O melhor da região tem sido a capacidade das mulheres e homens se associarem e alavancarem a vida colectiva e social
Sempre tive a mania que tinha uma boa memória, mas reconheço que recordo com facilidade e até com saudade as cousas que se passaram há muitos anos e que surpreendentemente esqueço os acontecimentos recentes.
Se pudesse propor a construção de um memorial público seria dedicado a quê ou a quem?
Felizmente já tive essa oportunidade. Na qualidade de presidente de junta mandei fazer um mural (entre outros dois) a um dos heróis de Alhandra, o grande campeão Baptista Pereira, primeiro português a atravessar o Canal da Mancha a nado, e participei na construção do monumento comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril, cujo o sentido é homenagear os
anti-fascistas que muito pugnaram para que hoje possamos viver em liberdade e em democracia.
Diz-se muitas vezes que as pessoas em cargos políticos têm má memória. Considera que já tinham má memória antes, ou é um problema provocado pelos cargos para os quais são nomeadas ou eleitas?
Não concordo com quem diz isso. Quem está efectivamente para servir e dá o seu melhor todos os dias, não esquece os compromissos que assume ou assumiu! O que acontece é que muitas vezes por desconhecimento os políticos comprometem-se com assuntos que não são da sua esfera de decisão e depois não conseguem resolver as situações… se forem sérios dão conta da memória.
Diz-se que há quem tenha memória de elefante e quem tenha memória de galinha. Onde se coloca em termos de memória?
Boa pergunta! Curiosamente, agora que penso nisso, percebo que a minha memória também é selectiva. Sempre tive a mania que tinha uma boa memória, mas reconheço que recordo com facilidade e até com saudade as cousas que se passaram há muitos anos e que surpreendentemente esqueço os acontecimentos recentes. Talvez isso aconteça por entender que não deva gastar “ram” com eles. Quero acreditar que este comportamento resulte de uma defesa própria e natural do envelhecimento. Sim, todavia, gosto de pensar que tenho uma memória de elefante.
Existindo boas e más memórias, guarda mais das primeiras ou das segundas?
Acredito que guardamos com mais facilidade todas aquelas memórias que nos marcaram! Sejam elas boas ou más. Tenho a certeza que as guardo em mim, e que as uso como referência ou “bitola” no meu processo de crescimento e de transformação/amadurecimento da personalidade. Por isso, não consigo distinguir quais são as de maior importância.
Qual a melhor memória que guarda?
Nascimento do meu filho.
E a pior?
A morte dos meus entes queridos.
Já lhe aconteceu estar com um amigo ou familiar que viveu um acontecimento consigo e que não recorda nada do que se passou, ou recorda-se dele de forma muito diferente?
Sim já aconteceu, até por mais do que uma vez! Há tempos fui procurado por um casal e fomos beber um café. Tivemos na conversa cerca de 15 minutos. Falámos de vivências que alegadamente passámos juntos e que não me soaram estranhas. Despedimo-nos com um grande abraço e ainda hoje não sei como se chamam nem tão pouco quem são.
Que acontecimentos considera memoráveis na vida da região e porquê?
Sou uma pessoa muito agradecida à vida, às pessoas que têm feito parte dela e às oportunidades que esta me tem dado. Cresci numa época de muitas dificuldades económicas e sociais, mas rodeado de pessoas abnegadas, solidárias, amigas e sobretudo de actores sociais de grande valia que serviram, educaram e transformaram a comunidade através do movimento associativo. Posto isto, creio que os melhores acontecimentos da vida da região têm sido a capacidade das mulheres e dos homens se associarem e alavancar a vida colectiva e social da região.
Há quem seja defensor das tradições e há quem ache que são entraves ao desenvolvimento? O que pensa das tradições?
No contexto de costumes e valores e da ligação aos nossos antepassados e à educação, vejo-as e respeito-as como cultura social e como ligação às nossas raízes. Do ponto de vista global quando usadas para justificar determinados hábitos e costumes sociais, muitas delas, aos olhos de hoje, transformaram-se em crime e essas interpreto-as como um entrave ao desenvolvimento e ao bem-estar social. Nada nesta vida é imutável. Por isso, há tradições que, em determinado momento, à medida que as pessoas se deixam de identificar com elas, vão desaparecendo.
Qual a tradição que nunca deixará de respeitar?
Os bons modos, a verticalidade e a educação.
O que acha desta tradição de O MIRANTE assinalar cada aniversário pedindo aos seus leitores e anunciantes que partilhem as suas opiniões sobre um determinado tema?
Dou os parabéns a O MIRANTE pelo seu aniversário, e por tão importante serviço público de debate e confrontação de ideias. E sugiro que o tema do próximo inquérito seja Respeito e Educação. Bem hajam! .