Especiais | 18-11-2024 14:00

Temos de estar disponíveis para abdicar das nossas certezas e abrir a mente para outras possibilidades

Temos de estar disponíveis para abdicar das nossas certezas e abrir a mente para outras possibilidades
ESPECIAL 37º ANIVERSÁRIO
Duarte Bernardo, directorgeral da Escola Profissional de Salvaterra de Magos

A construção do aeroporto no concelho de Benavente será o ponto de partida para uma nova etapa na afirmação e na centralidade deste território, desde que acauteladas todas as condições urbanísticas e ambientais para que não se coloque em causa a qualidade de vida de quem aqui vive.

Diz-se que há quem tenha memória de elefante e quem tenha memória de galinha. Onde se coloca em termos de memória?
Sempre tive alguma dificuldade em memorizar. Contudo, acredito que a minha memória se encontra no meio das duas opções. A memória do passado mais longínquo, em particular de vivências marcantes, permanece incólume! No entanto, olhando para os tempos de hoje, em que tudo acontece demasiado rápido, reconheço ter maior dificuldade em interiorizar e manter memórias.
Existindo boas e más memórias, guarda mais das primeiras ou das segundas?
Retenho, em larga maioria, as boas memórias. Das más, procuro reflectir no momento, aprender algo com elas e depois deixo-as seguir o seu rumo.
Qual a melhor memória que guarda?
O nascimento dos meus dois filhos.
E a pior?
Os problemas oncológicos que afectaram a minha esposa e a minha mãe.
Que acontecimentos considera memoráveis na vida da região?
Por tudo o que acarreta, do ponto de vista económico e social, a construção do aeroporto no concelho de Benavente será impactante para o desenvolvimento da nossa região. Estou convicto que esta obra será o ponto de partida para uma nova etapa na afirmação e na centralidade deste território, desde que acauteladas todas as condições urbanísticas e ambientais para que não se coloque em causa a qualidade de vida de quem aqui vive.
Se pudesse propor a construção de um memorial público seria dedicado a quê ou a quem?
Proporia um memorial à humanidade onde a consciencialização e a compreensão das causas dos problemas de desenvolvimento e das desigualdades a nível regional, nacional e mundial seriam o tema principal. Temos de estar disponíveis para abdicar das nossas certezas e abrir a mente para outras possibilidades. É importante valorizar a diversidade das sociedades, pois estas oferecem diferentes maneiras de resolver os problemas que nos afectam a todos e permitem-nos valorizar aspectos fundamentais da vida: a comunidade, o ecossistema, o indivíduo. Esse memorial seria como o abraçar de uma visão renovada de evolução humana, social e sustentável, onde se lapidam pessoas para serem reflexivas, produtivas, com capacidade para resolverem e contribuírem para um desenvolvimento integral em prol do bem-comum.
Diz-se muitas vezes que as pessoas em cargos políticos têm má memória. Considera que já tinham má memória antes ou é um problema provocado pelos cargos para os quais são nomeadas ou eleitas?
Creio que o escrutínio público de pessoas que exercem cargos políticos faz com que se tenha, por vezes, a percepção de que a política possa gerar nos seus interlocutores, principalmente em temáticas menos consensuais, alguma amnésia. Contudo, e à semelhança de outras actividades, encontramos na política pessoas com boa e má memória.
Há quem seja defensor das tradições e há quem ache que as tradições são entraves ao desenvolvimento. O que pensa das tradições?
Não creio que as tradições sejam, na sua maioria, um entrave ao desenvolvimento. São sim um baluarte no que concerne à identidade cultural e às dinâmicas sociais de um determinado território. Olhemos o fado. Consta-se que a sua génese provém das viagens dos nossos marinheiros no tempo dos descobrimentos. É notório no seu canto a similaridade dos ornamentos muito típicos em certos rituais de países árabes. A guitarra portuguesa deriva do Cistre Inglês. Este exemplo de interacções multiculturais e geracionais deram origem a uma identidade e tradição tão nossa com é o fado.
E qual será o seu futuro?
Por não serem estanques, acredito que as tradições manterão viva a história que as alicerça e, simultaneamente, assumirão novos elementos de acordo com o tempo em que se situam.
Há alguma tradição que tenha deixado de seguir? E há alguma que já não faça sentido?
O dia do bolinho é uma tradição muito enraizada na região onde eu vivia. Quando era miúdo, no dia dos finados, ia com os meus amigos bater à porta dos vizinhos para pedir bolinho.
Qual a tradição que nunca deixará de respeitar?
O Natal em família.

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