A classe política devia funcionar com prémios e castigos que se reflectissem no vencimento
Propunha a construção de um grande edifício, icónico pela sua arquitectura, que fosse um centro cívico, onde se desenvolvessem actividades de promoção de valores como respeito, honestidade, solidariedade e gosto pelo conhecimento.
Já lhe aconteceu estar com um amigo ou familiar que viveu um acontecimento consigo e que não recorda nada do que se passou, ou recorda-se dele de forma muito diferente?
Curiosamente sim, e normalmente é porque temos perspectivas diferentes desses eventos . Ainda há pouco tempo me cruzei, na Feira da Agricultura, com um colega dos tempos da tropa, natural das Beiras, que na época vivia com dificuldades, e por isso no dia do seu aniversário decidi pagar-lhe o jantar. Passaram mais de 40 anos. Já não me lembrava disso, mas ele fez questão de me recordar todos os detalhes, exactamente porque se sentiu agradecido com o gesto, e eu apenas o fiz porque sabia da sua situação, e porque ele era um bom amigo.
Diz-se muitas vezes que as pessoas em cargos políticos têm má memória. Considera que já tinham má memória antes ou é um problema provocado pelos cargos para que são nomeadas ou eleitas?
Isso é o sistema reinante. Uns serão assim, outros não, mas sabemos que as pessoas dependem umas das outras e mais ainda quando militam num partido. Ser político só será benéfico para a sociedade quando, por um lado, só puderem gerir assuntos para os quais estejam academicamente capacitados e, por outro, quando essa classe funcionar com prémios e castigos financeiros, tipo conta corrente mensal, que se reflectissem todos os meses no seu recibo de vencimento. Até lá, a sociedade civil terá que envolver-se mais na política para impor a realização de muitas das coisas que as pessoas realmente necessitam.
Tem boa ou má memória?
Depende das matérias, porque tudo o que tenha a ver com números não falha. Em geral, nas questões profissionais, retenho facilmente toda a informação que esteja associada a memórias visuais e questões práticas. No resto depende do impacto que cada uma teve.
Existindo boas e más memórias, guarda mais das primeiras ou das segundas?
Tento guardar mais as boas memórias. As coisas menos positivas tento sempre usá-las para aprender e evitar que se repitam, mas normalmente ultrapasso rapidamente os eventos negativos.
Qual a melhor memória que guarda?
Ao longo da vida acontecem tantas coisas boas, que é difícil definir uma. Talvez possa destacar o momento em que me tornei pai.
E a pior?
Talvez a época em que iniciei a actividade profissional, 1986/1987, e tivemos logo uma grave crise económica e social. Este período coincidiu com a entrada de Portugal na CEE, e houve necessidade de ajustar a nossa economia. Basta lembrar que o valor do euro foi fixado em mais de 200 escudos. Creio que foi nessa altura que aprendemos o sentido da palavra austeridade.
Que acontecimentos considera memoráveis na vida da região?
Logo à partida vêm-me à cabeça quatro acontecimentos – O 25 de Abril; a auto-estrada A1; a construção do novo hospital e a criação do ensino politécnico.
Se pudesse propor a construção de um memorial público seria dedicado a quê ou a quem?
Preferiria propor algo mais dinâmico como, por exemplo, um grande edifício que se tornasse icónico pela sua arquitectura, pelo tamanho e pelo papel que teria. Algo como um centro cívico e de apoio à população, onde se pudessem desenvolver actividades que promovessem valores como respeito, honestidade, solidariedade, envolvimento comunitário e gosto pelo conhecimento.
Há alguma tradição que tenha deixado de seguir? E há alguma que já não faça sentido?
Houve uma época, na família, em que reservávamos sempre uma semana para ir para uma estância de neve, que se foi perdendo no tempo à medida que os filhos foram tendo as suas próprias vidas. Em relação a tradições que já não fazem sentido, lembro-me de as pessoas vestirem as suas melhores roupas ao domingo.
Qual a tradição que nunca deixará de respeitar?
Enquanto tiver mãe, hei-de reunir-me com ela para a consoada, e o bacalhau estará sempre na nossa mesa.
O que faz no seu dia-a-dia apenas por uma questão de tradição?
Talvez tomar café, mas mesmo isso acho que é mais porque gosto e não tanto por ser uma tradição.
O que acha desta tradição de O MIRANTE assinalar cada aniversário pedindo aos seus leitores e anunciantes que partilhem as suas opiniões sobre um determinado tema?
Acho bem, porque dar voz aos leitores e anunciantes acaba por criar uma certa relação de proximidade e é uma experiência inclusiva por permitir que a comunidade conheça a opinião dos seus pares.
E que tema sugeria para o próximo?
Parece-me que seria pertinente: A Transição Digital e o Futuro da Imprensa Local.