As crianças revelam grande sabedoria aos adultos que pensam que dominam tudo
Considero memorável o facto de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, ter mandado construir, em Alcanede, o castelo que ainda cá temos. Quer queiramos ou não, está ali um pouco da nossa génese.
Há quem seja defensor das tradições e há quem ache que as tradições são entraves ao desenvolvimento. O que pensa das tradições?
As tradições fazem parte da essência humana e jamais poderão ser entraves ao desenvolvimento. Devem assumir o papel que ocupam e o ser humano, que tem capacidade para ser flexível, deve ser mais permeável à modernização, não esquecendo que o desenvolvimento é um processo contínuo que não pode ser ignorado, pois caso contrário não poderemos falar em desenvolvimento, mas talvez em milagre!
Qual a tradição que nunca deixará de respeitar?
A época Natalícia.
O que acha desta tradição de O MIRANTE assinalar cada aniversário pedindo aos seus leitores e anunciantes que partilhem as suas opiniões sobre um determinado tema?
É uma tradição muito actual. O mundo está sempre em transformação e é tradição nós fazermos parte do processo. Acho muito bem esta ideia do jornal. No fundo é um processo de leitura das mentalidades contemporâneas.
E que tema sugeria para o próximo?
A importância do auto-conhecimento.
Diz-se que há quem tenha memória de elefante e quem tenha memória de galinha. Onde se coloca em termos de memória e porquê?
Coloco-me no lugar do elefante. A vida é constituída por inúmeros momentos, fenómenos, memórias, projectos e circunstâncias que não podemos apagar ou esquecer, pertencem ao nosso passado e ao nosso futuro, constituem um percurso no seu todo! Para continuarmos a andar em frente é no meu entender muito importante que todas estas questões estejam muito bem arrumadinhas nas inúmeras gavetas do nosso cérebro e receio que apesar de se tratar de dois seres irracionais que não possuem os nossos dons, a avaliar pelo tamanho do crânio de cada um destes animais, a galinha talvez não tenha espaço para tantas gavetinhas.
Existindo boas e más memórias, guarda mais das primeiras ou das segundas?
A minha balança está equilibrada. É claro que existem “coisas” que gostaria que fossem diferentes porque no fundo todos pensamos no bem-estar geral e plenitude.
Qual a melhor memória que guarda?
O nascimento das minhas filhas.
E a pior?
A morte da minha gata.
Já lhe aconteceu estar com um amigo ou familiar que viveu um acontecimento consigo e que não recorda nada do que se passou, ou recorda-se dele de forma muito diferente?
Não é agradável. Se é ele que não se recorda, às páginas tantas já não sei se é ele que não se recorda se fui eu que sonhei! Se se recorda do acontecimento de uma forma muito diferente respeito, pois afinal de contas somos todos diferentes e todos temos formas diferentes de sentir e de estar perante o mesmo facto.
Que acontecimentos considera memoráveis na vida da região e porquê?
Considero memorável o facto de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, ter mandado construir, em Alcanede, o castelo que ainda cá temos. Quer queiramos ou não, está ali um pouco da nossa génese.
Se pudesse propor a construção de um memorial público seria dedicado a quem?
Seria dedicado às crianças. Não só porque são o futuro do amanhã, mas também porque na sua inocência revelam grande sabedoria aos adultos que pensam que tudo dominam.
Diz-se muitas vezes que as pessoas em cargos políticos têm má memória. Considera que já tinham má memória antes ou é um problema provocado pelos cargos para os quais são nomeadas ou eleitas?
Considero que os políticos não têm má memoria, mas que arranjaram um conjunto de problemas com os quais é extremamente difícil lidar, e fazem-no da melhor forma que conseguem, tornando a razão na maior parte das vezes opaca.