões físicas e verbais por ser diferente. Mas isso tornou-o mais forte e motivou-o a desenvolver capacidades para resolver e contornar os problemas. Os pais ainda lhe deram uma boina para proteger a careca mas como o acessório era motivo de chacota ainda maior, optou por nunca a usar. “Acho que a superprotecção dos nossos filhos fazem com que eles próprios não procurem resolver os seus problemas e esperam que sejam os adultos a resolver. Acho que hoje se vive um excesso de proteccionismo das crianças”, comenta.
Há 50 anos os pais discutiam o curso que ia tirar caso ficasse sem visão. Mas Hélder Esménio queria ser engenheiro e os pais não insistiram na ideia de seguir línguas porque caso ficasse invisual podia ser tradutor. Começou a trabalhar com 14 anos, fez o bacharelato e só regressou aos estudos aos 40 anos, altura em que tirou a licenciatura em Engenharia Civil e o mestrado em Higiene e Segurança no Trabalho. Arrepende-se de ter regressado demasiado cedo ao mundo do trabalho e de não ter feito a licenciatura e mestrado quando tirou o bacharelato, mas tinha de sustentar a família e na altura já tinha um filho.
Entrou para técnico da câmara a que preside em 1983. Acompanhou a infra-estruturação do concelho, até porque havia poucos engenheiros. Hélder Esménio era frequentemente chamado para dar opiniões técnicas. Projectava e fazia as obras. Ficou com vontade de experimentar o lugar da decisão sobre os investimentos, mas só o conseguiu em 2013, após um mandato na oposição e alguns anos depois de ter pensado emigrar, com 45 anos, porque sentia que o seu trabalho não estava a ser valorizado pelo executivo bloquista liderado por Ana Cristina Ribeiro. Tinha um convite para acompanhar as obras de abastecimento de água, em representação do Estado angolano. Preferiu a estabilidade familiar, mas confessa que teria gostado da experiência de trabalhar fora e de planear e executar numa escala muito maior.
Durante 22 anos foi fumador e deixou o vício por causa da filha, na altura com seis anos. Disse-lhe que tinha de deixar de chuchar no dedo polegar porque podia ficar com o lábio deformado e ela respondeu que também não era bonito fumar. Ele deixou de fumar e ela de chuchar no dedo. Apesar de ser baptizado pela Igreja Católica e considerar que a Igreja tem valores morais importantes, não é crente nem tem fé. Confessa que à medida que envelhece pensa na morte. Não quer ficar dependente de terceiros e pretende deixar a vida “arrumadinha” para que quem fica não tenha problemas para resolver”.
Gosta de bacalhau cozido com grão e cozido à portuguesa. Nunca esteve tão pesado, atribuindo isso ao facto de não fazer exercício físico, que quer corrigir quando acabar o mandato. Gosta muito de cinema e em jovem gostava de realizadores como o Woody Allen e Fellini. Agora opta por filmes de aventura e policiais. Acompanhou o crescimento dos três filhos, que têm seis anos de diferença entre cada um, o que fez com que durante 20 anos tivesse crianças pequenas em casa. Ia ao cinema com eles e ainda hoje, com uma neta, gosta de ver filmes infantis para saber que mensagens estão a ser passadas às crianças.
Com 46 anos de descontos, Hélder Esménio ainda não decidiu se vai pedir a reforma quando acabar o mandato, mas mesmo que decida continuar a trabalhar gostaria que fosse fora da autarquia porque considera que a sua presença não faz sentido numa nova gestão autárquica e não quer gerar incómodos. Não se considera uma pessoa calma, mas a responsabilidade leva-o a não reagir. Quem lhe conhece a faceta de maior efervescência é o chefe de gabinete. Vive os problemas de forma intensa, mas foca-se na solução. Assume-se corajoso e desvaloriza as críticas que não são construtivas. Tem auto-
-estima, é empenhado, honesto e bem formado. Por isso sente-se tranquilo na tomada de decisões porque as toma de boa-fé, mesmo que possam estar erradas. O que o chateia mais é ouvir dizer que os políticos são todos iguais e são todos corruptos. Ainda não tinha sido eleito autarca em 2009 e já tinha um cidadão a dizer-lhe que queria tacho. “Isto é perigoso porque não se acredita em ninguém e em nenhuma instituição”, comenta.
Hélder Esménio, eleito pelo PS em 2009 vereador na oposição, conseguiu derrotar o Bloco de Esquerda em 2013 e a seguir conquistar duas maiorias absolutas. Não é o político dos beijinhos e abraços. Por “deformação profissional” o que mais o alegra é concretizar os projectos. Tem uma noção clara do que vai ser feito em Salvaterra de Magos a dez anos. Está preocupado em deixar projectado para quem vier a seguir. O próximo presidente terá depois de priorizar as obras mas não pode dizer que Esménio se foi embora sem deixar nada. “Deixo uma câmara sustentável do ponto de vista financeiro. Assumi sempre autarquicamente que no final da nossa gestão tivéssemos contribuído zero para o endividamento municipal”.