Especiais | 18-07-2024 09:00

Cancro da mama: nunca é demais lembrar…

Cancro da mama: nunca é demais lembrar…
REVISTA DE SAÚDE E BEM ESTAR - OPINIÃO
Isabel Estudante, Médica especialista em Imagiologia, dedicada à área da Senologia no Hospital da Luz

Cada mulher deve estar atenta ao seu corpo e fazer de forma regular o autoexame mamário, valorizando qualquer alteração detetada e realizar a consulta periódica com o medico assistente, que determinará o grau de risco e a forma mais adequada de vigilância.

Na atualidade, a doença mamária e, particularmente, o cancro da mama é um tema incontornável na sociedade, sendo causa de particular preocupação nas mulheres, não esquecendo, no entanto, que embora raro, pode afetar o sexo masculino. Segundo os dados de 2022 do observatório do cancro da Organização Mundial de Saúde (Global Cancer Observatory), verificou-se que em Portugal, entre as doenças oncológicas, o cancro da mama foi o mais frequente nas mulheres, sendo igualmente a causa mais frequente de mortalidade por cancro no sexo feminino, compreendendo-se assim, bem, o medo que gera.
O primeiro passo para combater este medo passa pela prevenção, de forma a detetar precocemente a doença e assim minimizar os seus efeitos mais gravosos e impactantes na vida das mulheres. No âmbito da prevenção, podem ser consideradas abordagens de rastreio populacional ou individual.
Cada mulher deve estar atenta ao seu corpo e fazer de forma regular o autoexame mamário, valorizando qualquer alteração detetada e realizar a consulta periódica com o médico assistente, que determinará o grau de risco e a forma mais adequada de vigilância. A Ordem dos Médicos recomenda o “início dos exames mamários aos 40 anos com periodicidade anual, decisão essa que deverá ser partilhada com o médico assistente, ajustada aos fatores de risco individuais e familiares e devidamente informada quanto aos benefícios e inconvenientes dos programas e métodos de rastreio”, como se pode ler no seu site.
Infelizmente, esta é uma doença que pode surgir em idades mais jovens, pelo que alterações da pele da mama ou mamilo, nódulo palpável na mama ou axila, corrimento de líquido pelo mamilo ou qualquer outro sintoma deve ser sempre valorizado e motivar consulta com o medico assistente, que avaliará e decidirá a necessidade de realização de exames complementares de diagnóstico para esclarecimento.
Durante a gravidez e amamentação, não é infrequente ocorrerem problemas relacionados com inflamação e infeção, como as mastites e abcessos. Contudo, não nos devemos esquecer que também nestes períodos pode desenvolver-se cancro da mama, sendo crucial que sempre que haja essa suspeita deva ser feito o seu correto diagnóstico. Fazer os exames de rastreio, antes de surgirem quaisquer sintomas ou sinais de alerta, permite detetar precocemente a doença, fazendo com que o tratamento seja bem-sucedido. O médico assistente indicará, nesse contexto de rastreio, a realização de mamografia e ecografia mamária, além de fazer o exame clínico da mama durante a consulta.
O desenvolvimento tecnológico permite hoje recurso a técnicas de elevada capacidade na deteção de lesões em fases iniciais e mesmo pré-malignas. Falamos, por exemplo, da mamografia associada a tomossintese, também conhecida como mamografia 3D. A tomossintese é uma técnica usada em combinação com a mamografia convencional, aumentando a capacidade diagnóstica relativamente à mamografia tradicional por permitir maior definição e detalhe das imagens a analisar.
Vários estudos permitiram verificar que o uso combinado de ambas técnicas aumenta a taxa de deteção do cancro da mama, sobretudo em mamas com padrão de elevada densidade, padrão este muito frequente, principalmente na população mais jovem, sendo assim de relevante importância dada a incidência crescente da doença que se tem vindo a verificar nesse grupo etário. Por um lado, consegue detetar lesões não visíveis na mamografia tradicional, aumentado a possibilidade de deteção precoce, por outro lado, pode ajudar a esclarecer dúvidas que levariam à necessidade de realização de outros estudos, reduzindo a necessidade de recurso a ressonância magnética ou procedimentos mais invasivos, com as biopsias, em muitos casos.
Também a experiência dos médicos radiologistas na leitura e realização dos vários exames é um fator de grande importância, pelo que é fundamental a sua especialização em radiologia mamária. O resultado dos exames efetuados deverá, sempre, ser integrado pelo médico assistente com a situação clínica da paciente em causa.
Perante a presença de alterações, pode ser necessário realizar exames de imagem complementares ou até biopsia mamária, o que inevitavelmente gera ansiedade e receio quanto ao procedimento e respetivo resultado.
Relativamente à biopsia, o medo do desconhecido e da dor são as preocupações mais transmitidas pelas pacientes, mas de salientar que, em geral, é um exame facilmente tolerável. Hoje, é possível realizar biópsias mamárias recorrendo a novos equipamentos que conjugam maior comodidade e conforto para as pacientes e melhores resultados clínicos. Quanto ao resultado, o mesmo pode permitir confirmar que se trata de alterações benignas ou fazer o diagnóstico de cancro de mama. Quando se trata de enfrentar um diagnóstico oncológico, confiar na equipa clínica que acompanha o caso é essencial.
A decisão terapêutica será multidisciplinar, envolvendo médicos especialistas das várias áreas da senologia, desde o diagnóstico ao tratamento e seguimento, incluindo médicos das áreas de imagiologia, medicina nuclear, anatomia-patológica, equipa cirúrgica dedicada à cirurgia de mama, oncologistas e radioterapeutas, e idealmente incluindo também o envolvimento de enfermagem, fisioterapia, psicoterapia e nutrição dedicadas, o que irá permitir elevada qualidade profissional e tecnológica, essencial para obter os melhores resultados.
Os avanços da ciência permitem terapêuticas cada vez mais eficazes e eficientes, dirigidas a cada situação particular, aumentado a sobrevida livre de doença, com aumento da qualidade de vida e redução efetiva da taxa de mortalidade.
As preocupações com a imagem corporal estão também, atualmente, bem patentes aquando do tratamento, como mostra o enorme desenvolvimento da cirurgia oncoplástica, que inclui técnicas cirúrgicas terapêuticas que valorizam também o resultado estético. A evolução da medicina, especialmente em oncologia, é promissora e diariamente surpreende com inovação e descoberta, favorecendo que o prognóstico perante um diagnostico de cancro da mama seja cada vez mais favorável.
Como mensagem final, salientar a importância da prevenção, realizando com regularidade exames médicos e autoexame mamário e adotando estilos e hábitos de vida saudáveis que deverão incluir a prática de exercício físico regular, redução do stress e uma alimentação saudável, evitando o açúcar, álcool e tabaco.
Escrito de acordo com o novo acordo ortográfico.

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