Especiais | 16-06-2024 11:00

Miguel Borges traz sempre no bolso um bloco e caneta para escrever poesia

Miguel Borges traz sempre no bolso um bloco e caneta para escrever poesia
GUIA AUTARCAS E AUTARQUIAS
Miguel Borges, presidente da Câmara de Sardoal tem na música e na poesia duas das suas paixões

Presidente da Câmara Municipal de Sardoal – Miguel Borges (PSD)

A música sempre esteve presente na vida de Miguel Borges. A sua primeira memória é de aos três anos visitar a mãe e a irmã na maternidade e levar uma guitarra de plástico na mão. Os únicos presentes que pedia eram guitarras de brincar. Um dia encantou-se por um acordeão de plástico que estava na montra de uma loja e não escondeu a alegria quando o recebeu de presente, que ainda guarda. A família foi investindo na sua paixão e Miguel Borges entrou no coro infantil do Orfeão de Abrantes, e tendo passado para o coro misto aos 14 anos. Como sabia alguma coisa de música começou a ajudar o maestro, ensinando os tenores e sopranos.
Aos 13 anos integrou um grupo de baile, os Morning Star, em Abrantes, onde começou por tocar bateria, tendo passado para viola baixo e depois teclas. Tinha curiosidade em tocar vários instrumentos, mas não era especialista em algum. Começou por estudar música numa escola particular em Abrantes e frequentou o Conservatório de Música Regional de Tomar durante dois anos. Depois foi para Lisboa onde estudou na Academia de Amadores de Música e fez alguns exames no Conservatório de Música de Lisboa. Deslocava-se à capital três vezes por semana e regressava a casa no mesmo dia. No último ano chegou a fazer seis horas de viagem diárias para ter duas horas de aulas.
Miguel Borges, descontraído, bem--disposto e sem peneiras, nasceu a 24 de Agosto de 1965 em Abrantes, onde viveu mais de duas décadas. Estudou Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa. Também estudou composição, violino e piano. A determinada altura teve que optar entre prosseguir com uma carreira musical ou ter estabilidade e começou a dar aulas de Educação Musical. Fez dois anos de estágio em Vialonga tendo ficado como professor efectivo na Escola EB 2/3 e Secundária do Sardoal. Vive em Sardoal há 23 anos. Ajudou a criar um coro no GETAS – Grupo Experimental de Teatro Amador de Sardoal. Dirigiu e fez os arranjos e trabalho de orquestração na Orquestra Ligeira de Abrantes. O maestro da Filarmónica do Sardoal precisava de alguém para dar apoio até arranjar novo maestro e Miguel Borges assumiu o cargo. Era para ser por três meses e ficou 11 anos. É habitual vê-lo a tocar órgão na missa durante a Semana Santa.
Outra das suas paixões é a poesia. Anda sempre com cadernos pequenos e uma caneta Bic laranja para apontar as ideias quando lhe surgem. Não se recorda de qual foi o primeiro poema que escreveu, mas lembra-se que um dos primeiros estava relacionado com a liberdade. Na sala de estar de casa há um piano e muitos livros. Miguel Borges vê pouca televisão e quando quer colocar as ideias no lugar gosta de andar a pé ou pegar no carro e passear sem destino. Os moinhos de Entrevinhas e a zona de lazer da Lapa também são óptimos locais para alinhar ideias. Nesses momentos gosta de ficar em silêncio. Levanta-se
às 06h00, vê os títulos das notícias dos jornais e, uma hora depois, está a beber o primeiro dos seis cafés que bebe por dia. O truque para manter a calma perante um imprevisto é nunca reagir a quente. Defende que o tempo é a maior preciocidade do Homem que é fundamental saber equilibrar o tempo. Costuma dizer que é 95% pai, marido, músico, apreciador das coisas boas da vida e é 5% presidente de câmara, mas são 5% produtivos. “Se ocuparmos a maioria do nosso tempo com mais trabalho perdemos o equilíbrio”, diz.
Miguel Borges perdeu o seu filho mais velho, André, com sete meses de vida, devido a um erro médico. 34 anos volvidos, o autarca confessa que a ferida de perder um filho fica sempre aberta e os outros quatro que teve depois nunca substituem aquele que morreu. Quando deixar o cargo de presidente do concelho mais a norte do distrito de Santarém e que em cerca de 92 quilómetros quadrados e é composto por quatro freguesias, pretende voltar a dar aulas. Garante que o que o vai deixar mais orgulhoso é deixar as funções autárquicas sem problemas de consciência nem de ter facilitado ou prejudicado alguém. “Estou a gerir uma instituição que não é minha, é de todos e tem que ser bem gerida”, refere.
Um dos grandes orgulhos do autarca social-democrata foi a inscrição da Semana Santa de Sardoal no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, em Dezembro de 2023. O que abre as portas para a classificação europeia e vai atrair mais gente para ver os tradicionais tapetes floridos que enfeitam as capelas e igrejas do concelho durante a época da Páscoa, numa tradição que remonta ao início do século XIV quando a rainha Santa Isabel visitou o Sardoal.
Miguel Borges é presidente da Câmara de Sardoal desde 2013, mas o seu percurso político começou em 2009 quando foi convidado pelo anterior presidente, Fernando Moleirinho, para ser seu vice-
-presidente. Nunca tinha imaginado assumir um cargo político, mas hoje não esconde o orgulho pelo percurso que tem feito. Do que mais tem orgulho é de não ter favores para cobrar nem para pagar, e nem aceita que lhe peçam favores.

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