As tradições têm o prazo de validade que as sociedades lhes dão e as minhas são as do tempo em que vivo
A memória tem o seu quê de interpretação. Às vezes até de ilusão e atropelo dos factos. A passagem do tempo vai relativizando os episódios, acrescentado elementos e (re)construindo narrativas.
Diz-se que há quem tenha memória de elefante e quem tenha memória de galinha. Onde se coloca em termos de memória ?
Algures entre esses extremos. Com memória de elefante para o mais relevante e significativo e de galinha para a espuma dos dias.
Existindo boas e más memórias, guarda mais das primeiras ou das segundas? E gostava que fosse diferente?
Um misto de ambas. Se fosse opcional optaria, sem dúvida, pelas mais positivas. Infelizmente as mais negativas, sem serem a escolha óbvia, ficam registadas na fita do tempo e permanecem mais tempo do que seria desejável.
Qual a melhor memória que guarda?
O nascimento das minhas filhas, a que assisti.
E a pior?
As perdas, genericamente, são as piores e as mais difíceis de ultrapassar. Assistir ao desaparecimento dos que partem deixa sempre um enorme vazio.
Já lhe aconteceu estar com um amigo ou familiar que viveu um acontecimento consigo e que não recorda nada do que se passou, ou recorda-se dele de forma muito diferente?
Sim, claro. A memória tem o seu quê de interpretação. Às vezes até de ilusão e atropelo dos factos. A passagem do tempo vai relativizando os episódios, acrescentado elementos e (re)construindo narrativas.
Que acontecimentos considera memoráveis na vida da região e porquê?
A inauguração da variante externa à vila de Arruda dos Vinhos foi sem dúvida impactante.
Se pudesse propor a construção de um memorial público seria dedicado a quê ou a quem?
Aos arrudenses anónimos que têm contribuído para fazer de Arruda dos Vinhos o que é hoje. A justificação penso que está subjacente à importância do contributo de todos para o engrandecimento do território.
Diz-se muitas vezes que as pessoas em cargos políticos têm má memória. Considera que já tinham má memória antes ou é um problema provocado pelos cargos para os quais são nomeadas ou eleitas?
Não subscrevo nem a fama nem a ideia. No entanto, tão importante como a memória são a consciência, a humildade para ouvir e reconhecer o erro comum de quem faz e o espírito crítico.
O que pensa das tradições?
As tradições são os alicerces da identidade. São incontornáveis, endógenas e fundamentais.
Há alguma tradição que tenha deixado de seguir? E há alguma que já não faça sentido?
As tradições têm o prazo de validade que as sociedades lhes dão. Nesse sentido as minhas tradições são as do tempo em que vivo. A complementaridade de papéis entre homens e mulheres é para mim intrínseca à condição humana pelo que o papel que a mulher tinha no passado de menorização para mim não faz sentido.
Qual a tradição que nunca deixará de respeitar?
Os direitos humanos são, para mim, uma tradição de humanismo que é irrecusável.
O que faz no seu dia-a-dia, apenas por uma questão de tradição?
Tradição e educação às vezes confundem-se. Fui educado a segurar a porta às senhoras e dar-lhes prioridade.
O que acha desta tradição de O MIRANTE assinalar cada aniversário pedindo aos seus leitores e anunciantes que partilhem as suas opiniões sobre um determinado tema?
Parece-me bastante relevante. O envolvimento de todos é sempre o barómetro mais fidedigno.
E que tema sugeria para o próximo?
“Qual o papel da imprensa regional numa sociedade global?” Poderá ser uma discussão importante.
Quer acrescentar algo?
Apenas dar os parabéns a O MIRANTE pela data que agora se assinala. E congratulá-lo pelo esforço de contribuir para um jornalismo isento e capaz de informar de forma criteriosa os cidadãos, numa época em que a informação, estando disponível e acessível como nunca, nem sempre é credível.