Especiais | 14-11-2024 11:00

Direi com ironia que, às vezes, fico a saber de coisas que supostamente disse ou fiz das quais não fazia qualquer ideia

Direi com ironia que, às vezes, fico a saber de coisas que supostamente disse ou fiz das quais não fazia qualquer ideia
ESPECIAL 37º ANIVERSÁRIO
Hugo Cristóvão, presidente da Câmara Municipal de Tomar

Aos autarcas, que estão sete dias por semana ao serviço, e que ora lidam com problemas de milhões ou de cêntimos; ora são responsáveis de protecção civil, ora de educação; de obras, de serviço social, de animais errantes, de árvores caídas... é natural que, por vezes, lhes falte alguma memória.

Há quem seja defensor das tradições e há quem ache que as tradições são entraves ao desenvolvimento. O que pensa das tradições?
Há seguramente tradições boas e outras que com o tempo deixam de fazer sentido ou de ser socialmente aceitáveis.
Há alguma tradição que tenha deixado de seguir? E há alguma que já não faça sentido?
Que eu tenha deixado de seguir não propriamente, mas quanto ao fazer sentido, e não estando a tomar uma posição porque o assunto é complexo e não se discute em duas linhas, há em Portugal um caso evidente e fracturante na sociedade, que são as touradas.
Qual a tradição que nunca deixará de respeitar?
A tradição que mais tento preservar, é a da consoada passada em família, em torno da lareira, com o café feito ali mesmo e uns sonhos ou filhoses embebidos nele. E uns cálices de um bom Porto…
O que faz no seu dia-a-dia, apenas por uma questão de tradição?
Tenho alguns hábitos, mas a que não chamaria tradições, até porque vão variando conforme as circunstâncias. Os dois cafés que bebo agora, não são iguais aos que tomava quando estava a leccionar, por exemplo, ou a meia hora, única, de notícias do país e do mundo que vejo de manhã antes de sair de casa. Antes de desempenhar estas funções era quase viciado em notícias.
O que acha desta tradição de O MIRANTE assinalar cada aniversário pedindo aos seus leitores e anunciantes que partilhem as suas opiniões sobre um determinado tema?
Acho que é uma boa tradição.
Diz-se que há quem tenha memória de elefante e quem tenha memória de galinha. Onde se coloca em termos de memória e porquê?
Algures a meio. Por vezes tenho a sensação que a minha memória já foi melhor, mas isso também terá algo a ver com a idade e as muitas horas de trabalho e poucas de sono.
Existindo boas e más memórias, guarda mais das primeiras ou das segundas? E gostava que fosse diferente?
Das boas. Aliás, à parte o falecimento de alguns familiares e amigos, e em especial dos meus avós, não consigo mesmo elencar especiais memórias negativas, porque não me lembro mesmo delas. E ainda bem que é assim.
Qual a melhor memória que guarda?
A primeira vez que vi o meu filho, e todos os dias depois desse.
E a pior?
Como já referi, verdadeiramente negativo só consigo lembrar-me do falecimento dos meus avós e de alguns amigos. Não consigo dessas eleger nenhuma como a pior.
Já lhe aconteceu estar com um amigo ou familiar que viveu um acontecimento consigo e que não recorda nada do que se passou, ou recorda-se dele de forma muito diferente?
Já. E então nas funções que agora desempenho, venho muitas vezes a saber de coisas que supostamente disse ou nas quais participei das quais não fazia qualquer ideia… sublinhe-se que estou a ser irónico.
Que acontecimentos considera memoráveis na vida da região e porquê?
Escolhendo um, e porque a educação, formação, inovação são temas importantíssimos para o desenvolvimento dos territórios, sublinho sermos o único distrito que tem dois institutos politécnicos, um deles o de Tomar. Foi à época uma grande conquista que temos de saber honrar e potenciar.
Se pudesse propor a construção de um memorial público seria dedicado a quê ou a quem?
No nosso distrito é incontornável o tema da liberdade, associada à coragem e ao inconformismo materializado em Salgueiro Maia (e nos seus camaradas), que já agora, recordo, estudou em Tomar.
Diz-se muitas vezes que as pessoas em cargos políticos têm má memória. Considera que já tinham má memória antes ou é um problema provocado pelos cargos para que são nomeadas ou eleitas?
Não considero que a afirmação seja genericamente verdadeira. Mas, no caso dos autarcas, que ora lidam com problemas de milhões e em seguida de cêntimos; ora são responsáveis de protecção civil, ora são de educação; de obras, de serviço social, de animais errantes, de árvores caídas, de tanta e cada vez mais matéria. E estão sete dias da semana ao serviço, é natural que alguma memória por vezes falte. Eu, que sou apenas humano, sinto isso.
Quer acrescentar algo?
Parabenizar O MIRANTE e todos os que nele trabalham e que, numa era de ecrãs, mantém vivo e dinâmico um jornal regional de grande sucesso.

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