Especiais | 17-11-2024 17:00

Recordo com frequência ter conseguido que uma aluna me confessasse que era vítima de violação dentro da sua casa

Recordo com frequência ter conseguido que uma aluna me confessasse que era vítima de violação dentro da sua casa
ESPECIAL 37º ANIVERSÁRIO
Isabel Silva, directora do Agrupamento de Escolas de José Relvas - Alpiarça

Um acontecimento que irá ser sempre memorável na vida da região foi a saída das tropas, comandadas por Salgueiro Maia, de Santarém, aquando da Revolução do 25 de Abril. Também foi marcante o regresso dos presos políticos, nomeadamente em Alpiarça, porque foi uma terra muito marcada pela ditadura.

O que pensa das tradições?
Cada região tem características únicas que devem ser conhecidas e transmitidas de geração em geração, para conhecerem as suas raízes, identidade, história e cultura. Apenas desta forma, é possível dar a conhecer às futuras gerações a sua herança cultural e, estas evoluírem com base no conhecimento do passado, mantendo vivas as tradições. Mas não se pode permitir que as tradições se tornem um obstáculo ao desenvolvimento, pelo contrário, devem contribuir para o desenvolvimento sustentável das regiões, devendo promover a preservação do património, quer seja natural, histórico ou cultural.
Há alguma tradição que tenha deixado de seguir? E há alguma que já não faça sentido?
Deixei de apanhar a espiga, porque ficava sempre com alergias.
Qual a tradição que nunca deixará de respeitar?
O Natal. Continuo a adorar o Natal como se fosse criança e não prescindo de fazer a árvore, o presépio e a decoração da casa.
O que acha desta tradição de O MIRANTE assinalar cada aniversário pedindo aos seus leitores e anunciantes que partilhem as suas opiniões sobre um determinado tema?
Acho uma ideia muito interessante. Com os testemunhos dos participantes, por vezes com visões e de áreas muito diferentes, acabam por se debater e divulgar assuntos de grande relevância.
E que tema sugeria para o próximo?
Tendo em conta a actualidade, abordar algo ligado à sustentabilidade do planeta ou à participação cívica e informada nas eleições, por exemplo.
Diz-se que há quem tenha memória de elefante e quem tenha memória de galinha. Onde se coloca em termos de memória e porquê?
Sempre tive uma memória de elefante. Presentemente, com o cansaço e, provavelmente factores da idade, estou a ficar com memória de galinha. Espero que seja uma situação temporária.
Existindo boas e más memórias, guarda mais das primeiras ou das segundas?
Guardo as duas. Já passei por situações más, que queria apagar da memória O ideal seria só guardarmos as boas. Provavelmente vivíamos com mais serenidade, mas foi com os momentos maus que me tornei uma pessoa mais forte.
Qual a melhor memória que guarda?
No meio de tantas, destaco uma que me recordo com muita frequência. Foi ter conseguido que uma aluna me confessasse que era vítima de violação, dentro da sua própria casa. A Polícia Judiciária ouviu a aluna na escola e o acusado no posto da GNR de Alpiarça e não conseguiu apurar nada. Quando ainda estavam no posto, para arquivar o processo, ligaram-me para eu dizer à aluna para ir para casa. Como não estava nada tranquila, chamei-a ao meu gabinete e consegui que me dissesse a verdade. Ainda fui a tempo de evitar a libertação do acusado, que foi condenado a vários anos de prisão.
E a pior?
Das várias más memórias que tenho de acontecimentos passados na escola, recordo a manhã do dia 26 de Setembro de 2014, quando ao primeiro tempo da manhã me tive de dirigir a uma turma do 8º ano, para informar que um colega tinha falecido. Toda a escola andava muito preocupada com o seu estado de saúde, em especial a sua turma. Não foi necessário eu dizer nada, começámos todos a chorar. É uma memória que nunca irei esquecer. Foi muito marcante. Eu própria tinha uma forte ligação com o Bernardo.
Que acontecimentos considera memoráveis na vida da região e porquê?
Um acontecimento que irá ser sempre memorável na vida da região foi a saída das tropas de Santarém, comandadas por Salgueiro Maia, aquando da Revolução do 25 de Abril. Também foi marcante o regresso dos presos políticos, nomeadamente em Alpiarça, porque foi uma terra muito marcada pela ditadura. A nível local é memorável a inauguração como museu da Casa-Museu dos Patudos localizada, em Alpiarça, tendo sido legada ao município pelo seu proprietário, José de Azevedo Mascarenhas Relvas, que é o patrono do nosso agrupamento de escolas.
Se pudesse propor a construção de um memorial público seria dedicado a quê ou a quem?
Propunha a construção de um memorial dedicado aos professores. Esta opção demonstra a profunda ligação que tenho com a educação e com o impacto que os educadores/professores têm na vida das crianças/jovens e, consequentemente na sociedade. Os professores têm a grande responsabilidade de formar cidadãos, incentivar o pensamento crítico e criativo e transformar a vida dos seus alunos. O professor não é apenas um transmissor de conhecimento, mas também de valores, desempenhando um papel essencial na formação dos alunos e na construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Os professores são agentes de mudança e pilares para o desenvolvimento da sociedade.

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