Desmaios e palpitações: será arritmia cardíaca?

Em casos de arritmias, médico e doente têm de ser “detectives”, para chegar ao diagnóstico.
É comum os cardiologistas serem procurados por sintomas súbitos de perda de consciência, tonturas e percepção de o coração estar a bater muito depressa (palpitações). Frequentemente, estes surgem em pessoas que não têm conhecimento prévio de problemas cardíacos, nem histórico de episódios semelhantes.
Muitas vezes, os doentes desmaiam repentinamente e, após recuperarem a consciência, apresentam-se bem, como se nada tivesse acontecido. Nos doentes com palpitações esporádicas, o batimento cardíaco pode voltar a normalizar por completo de forma súbita. Estas queixas, habitualmente, vão e voltam dias, semanas ou meses mais tarde, podendo causar um grande incómodo e ter consequências ligeiras ou mais graves.
Perante estes sintomas, é aconselhável consultar o cardiologista, que irá avaliar o doente e recomendar a realização de exames de diagnóstico. No entanto, é possível que estes exames, feitos fora dos períodos “de crise”, nos casos em que os sintomas são breves e ocasionais, apresentem resultados normais, por muito detalhada e completa que seja a investigação.
Neste contexto, alguns indícios podem apontar para a causa. É muito importante que o doente, ou testemunhas, relatem com precisão o que foi sentido antes, durante e após o sucedido. Por exemplo, como estava quando perdeu a consciência, que sintomas semelhantes houve anteriormente, e que outras doenças tem ou teve no passado.
Permita-me o leitor um aparte, em jeito de chamada de atenção: para conseguirmos gerir a situação da melhor forma, é essencial que o doente tenha sempre presente a sua lista de medicação actualizada, com as doses de cada fármaco e os horários das tomas, e que a partilhe com o médico. Ter determinado sintoma quando se está a tomar um medicamento pode ter uma conotação completamente diferente de não estando, e pode ser necessário ajustar as doses ou evitar interacções farmacológicas.
Após uma avaliação clínica detalhada, impõe-se pesquisar se uma arritmia é a causa dos sintomas. A única forma de o fazer é pela monitorização do ritmo cardíaco, por um período de tempo que deverá ser tanto maior quanto mais espaçados no tempo forem os eventos. Os métodos incluem o Holter 24 horas, para sintomas muito frequentes; os detectores de eventos externos, para períodos de poucas semanas; ou os detectores de eventos implantáveis, que requerem uma pequena intervenção para colocação e permitem monitorizar o ritmo cardíaco durante cerca de três anos.
Hoje em dia, existem também gadgets, cada vez mais acessíveis, que ajudam a monitorizar, de forma constante e muito fiável, o ritmo do coração — desde bandas e sensores, a relógios, que acompanham o doente no seu dia-a-dia e, inclusivamente, têm outras utilidades. Quando os sintomas ocorrem são capazes de registar alterações do ritmo cardíaco, ajudando a confirmar ou excluir uma arritmia.
Em conclusão, perante perdas de consciência ou palpitações, é essencial a colaboração entre médico e doente, para apurar as circunstâncias em que ocorrem, e é decisivo monitorizar o ritmo cardíaco durante novas crises, para um diagnóstico preciso e consequente tratamento adequado.