Especiais | 17-11-2024 11:00

A capacidade de adaptação é uma qualidade, devendo existir a humildade de nos considerarmos eternamente aprendizes

A capacidade de adaptação é uma qualidade, devendo existir a humildade de nos considerarmos eternamente aprendizes
ESPECIAL 37º ANIVERSÁRIO
Ramiro Matos, presidente do conselho de administração da Águas de Santarém

Vamos deixando cair tradições de forma natural. Muitas vezes por desuso ou por serem afrontas à liberdade ou aos direitos dos cidadãos. As praxes académicas, outrora com elementos de humilhação e violência, não fazem sentido e, felizmente, estão abandonadas.

Se pudesse propor a construção de um memorial, seria seguramente, à Liberdade. Um memorial que pudesse representar as suas diferentes dimensões, sem limitar, a liberdade de pensamento, a liberdade de opinião e expressão, a liberdade religiosa, a liberdade de imprensa. E seria esta a minha escolha porque é um tema transversal ao longo da história, mas, simultaneamente, actual. Que vai desde o sentimento de liberdade individual, de autodeterminação, a uma acepção mais colectiva, que importa sublinhar, evocar e lembrar para sempre.
Tenho boa memória, mas tendo a não ocupá-la com questões ou acontecimentos que não me acrescentaram nada enquanto pessoa. Considero que ter boa memória é uma qualidade, mas temos de fazer uma triagem para não esgotarmos esta virtude.
Um optimista guarda sempre mais boas memórias do que más. Há sempre aquelas do segundo tipo, que por mais que queiramos não conseguimos apagar, mas faço um esforço para ter sempre espaço para boas memórias, o que só conseguimos se não guardarmos muitas das más.
Os nascimentos das minhas filhas são, sem dúvida, as melhores memórias que guardo e guardarei. Quanto às piores, retenho a morte dos meus avós, de quem era muito próximo, como memórias e dor, mas, ao mesmo tempo, contrabalançadas pelas (boas) memórias de excelentes momentos de vida com eles.
O Ribatejo tem mais de oito séculos de história, com muitos eventos memoráveis e seria injusto e incauto destacar um único. Temos marcos importantes ligados às memórias históricas e civilizacionais do país. Mas também temos eventos mais recentes, igualmente memoráveis. Nesta ocasião, permito-me destacar um, com 37 anos, que é o nascimento de O MIRANTE, um marco histórico na região, que tem valorizado muitos outros na sua já longa vida, ícone da liberdade de imprensa e de opinião.
Existem muitos políticos coerentes que não se escudam no “não me recordo” para assumir posição diferente. A sociedade evolui e, desde que exista fundamentação, não há problema nenhum em mudar de opinião. A capacidade de adaptação é uma qualidade, devendo existir a humildade de nos considerarmos eternamente aprendizes.
Valorizar as tradições não significa resistir ao progresso. Pelo contrário, significa reconhecer a sua relevância e adaptá-las ao contexto moderno. Quando respeitadas e integradas de forma flexível, as tradições podem enriquecer a inovação, tornando-a mais alinhada com os valores das pessoas. Ao invés de serem vistas como barreiras, as tradições devem ser consideradas como pilares sobre os quais se constrói um desenvolvimento que respeite o passado e abrace o futuro.
Ao longo da vida vamos deixando cair tradições de forma natural. Muitas vezes por desuso, ou por constituírem, numa acepção mais actual, afrontas à liberdade ou aos direitos dos cidadãos. Por exemplo as praxes académicas, outrora com elementos de humilhação e violência, não fazem sentido e, felizmente, estão abandonadas.
Considero que os valores e práticas associados à família podem ser considerados tradições, como, por exemplo, as celebrações familiares. Estas nunca abandonarei. Também a religião católica, porquanto transmite crenças, valores e práticas rituais de geração em geração, pode ser considerada tradição, é outra que nunca deixarei de seguir. Também faço coisas no dia-a-dia que não penso como tradições, mas que acabam por estar ligados a elas. São gestos simples como cumprimentar com beijos e abraços, fazer refeições em família ou beber café de manhã.
A tradição dos inquéritos de aniversário de O MIRANTE é óptima. Fortalece a relação do jornal com a comunidade, na medida em que permite que sejam conhecidos os interesses e ideias do público do jornal. Parabéns a O MIRANTE por esta tradição de dar voz à comunidade que o acompanha.
Sugeria o tema resiliência para o próximo ano. Uma palavra que define actualmente a comunicação social regional. Em tempos de transformação digital, desafios económicos e mudanças drásticas nos hábitos de consumo de informação, o exemplo dos meios de comunicação local é fulcral. Todos precisamos de reflectir e estar preparados para nos reinventarmos e, ao mesmo tempo, mantermo-nos próximos “dos nossos”. O exemplo de resiliência de O MIRANTE é essencial para fortalecer o tecido social e democrático da nossa região.

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