Saiu de casa aos 10 anos, distribuiu pão numa bicicleta e hoje emprega mais de duas centenas de pessoas
Manuel Pereira construiu uma grande empresa de panificação e pastelaria, com 17 lojas e uma fábrica que gasta seis toneladas de farinha por dia só para fazer pão. Uma zanga com o pai que não lhe deu o dinheiro do trabalho na vindima marcou um caminho de empreendedorismo feito com muito trabalho.
Manuel Pereira a seguir à quarta classe fez a escola da vida começando a trabalhar aos 10 anos na vindima nos campos de Almeirim. E foi por causa desse trabalho que se tornou um empreendedor fundando uma empresa que hoje é uma das maiores na área da panificação e bolos. Foi uma zanga com o pai que não lhe deu o dinheiro do seu esforço que o fez sair de casa aos 10 anos e procurar o seu caminho que começou numa padaria do irmão onde fazia o pão e depois ia distribuí-lo numa bicicleta com seirão, que hoje está à entrada do escritório da fábrica em Abrantes, como uma marca de um percurso de trabalho.
O fundador da marca “Sabores do Ti Pereira”, com sede em Abrantes, também andou a entregar pão de porta em porta num burro e numa motorizada. Foi por causa de um acidente de moto, aos 16 anos, em que fracturou a coluna em três sítios, que teve de parar dois anos. Os únicos que não trabalhou na vida, já que não consegue estar em casa sem fazer nada e, ainda hoje, é ele que faz à moda antiga o característico “Pão do Ti Manuel”, que tem a particularidade de estar a levedar seis horas. Uma especialidade que só é distribuída nas suas lojas às terças, quintas, sábados, domingos e feriados.
Manuel Pereira, 62 anos, com mais de meio século de trabalho, também trabalhou numa padaria de um cunhado aos 14 anos e tinha que ir buscar a água em bidões às costas para amassar o pão numa máquina que trabalhava a gasóleo. Aos 18 anos, depois do acidente, arrendou com um primo a padaria onde trabalhou antes do acidente, mas a sociedade não correu bem, tal como o supermercado que abriu em Abrantes. Um dia andava às voltas de carro a pensar na vida quando descobriu uma padaria em Vale das Mós, arrendou-a e nunca mais parou de crescer.
Em 2005 instalou-se no parque industrial de Abrantes ao lado de uma padaria, que acabou por comprar em 2018, dando um novo impulso à empresa que tem 17 lojas e 34 rotas de distribuição. Manuel Pereira diz que vai ter de redefinir as rotas porque há sítios onde ou quase não há gente ou as pessoas levam o pão do supermercado. Visionário, como sempre foi, perspectiva que daqui a uma década o pão que se vai vender é congelado para as pessoas fazerem em casa. Uma vertente na qual já está a trabalhar com várias câmaras de congelação na fábrica.
Nos tempos áureos de crescimento do negócio, o empresário dormia quatro horas no máximo. As rotinas e o espírito trabalhador fazem-no levantar todos os dias entre as 05h00 e as 06h00. Manuel Pereira sente-se mal quando a empresa não funciona por não ter nada para fazer e isso só acontece dois dias no ano, no Natal e Novo Ano. A fábrica está aberta 24 horas por dia e quando é preciso fechar os portões naqueles dois dias às vezes não se sabe das chaves ou então as fechaduras estão emperradas.
Manuel Pereira manteve sempre a empresa no seio da família, onde trabalham actualmente dois filhos, um que acompanha mais a produção e outro que está mais no escritório. Tem uma filha que está a estudar e que provavelmente vai também ter um papel na empresa. É um bom garfo e cozinha todos os dias para a família. Dizem que o arroz de marisco é o melhor. Já esteve no estrangeiro e isso só reforçou a ideia que sempre teve de que não há país melhor que Portugal. Uma das coisas que mais o inquieta enquanto empresário é a responsabilidade que tem perante as famílias que dependem da empresa.
Seis toneladas de farinha usadas diariamente para fazer pão
A fábrica do Grupo Ti Pereira, em Abrantes, usa diariamente seis toneladas de farinha para fazer pão e confecciona 12 mil bolos. O seu pão já ultrapassou as fronteiras e é vendido no país vizinho em Badajoz. O grupo, com três bases logísticas em Portalegre, Ponte de Sôr e Campo Maior, agrega também o Monte do Salvador, com mais de três centenas de bovinos alimentados com as sobras da farinha e do pão. A empresa, que num negócio de cêntimos factura cerca de um milhão por mês, emprega 240 pessoas e tem 17 lojas. A Palha de Abrantes e as tigeladas são ex-líbris das pastelarias.
Tem a trabalhar pessoas de 11 nacionalidades e a contratação de mão-de-obra é cada vez mais uma complicação. Os funcionários mais antigos são portugueses e estão há mais de 15 anos na empresa. Os supermercados Aldi e Intermarché são seus clientes e a distribuição do pão abrange as zonas Centro e Alto Alentejo. No Sardoal estão a fazer um investimento numa fábrica que vai ser toda automatizada para produzir pão congelado, que tem a vantagem de não ter desperdício.