Especiais | 15-11-2024 20:00

Sem as sombras talvez não conseguíssemos apreciar plenamente a luz

Sem as sombras talvez não conseguíssemos apreciar plenamente a luz
ESPECIAL 37º ANIVERSÁRIO
Joel Marques, director-geral da RSTJ - Gestão e Tratamento de Resíduos

Irei sempre respeitar as tradições que resultam da carolice, abnegação e sacrifício das populações. Elas reflectem o verdadeiro espírito da comunidade e o compromisso das pessoas em se reunirem por um bem comum.

A memória é o disco rígido das experiências que colhemos ao longo das nossas vidas. Tenho tido a capacidade de guardar as lições mais importantes. As experiências que me moldaram e me ajudaram a crescer. Os já muitos desafios enfrentados, as pessoas que conheci e as lições que aprendi ao longo do caminho. Não podemos guardar tudo, mas o que realmente conta não é a quantidade, mas a qualidade.
A verdade é que guardo tanto boas quanto más memórias. As más também têm o seu lugar e com elas tento tirar lições que acabam por moldar a minha perspectiva sobre a vida. Sempre tentei lidar com a adversidade com resiliência. Encaro a dor como uma ferramenta de aprendizagem. As experiências difíceis ajudam-me a valorizar ainda mais os momentos de alegria e amor. Sem as sombras, talvez não conseguíssemos apreciar plenamente a luz.
As minhas melhores memórias são as do nascimento dos meus filhos, Moisés e Elias. Momentos que transcendem as palavras e que moldaram o meu coração. Momentos que definiram a forma como passei a olhar para a vida.
O vínculo à terra é algo muito nosso. A nossa tradição agrícola moldou não apenas a economia, mas também a identidade cultural das nossas gentes. É algo memorável esse nosso percurso. Outro acontecimento memorável é a Revolução dos Cravos em 1974, que impactou todo o país e que, em termos operacionais, partiu aqui do Ribatejo. E temos um território rico em festas tradicionais, que reflectem a cultura e as tradições, reunindo famílias e comunidades. Isso faz da a nossa região um lugar único e especial.
Se pudesse propor a construção de um memorial público, dedicá-lo-ia aos nossos combatentes. Na Carregueira já tive a oportunidade de fazer o memorial do Padrão dos Combatentes. Essas edificações servem não apenas para honrar aqueles que tiveram de lutar numa guerra sem sentido, mas também para lembrar a todos nós a fragilidade da democracia e a necessidade de defendê-la. Num mundo onde o extremismo pode ressurgir é fundamental que essas homenagens sirvam de convites à reflexão e à vigilância.
Como político não tenho má memória. Sempre tomei decisões com o apoio da comunidade da Carregueira e essa proximidade foi essencial. Na verdade, se me esquecesse de algo importante, não precisava esperar muito, porque alguém estava sempre por perto para me dar aquele lembrete. Isso é o que chamo de memória colectiva. A gestão pública coloca uma pressão enorme sobre os eleitos e, no final de cada dia, é essencial que se lembrem de que estão nos cargos para servir. Para isso devem rodear-se de pessoas que estejam sempre prontas a lembrá-los do que é importante. Isso transforma a política em algo mais próximo e mais humano.
As tradições são a cola que une as comunidades e desempenham um papel crucial na formação da sua identidade. Há um debate entre os defensores das tradições e aqueles que as vêem como possíveis entraves ao desenvolvimento, mas acredito que as tradições têm a capacidade de se adaptar e acompanhar a evolução ao longo do tempo. Não nos podemos esquecer que as tradições são, em essência, vontades colectivas.
Irei sempre respeitar as tradições que resultam da carolice, abnegação e sacrifício das populações. Elas reflectem o verdadeiro espírito da comunidade e o compromisso das pessoas em se reunirem por um bem comum.
A tradição de O MIRANTE celebrar cada aniversário com um inquérito é extremamente valiosa. Dessa forma fomenta um diálogo activo e envolvente com a comunidade. Ao incentivar a participação dos leitores fortalece a sua relação com eles, criando assim um espaço democrático onde vozes diversas podem ser ouvidas.
Para o próximo aniversário sugeriria que o tema do inquérito fosse a liberdade e a fraternidade. Vivemos num Estado democrático que nos permite ser vozes activas na sociedade e é fundamental valorizar essa conquista. O tema poderia abrir um espaço para opiniões sobre como preservar e reforçar os princípios de liberdade e justiça.
Os meus sinceros agradecimentos pelo convite para participar nesta edição de O MIRANTE. Será sempre um privilégio poder partilhar pensamentos e reflexões convosco e com os outros leitores. Votos de muito sucesso. O vosso trabalho é vital para fortalecer os laços da comunidade e promover as vozes de todos nós.

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