Medicina Dentária preventiva: manter antes de tratar

Apesar de Portugal ser um dos países com mais médicos dentistas, estudos estatísticos recentes revelam-nos que somos dos países da Europa a que menos se recorre a estes cuidados.
Apesar de Portugal ser um dos países com mais médicos dentistas, estudos estatísticos recentes revelam-nos que somos dos países da Europa a que menos se recorre a estes cuidados, daí encontrarmos uma tão elevada prevalência de cáries, lesões tecidulares como gengivites, periodontites e perdas completas de peças dentárias, quer seja em crianças ou adultos.
O flagelo da saúde oral dos portugueses é antigo e encontra-se enraizado na nossa sociedade, estando a perda de peças dentárias já normalizada, assim como a ida ao médico dentista apenas em situações de urgência ou em alturas de muita aflição.
Esta perspectiva errada da saúde oral tende a persistir. No entanto, cabe a nós, médicos dentistas e pacientes, alterar a leviandade com que a nossa saúde oral é tratada. É necessário conseguir explicar ao paciente que uma visita regular ao dentista é necessária e importante, para que não chegue a existir a queixa de dores ou o mal-estar.
É aqui que entra o papel da Medicina Dentária preventiva e a sua importância na prevenção das doenças orais, dentárias; no alerta para diferentes hábitos, bem como na promoção de uma correcta higiene oral.
Esta prevenção é importante ser feita, numa primeira etapa, em casa, através da observação regular da totalidade da cavidade oral aquando da higienização, para identificar possíveis alterações ou anomalias, para posteriormente serem relatadas numa segunda fase da qual vos vou falar mais em detalhe: as consultas de rotina.
Estas consultas revelam-se de extrema importância para a observação clínica de alguma alteração tecidular ou das peças dentárias, quer haja sintomatologia ou não.
Não devemos cair na tentação de marcar apenas quando dói, pois muitos casos de lesões cariosas são, nesta fase, identificados. No entanto, é também nesta fase que lesões que podem decorrer de carcinomas ou de outro tipo de lesões mais graves ou complexas, que afectam a cavidade oral, devem ser identificadas e tratadas com um correcto diagnóstico, e numa fase o mais inicial possível.
De forma mais detalhada, nestas consultas são normalmente observados e avaliados o tecido gengival, a sua cor, forma, a língua, lábios, bochechas, céu da boca, problemas articulares ou musculares da face, assim como as peças dentárias e os seus tratamentos anteriores, bem como próteses e implantes.
A avaliação é feita de forma visual, observando e registando cada detalhe. No entanto, em algumas situações, pode ser necessária a utilização de exames chamados complementares, como as radiografias intra ou extra-orais, para ajuda num correcto diagnóstico.
Muitas vezes, nestas consultas podem ser realizados os seguintes tratamentos: a destartarização com jacto e raspagem, que consiste na remoção de pigmentação, de placa bacteriana e de tártaro das superfícies dentárias supra e infra-gengival, através da utilização de um aparelho de ultra-sons e de curetas (instrumento com um lado cortante em forma de colher, próprio para fazer raspagens).
No caso de crianças, pode ser necessária a aplicação de selantes de fissuras nas superfícies mastigatórias dos dentes, com o objectivo de tornar estas superfícies com menor capacidade de retenção de resíduos alimentares, diminuindo o risco de cárie dentária. Assim como o reforço na instrução e motivação para a higiene oral, para que o paciente aprenda ou melhore a utilização correcta do fio dentário e a técnica de escovagem mais adequada para a sua situação oral.
Recomenda-se uma consulta de seis em seis meses, para que se previnam doenças orais, gengivais, se detectem lesões de cárie e se promovam os bons hábitos de saúde oral. Mantendo esta regularidade de consultas e tendo os cuidados diários necessários, é suficiente para a sua boca estar nas melhores condições possíveis sempre, diminuindo drasticamente possíveis dores e incómodos ao longo da vida.
Por tudo isto, cabe-nos a todos mudar a mentalidade e reforçar a consciencialização da importância da Medicina Dentária e da sua importância na qualidade de vida dos portugueses, crianças, jovens ou adultos. É importante manter saudável e não ter de tratar ou reabilitar.
É, assim, importante manter o conforto, a eficiência da mastigação, a confiança e o sorriso dos portugueses por muito tempo. É altura de sairmos da cauda da Europa no que diz respeito aos cuidados da saúde oral.