Dos bairros problemáticos a trabalhar na área da delinquência para uma carreira na restauração
Zita Freire deixou para trás um percurso profissional ligado ao serviço social e há nove anos tornou-se empresária a tempo inteiro. Administradora do Mosteiro do Leitão é determinada e auto-confiante. Ingredientes que, considera, são fundamentais para se vingar no mundo dos negócios. O seu espírito empreendedor levou-a a abrir em plena pandemia dois espaços de restauração, que são um sucesso na Zibreira, em Torres Novas.
Zita Freire, administradora do Mosteiro do Leitão - empresa de restauração com dois restaurantes, um na Batalha e outro na Zibreira, em Torres Novas, e uma indústria na área de assadura de leitão - é um exemplo de empreendedorismo no feminino e dona de um percurso profissional que é tudo menos provável. Licenciada em Serviço Social, trabalhou em bairros problemáticos na área da delinquência juvenil, passou pelo gabinete de acção social da Câmara de Ferreira do Zêzere e pela realização de auditorias internacionais a instituições particulares de solidariedade social na área da deficiência. Foram anos de trabalho longe de imaginar que se iria tornar numa empresária de sucesso no ramo da restauração depois de se juntar, em 2015, ao marido Bruno Figueiredo - que geria desde 2008 o Mosteiro do Leitão.
Para a empresária, natural de Linhaceira, concelho de Tomar, no mundo dos negócios não há espaço para imprevistos nem vitimizações. Zita Freire gosta de assumir o controlo e de ponderar bem antes de tomar uma decisão, mas se sente que deve investir avança. Foi o que aconteceu em 2020 quando, em plena pandemia de Covid-19, Bruno e Zita decidiram dar continuidade ao restaurante da Batalha levando para Torres Novas o conceito e a especialidade da casa: o leitão à Bairrada, de produção própria que aposta no bem-estar animal, assado em fornos no restaurante e com um molho que o distingue dos outros. Além desta iguaria, muitas outras, como o premiado risoto de cogumelos, fazem as delícias dos clientes. No ano seguinte, ainda na pandemia, abriram a Casa das Sandes de Leitão, ao lado do restaurante na Zibreira, para o cliente que quer comer algo rápido.
Os bons resultados do grupo composto por quatro empresas, que em 2023 facturou 15 milhões, devem-se à dedicação e vontade de fazer mais e melhor todos os dias. É também por isso que a aposta nos recursos humanos é constante e uma mais-valia no Mosteiro do Leitão. Um dos objectivos de Zita Freire foi “eliminar a nuvem negra” que diz cobrir a restauração no que respeita à alta rotatividade de funcionários e “má fama” do sector enquanto empregador e fazer do Mosteiro do Leitão “um bom lugar para trabalhar”. Ouvir os colaboradores, tentar adaptar os horários de trabalho às suas necessidades e desafiá-los a crescer profissionalmente foram algumas das medidas implementadas pela empresária, que não gosta de ser “patroa” nem que a tratem por “dona”.
O grupo emprega actualmente cerca de 130 pessoas entre restauração e agropecuária, em várias categorias profissionais e habilitações literárias. A empresária diz que não tem sentido dificuldade na contratação, precisamente, porque há no grupo uma “taxa de fixação muito forte” que permite ter uma equipa estabilizada, o que, por sua vez, se reflecte na qualidade do desempenho de funções e, por último, na satisfação do cliente.
A empresária, que gosta de olhar para o negócio como um jogo onde cada jogada conta para se sair vitorioso, tem sido também um motor para que o Mosteiro do Leitão seja cada vez mais uma referência gastronómica na região e continue a crescer de forma sustentada. Em breve, com mais um restaurante, desta vez, na cidade de Leiria.
Ainda há muros por derrubar para haver mais mulheres a liderar
Enquanto empresária e administradora do Mosteiro do Leitão, Zita Freire lamenta a “violenta” carga fiscal para as empresas em Portugal que acaba por fazer os empresários “retrair” ao invés de investirem mais no crescimento dos seus negócios. E que sejam vistos como os maus da fita quando o seu trabalho contribui para o crescimento da empregabilidade e do país. Zita Freire afirma que ainda há quem tenha dificuldade em aceitar receber ordens de uma mulher. É por isso que no Mosteiro do Leitão, que na Zibreira tem uma mulher como chef de cozinha, se preocupa com a paridade e igualdade salarial.
Zita Freire lançou, através do Mosteiro do Leitão, a EstrELA Monumental, uma iniciativa que desafia as jovens estudantes de hotelaria no Dia Internacional da Mulher a criarem um prato e uma sobremesa que após avaliação e selecção de um júri foram incluídos na carta oficial dos restaurantes Mosteiro do Leitão. Além da componente igualdade esta iniciativa é também solidária com a receita resultante das vendas desses pratos a reverter para instituições de apoio à mulher escolhidas pelas alunas. A empresária considera que no mundo empresarial as mulheres têm de ser muito mais resilientes e auto-confiantes para vingar, assim como na vida em geral. E isso, conta, aprendeu com a sua avó, Maria Vitória. Mãe de uma filha e um filho diz que jamais vai impor a qualquer um que dê continuidade ao negócio.