Direi com ironia que, às vezes, fico a saber de coisas que supostamente disse ou fiz das quais não fazia qualquer ideia
Aos autarcas, que estão sete dias por semana ao serviço, e que ora lidam com problemas de milhões ou de cêntimos; ora são responsáveis de protecção civil, ora de educação; de obras, de serviço social, de animais errantes, de árvores caídas... é natural que, por vezes, lhes falte alguma memória.
Há quem seja defensor das tradições e há quem ache que as tradições são entraves ao desenvolvimento. O que pensa das tradições?
Há seguramente tradições boas e outras que com o tempo deixam de fazer sentido ou de ser socialmente aceitáveis.
Há alguma tradição que tenha deixado de seguir? E há alguma que já não faça sentido?
Que eu tenha deixado de seguir não propriamente, mas quanto ao fazer sentido, e não estando a tomar uma posição porque o assunto é complexo e não se discute em duas linhas, há em Portugal um caso evidente e fracturante na sociedade, que são as touradas.
Qual a tradição que nunca deixará de respeitar?
A tradição que mais tento preservar, é a da consoada passada em família, em torno da lareira, com o café feito ali mesmo e uns sonhos ou filhoses embebidos nele. E uns cálices de um bom Porto…
O que faz no seu dia-a-dia, apenas por uma questão de tradição?
Tenho alguns hábitos, mas a que não chamaria tradições, até porque vão variando conforme as circunstâncias. Os dois cafés que bebo agora, não são iguais aos que tomava quando estava a leccionar, por exemplo, ou a meia hora, única, de notícias do país e do mundo que vejo de manhã antes de sair de casa. Antes de desempenhar estas funções era quase viciado em notícias.
O que acha desta tradição de O MIRANTE assinalar cada aniversário pedindo aos seus leitores e anunciantes que partilhem as suas opiniões sobre um determinado tema?
Acho que é uma boa tradição.
Diz-se que há quem tenha memória de elefante e quem tenha memória de galinha. Onde se coloca em termos de memória e porquê?
Algures a meio. Por vezes tenho a sensação que a minha memória já foi melhor, mas isso também terá algo a ver com a idade e as muitas horas de trabalho e poucas de sono.
Existindo boas e más memórias, guarda mais das primeiras ou das segundas? E gostava que fosse diferente?
Das boas. Aliás, à parte o falecimento de alguns familiares e amigos, e em especial dos meus avós, não consigo mesmo elencar especiais memórias negativas, porque não me lembro mesmo delas. E ainda bem que é assim.
Qual a melhor memória que guarda?
A primeira vez que vi o meu filho, e todos os dias depois desse.
E a pior?
Como já referi, verdadeiramente negativo só consigo lembrar-me do falecimento dos meus avós e de alguns amigos. Não consigo dessas eleger nenhuma como a pior.
Já lhe aconteceu estar com um amigo ou familiar que viveu um acontecimento consigo e que não recorda nada do que se passou, ou recorda-se dele de forma muito diferente?
Já. E então nas funções que agora desempenho, venho muitas vezes a saber de coisas que supostamente disse ou nas quais participei das quais não fazia qualquer ideia… sublinhe-se que estou a ser irónico.
Que acontecimentos considera memoráveis na vida da região e porquê?
Escolhendo um, e porque a educação, formação, inovação são temas importantíssimos para o desenvolvimento dos territórios, sublinho sermos o único distrito que tem dois institutos politécnicos, um deles o de Tomar. Foi à época uma grande conquista que temos de saber honrar e potenciar.
Se pudesse propor a construção de um memorial público seria dedicado a quê ou a quem?
No nosso distrito é incontornável o tema da liberdade, associada à coragem e ao inconformismo materializado em Salgueiro Maia (e nos seus camaradas), que já agora, recordo, estudou em Tomar.
Diz-se muitas vezes que as pessoas em cargos políticos têm má memória. Considera que já tinham má memória antes ou é um problema provocado pelos cargos para que são nomeadas ou eleitas?
Não considero que a afirmação seja genericamente verdadeira. Mas, no caso dos autarcas, que ora lidam com problemas de milhões e em seguida de cêntimos; ora são responsáveis de protecção civil, ora são de educação; de obras, de serviço social, de animais errantes, de árvores caídas, de tanta e cada vez mais matéria. E estão sete dias da semana ao serviço, é natural que alguma memória por vezes falte. Eu, que sou apenas humano, sinto isso.
Quer acrescentar algo?
Parabenizar O MIRANTE e todos os que nele trabalham e que, numa era de ecrãs, mantém vivo e dinâmico um jornal regional de grande sucesso.