Juventude Ouriense: “somos com orgulho um clube da terra com uma grande vontade de superação”

Personalidade do Ano Desporto - Juventude Ouriense
O Juventude Ouriense foi fundado em 1952 por um grupo de cidadãos de Ourém que queria oferecer à comunidade mais modalidades desportivas além do futebol. Depois de uma hibernação de vários anos o clube ganhou nova vida com dirigentes apostados em dinamizar o desporto no concelho. Hoje conta com mais de 400 atletas e uma grande vontade de vencer e levar mais longe o nome da terra. O grande sonho da direcção presidida por Renato Lopes é vir a ter um pavilhão condigno na cidade, agregando várias modalidades que treinam em cinco pavilhões diferentes espalhados pela cidade. O dirigente diz que o clube é o que é devido ao esforço de várias pessoas que dão o tempo que podem para manterem as actividades e sublinha que é preciso ter sorte, mas a sorte dá muito trabalho.
Qual é a importância do Juventude Ouriense no concelho?
Muito importante. Somos o clube mais eclético do concelho de Ourém. Não conheço a nível regional um outro clube que tenha tantas modalidades como nós. Quando vim para a direcção só tínhamos três modalidades. Temos modalidades que nasceram connosco do zero e lutámos muito para que elas sejam o que são hoje. Temos muitas pessoas que dedicam muito tempo ao clube e aos nossos atletas e temos o melhor campo de tiro com arco do país, pelo que conheço. No concelho somos o único clube com desportos indoor. Pode haver outros clubes com karaté ou ginástica, mas nos desportos indoor tradicionais somos nós que damos uma alternativa desportiva à comunidade que não seja futebol.
E como é que se consegue manter a dinâmica do clube?
O clube rege-se por carolas, um grupo de pessoas que dedicam a esta comunidade e esta casa muito do seu tempo livre, em prejuízo da família e até do trabalho, para levar o Ouriense para a frente. Eu sozinho nunca conseguiria levar isto para a frente. Temos dezenas de pessoas que estão em equipas técnicas, quer como directores ou como delegados.
Ganham financeiramente tudo o que merecem?
Não conheço nenhum clube que possa dizer que está satisfeito com as verbas que tem. Nós fazemos sempre uma gestão diária para que nada falhe. Somos muito criteriosos com o nosso orçamento.
É esse critério que evita passos maiores que a perna?
Temos um orçamento provisional em que sabemos quanto vamos gastar mas depois durante o ano temos de fazer uma gestão equilibrada do dinheiro para não termos problemas. Já me lembrei de numa ou duas situações vermos que não tínhamos dinheiro suficiente para as necessidades e reunimos toda a gente para ir para a rua pedir patrocínios. O clube não sobreviveria se não houvesse a ajuda da câmara, que é o nosso principal patrocinador e quem nos dá o maior apoio. Se tivéssemos de pagar um aluguer à câmara pelos espaços precisaríamos de muito dinheiro. A nossa câmara dá-nos um apoio bastante grande para permitir a sustentabilidade do clube e temos de fazer a nossa gestão com base nas mensalidades dos atletas e patrocínios, porque as equipas seniores não pagam mensalidades, como em qualquer outro clube.
O Juventude Ouriense é um clube com coração grande…
Somos um clube da terra, com força de vencer e de superação muito grande. O espírito competitivo não tem nada a ver com os clubes de outras divisões. Aqui sentimos muito o amor à camisola e ao desporto. Temos um grupo grande de pessoas que quer levar o clube para a competição e um outro grande núcleo de pessoas que quer proporcionar à comunidade a prática do desporto. E estamos cá para dar a oportunidade de todos poderem praticar o que quiserem.
Ainda é fácil ser dirigente associativo ou os clubes já deviam ter gestores profissionais?
As pessoas é que são o coração do clube. Os carolas que estão sempre aqui a defender a camisola e a lutar pela comunidade. Quem está com o Ouriense tem o Ouriense no coração. Se tivéssemos um gestor a trabalhar diariamente ganhávamos com isso, claro, mas o clube não tem capacidade financeira para isso.
ESTAR NO ASSOCIATIVISMO É LEVANTAR CEDO E DEITAR TARDE
Quais são actualmente os desafios do associativismo?
Estou no associativismo desde 2001 e sinto que há um grande défice de pessoas que queiram dedicar tempo às causas da comunidade. O futuro dos clubes passa por terem ao serviço gestores remunerados. Se isso é para todos os clubes? Não. Mas os clubes sem a dedicação das pessoas das comunidades vão começar a acabar.
Têm que incentivar os jovens para o associativismo.
Vejo os jovens muito longe de abdicarem do seu conforto para dedicarem tempo às associações e clubes. Estar no associativismo é levantar cedo muitos dias do ano para ir fazer actividades e deitar tarde. Há pessoas que estão ligadas a determinadas modalidades que se dedicam a fazê-las crescer. E há outras pessoas, os directores, que estão em todas. A minha modalidade é o Juventude Ouriense. Mas se cada um puxar pela sua modalidade já é muito bom.
Os pais hoje em dia compreendem as mais-valias do desporto?
Os pais olham para os filhos como um reflexo daquilo que eles queriam ser. Muitos querem que os filhos pratiquem desporto porque não tiveram hipótese de o fazer. Noto que muitos atletas estão nas modalidades por gosto, mas acredito que alguns estão cá porque os pais é que os encaminharam para cá. Os mais pequenos costumam querer só futebol. Um dos nossos maiores desafios é captar atletas para o hóquei, por exemplo. Toda a gente joga futebol no intervalo da escola, mas não se joga hóquei.
Quais são os principais desafios do Juventude Ouriense?
Sobretudo dinheiro (risos). Mas temos uma grande necessidade - e o presidente da câmara sabe - que passa pela construção de um pavilhão condigno para as modalidades em Ourém, que sirva a cidade. Ainda há pouco tempo fizemos um espectáculo da patinagem muito bonito e se tivéssemos um pavilhão que levasse mil pessoas teríamos tido lotação esgotada. Tivemos recentemente um evento de geocaching com 33 países representados e mais de 500 atletas e tivemos de o fazer no centro de negócios. Se tivéssemos um pavilhão central seria melhor. O presidente concorda que precisamos de um pavilhão como deve ser, mas também é verdade que o dinheiro não cai do céu. Se me saísse o Euromilhões construía um pavilhão em Ourém.
Qual é que é a modalidade que precisa de mais apoio e dedicação?
O Ouriense é muito conhecido a nível nacional pelo hóquei e de ano para ano a modalidade tem vindo a perder atletas. Era uma modalidade muito acarinhada no país, mas hoje não é fácil dizer a um pai para comprar uns patins e gastar algum dinheiro. Toda a gente vê o hóquei e a patinagem como um desporto caro, talvez de elite. Gostava de meter outra vez o hóquei sénior na ribalta e voltar à glória do passado.
O que é preciso fazer para que as pessoas continuem a ajudar o clube voluntariamente?
No associativismo nunca conseguimos dar ordens a pessoas que trabalham a título gratuito. Não posso dizer a alguém que o trabalho que está a fazer está mal feito porque está a fazê-lo de boa vontade. Não é fácil. O que tem de haver é uma resiliência e um discernimento muito grande, juntamente com uma capacidade de gestão de conflitos. Um dirigente que seja agressivo e autoritário não consegue mover as pessoas. E o nosso lema é tentar levar o clube a bom porto equilibrando todas as personalidades. O factor humano é o mais difícil de gerir. Temos um clube saudável porque temos um grupo muito grande de pessoas que se ajudam imenso entre si e fazem com que o clube esteja saudável e sólido, com caminho para andar.
Durante a pandemia chegou a temer pelo futuro das modalidades?
Quando acabou o confinamento tínhamos muito poucos atletas. Temi que não continuássemos a crescer tão bem como estávamos a crescer até à pandemia. Mas agarrámos no clube, levámos isto para a frente e não baixámos os braços. Sinceramente, não pensava que nesta altura estivéssemos tão bem como estamos. Tivemos sorte e deixámos as coisas acontecerem naturalmente. A sorte dá muito trabalho.
Um nome do desporto com 73 anos
O Juventude Ouriense deu os primeiros passos em 1952 e durante vários anos serviu para muitos jovens ourienses praticarem algumas modalidades de pavilhão, como o basquetebol e o hóquei em patins. Na altura, para ajudar a suprir dificuldades financeiras, os responsáveis do clube, muito jovens, organizaram várias actividades de índole cultural, chegando mesmo a ter um grupo de teatro. O aparecimento de um novo clube, na então Vila Nova de Ourém, não foi muito bem aceite e os entusiastas da sua formação não conseguiram ultrapassar as grandes dificuldades de ordem financeira que se instalaram no clube e este acabou por hibernar, não tendo no entanto fechado totalmente portas.
Os jovens que chamaram a si a criação do clube deixaram o Juventude Ouriense devidamente legalizado e ficou apenas à espera que aparecesse alguém com vontade e condições para o acordar. O que veio a acontecer quase 40 anos depois da sua fundação, com um grupo de pessoas insatisfeitas com a situação e com vontade de praticar modalidades de que gostavam muito, mas que não tinham clube onde o fazer. Foi então que lançaram mão ao renascimento do Juventude Ouriense. Queriam praticar hóquei em patins e patinagem artística, e foram falar com os dirigentes que em 1952 lançaram o clube.
Foram recuperados os estatutos originais e em 1992 o Juventude Ouriense renasceu para se tornar um dos maiores e mais representativos clubes de modalidades da cidade de Ourém e do concelho. Daí para cá ganhou influência na vida desportiva e social do concelho de Ourém. Recebeu e formou milhares de crianças e jovens, nas modalidades de patinagem artística, hóquei em patins e natação.
O clube expandiu-se e tem actualmente dez modalidades: hóquei em patins, patinagem, natação, futsal, tiro com arco, geocaching, escalada, danças latinas, basquetebol e trail. Modalidades praticadas em cinco pavilhões espalhados pela cidade e pelas piscinas municipais. O clube movimenta, no total, mais de 400 atletas e tem quatro centenas de sócios com as quotas em dia. A direcção tem 14 pessoas e o orçamento anual ronda os 150 mil euros.
Nos últimos anos os atletas do clube conquistaram vários títulos, principalmente nas modalidades de hóquei em patins, patinagem, futsal e natação. Os seniores do hóquei alcançaram há vários anos a primeira divisão nacional, onde estiveram, durante dois anos, em competição com os grandes da modalidade. Este ano a equipa sénior de futsal feminino está a disputar o play-off de acesso à primeira divisão nacional. No ano passado o mérito do Juventude Ouriense foi também reconhecido pela Câmara de Ourém, que lhe atribuiu o prémio de Clube do Ano.