Cuidados a ter com o regresso às aulas
A quantidade mínima de sono deve ser adequada à idade de cada criança ou adolescente. O uso de ecrãs deve ser evitado uma hora antes de deitar.
Para que a rotina do novo ano escolar seja retomada e vivida de forma serena é muito importante organizar atempadamente e com sensatez os novos horários familiares. As atividades extracurriculares devem ser muito bem seleccionadas e conciliadas com as disponibilidades e responsabilidades dos cuidadores. Os horários sobrecarregados proporcionam correrias desnecessárias e os objectivos utópicos acrescentam cansaço e frustração pessoal. Com menos tempo disponível, o humor e o bem-estar no seio familiar ficam molestados, o que se repercute negativamente no diálogo, na interação recíproca e no indispensável suporte afectivo de retaguarda, confirmando que a disponibilidade do adulto não é sinónimo da mera presença física.
Para além de muito amor, todas as crianças precisam de comer bem, de dormir bem, de fazer exercício físico, de muito tempo para brincar e algum para dedicar ao estudo. O equilíbrio e a qualidade de satisfação de cada umas destas necessidades devem ser preservadas, já que cada uma desempenha um papel preponderante e insubstituível no desenvolvimento da criança.
Uma alimentação saudável promove a saúde e previne doenças. As refeições devem ser preferencialmente feitas à mesa, em família e sem a interferência de ecrãs. Os doces, as gorduras, o excesso de sal e as comidas processadas não devem constar na alimentação diária, mas devem reforçar-se a água, os legumes e as frutas diariamente. Para além disso, a criança nunca deve sair de casa sem um bom pequeno-almoço. Sem ele, o humor e o rendimento escolar ficarão seriamente comprometidos.
O sono permite o descanso indispensável à aprendizagem e à capacidade de concentração diurna, tem um efeito reparador cerebral, regula a imunidade e controla as emoções e o apetite. Assim, crianças com alterações do sono têm risco acrescido de infeções, de obesidade, de doença cardiovascular precoce, de acidentes, de insucesso escolar e de problemas comportamentais e sociais. A quantidade mínima de sono deve ser adequada à idade de cada criança ou adolescente. O uso de ecrãs deve ser evitado uma hora antes de deitar, uma vez que a sua luminosidade interfere com a posterior qualidade do sono. Todos os problemas que possam influenciar a qualidade do sono devem ser precocemente rastreados e devidamente orientados.
A brincadeira ao ar livre constitui um método incontornável de aprendizagem, pelo que o tempo que lhe é dedicado não pode ser encurtado nem negligenciado. Brincar é um processo circunstancial, transitório e intencional, experienciado sob um risco controlado. Lidando com os recursos disponíveis e negociando com os pares, a criança desenvolve a sua criatividade e a capacidade de adaptação a situações inesperadas, aprende a lidar com as suas emoções, combate o sedentarismo, compreende a sua relação com a natureza, enquanto desenvolve a motricidade e as competências temporais e espaciais. Infelizmente estas actividades lúdicas tem vindo a ser progressivamente substituídas por uma panóplia crescente de ecrãs.
Crianças e adolescentes passam cada vez mais tempo isoladas em casa, imersas em conteúdos recreativos digitais estrategicamente concebidos para a ausência de momentos enfadonhos, muitas vezes inapropriados para as suas idades, num percurso infindável, que lhes proporciona vício e dependência, enquanto lhes rouba tempo indispensável ao sono, à actividade física, à socialização, ao estudo e à leitura. As actividades extracurriculares promovem a sociabilidade e evitam o sedentarismo. Elas funcionam como um complemento, pelo que a criança/adolescente deve manter-se envolvida na sua escolha. Convém reforçar que a sua duração não pode interferir com o tempo mínimo dedicado ao sono diário.
A estabilidade social, a harmonia familiar e a satisfação equilibrada das necessidades básicas constituem os alicerces promotores de um crescimento físico, mental, emocional e social adequados. Uma visão e audição adequadas, algum estudo e alguma motivação complementam os requisitos indispensáveis à aprendizagem e ao consequente sucesso escolar.
Em situações normais, o surgimento inesperado de dificuldades escolares pode constituir um alerta precoce que não pode ser descurado. Problemas físicos ou psicológicos subjacentes devem ser devidamente rastreados por uma equipa médica especializada. Algumas situações particulares podem exigir avaliação e intervenção neuropsicológica, ou instituição de medicação individualizada.
Prevenir é mais fácil, mais seguro, mais confortável e menos oneroso do que tratar, justificando o investimento nas consultas de rotina e vigilância. Felizmente a maioria das crianças são saudáveis. Mas como não trazem manual de instruções acoplado e os pais não recebem formação específica prévia para cuidar delas, a ajuda de profissionais de saúde credenciados pode evitar, detectar e orientar precocemente inúmeros problemas.