O advogado que regressou às origens para ser presidente de câmara
Presidente da Câmara Municipal de Mação – Vasco Estrela (PSD)
Vasco Estrela interessou-se pela advocacia aos 16 anos quando assistiu a alguns julgamentos no tribunal da vila onde nasceu. Entrou em Direito na Universidade Internacional de Lisboa, mas a alegria desfez-se nessa altura com a morte do pai. Na adolescência pensou ser cirurgião, porque queria ajudar o pai na sua doença renal. Mas depressa percebeu que não tinha vocação para médico porque até ver sangue o incomodava. Apesar disso, seguiu as pisadas do seu avô e do seu pai e foi bombeiro entre os 16 e os 20 anos. Confessa que naquela idade sentia que o mundo era seu e que o poderia salvar. Um dos momentos mais difíceis foi a morte, em serviço, de três bombeiros que eram seus amigos. Nos bombeiros aprendeu o verdadeiro sentido da solidariedade, companheirismo e a saber gerir a pressão em situações de perigo.
O dia em que começou a trabalhar como advogado foi um dos mais marcantes da sua vida que já completou meio século. Estava há cerca de dois anos a exercer a profissão quando recebeu um convite do anterior presidente da Câmara de Mação, Saldanha Rocha, quando este estava no primeiro mandato, para integrar o Gabinete de Apoio à Presidência. Vasco Estrela admite que sempre pensou regressar a Mação para viver e trabalhar. Aproveitou a oportunidade e não pensou duas vezes. Tornou-se vice-presidente em 2009 e candidatou-se ao cargo de presidente em 2013. “Sou muito grato ao Saldanha Rocha porque apostou em mim. Se não fosse ele provavelmente não teria sido presidente de câmara”, afirma, admitindo que na adolescência pensava no cargo mas nunca fez disso um objectivo de vida.
Um momento que nunca esquece foi aquele em que soube da morte de Sá Carneiro, primeiro-ministro de Portugal, eleito pelo PSD, em Dezembro de 1980. Estava a assistir a uma sessão de esclarecimento do General Ramalho Eanes. Em sua casa falava-se de política e o seu pai estava ligado ao PSD. O autarca presidiu à Juventude Social Democrata (JSD) de Mação e integrou os órgãos da distrital da JSD de Santarém. Vasco Estrela nasceu a 6 de Julho de 1971 em Mação, e tem uma irmã mais velha. Casado, tem três filhos com 20, 17 e 15 anos. É adepto do Sport Lisboa e Benfica e na juventude foi jogador federado de andebol e futebol e está a ponderar integrar a equipa de veteranos da terra. Há cerca de ano e meio começou a praticar natação. Começou a pensar mais em si e também porque médicos amigos o aconselharam a fazer desporto para aliviar o stress.
Quando precisa de pensar gosta de estar sozinho. Dá muitas voltas de carro, “devagarinho”, por Mação e pelos locais à volta. Prefere fazer este percurso sobretudo ao fim-de-semana. Confessa que o cargo de presidente de câmara é muito solitário. Não é supersticioso, mas existem coisas que tem o hábito de fazer da mesma maneira, embora não saiba explicar porquê. Vai sempre às assembleias municipais de fato e gravata, sobretudo pelo respeito pelo órgão.
De manhã, enquanto bebe um café, liga a televisão para ver as notícias e vai ao telemóvel ver o e-mail e as capas dos jornais. Entra na câmara normalmente por volta das 09h00. Não gosta de deixar trabalho pendurado para o dia seguinte, mas quando acontece chega mais cedo para despachar o que ficou em atraso. Geralmente é o último a sair do edifício. Admite não ter truques para manter a calma, mas confessa que por vezes não reage bem a situações que fogem ao previsto.
O momento mais difícil enquanto presidente do município foram os incêndios em 2017 com as chamas à porta das casas dos cidadãos. Protagonizou uma batalha jurídica contra o Governo que excluiu Mação do acesso aos apoios (de três milhões de euros) para os prejuízos dos incêndios de 2017 e venceu-a. Quando deixar a presidência da Câmara de Mação pretende voltar a exercer advocacia, excepto se surgirem bons convites. Admite não ter expectativas e no final da sua vida gostava que dissessem de si que foi uma pessoa íntegra e honesta, sempre fiel à sua palavra e que cumpriu o que prometeu.
O concelho é conhecido pelos presuntos e é banhado pelo rio Tejo com várias praias fluviais. Também é uma rica zona paleontológica e arqueológica onde se podem encontrar fósseis. Um dos mais célebres achados arqueológicos foi o tesouro da Idade do Bronze em Março de 1943. Tem um património cultural que se destaca pela pureza das suas águas que correm por entre as verdes serras de Santo António e de Amêndoa, que proporcionam espaços de lazer de reconhecido interesse e as suas qualidades medicinais.