Ensino profissional é uma via de excelência e não uma alternativa de segunda linha

Termina mais um ano lectivo e, com ele, renasce a expectativa de vermos concretizadas mudanças que, há muito, são pedidas por quem conhece de perto a realidade do ensino profissional.
Termina mais um ano lectivo e, com ele, renasce a expectativa de vermos concretizadas mudanças que, há muito, são pedidas por quem conhece de perto a realidade do ensino profissional. É, por isso, com entusiasmo e sentido de responsabilidade que saudamos a inclusão, no programa do Governo, de medidas que visam reforçar e valorizar o ensino profissional, nomeadamente através da atualização das tabelas de financiamento, um passo essencial e há muito aguardado.
Esta atualização é mais do que uma medida técnica; representa um ato de justiça e de reconhecimento do papel estratégico que o Ensino Profissional desempenha na sociedade, na qualificação dos jovens e na resposta às necessidades reais do mercado de trabalho.
Permite-nos, também, reforçar a sustentabilidade das escolas profissionais, muitas vezes sujeitas a exigências pedagógicas e tecnológicas que não se coadunam com os financiamentos actuais. Com este reforço, abre-se a possibilidade de alargar a nossa capacidade de acção, melhorar as condições de ensino e investir com maior eficácia na inovação educativa.
Um dos eixos centrais deste novo ciclo será, sem dúvida, o reforço dos Centros Tecnológicos Especializados (CTE). Nas escolas profissionais onde exerço funções, como a EP do Vale do Tejo (EPVT) estamos já numa fase determinante de implementação destes centros. Estamos agora numa fase de implementação exigente, mas entusiasmante, que representa uma verdadeira transformação no modo como ensinamos e aprendemos.
Estes centros não são apenas espaços com equipamentos de última geração. São ambientes de aprendizagem onde os nossos alunos podem experimentar, errar e melhorar, num contexto que simula o que vão encontrar no mundo do trabalho.
Para lá de proporcionarem aos alunos o contacto com as novas tendências do mercado de trabalho, estes centros passarão a assumir um papel mais alargado, tornando-se agentes de criação de estratégia e de desenvolvimento de conceitos.
Para além da missão de formar técnicos qualificados e alinhados com as exigências atuais do mercado, estes centros funcionarão também como espaços de inovação, onde se experimentam novas tecnologias, se testam novas abordagens e se desenvolvem novas formas de fazer. Serão, sem dúvida, centros de criação de valor.
Para muitos dos nossos jovens que cresceram já imersos na era digital não faz sentido um ensino que não acompanhe os avanços tecnológicos. Os CTE permitem-nos dar esse salto.
No entanto, importa sublinhar que tecnologia sem estratégia é apenas um recurso subutilizado.
A modernização do Ensino Profissional exige, também, um forte investimento na valorização e formação contínua dos seus profissionais. Professores e formadores precisam de ter acesso a oportunidades regulares de actualização científica, pedagógica e tecnológica, para que possam maximizar o uso dos novos recursos e aplicar metodologias diferenciadoras que desenvolvam as competências técnicas, sociais e emocionais dos jovens. Lamentavelmente, esta dimensão humana não está, ainda, integrada nos projectos dos CTE, o que constitui um dos grandes desafios que se impõe às escolas e aos órgãos decisores.
Neste momento, onde o país enfrenta sérias dificuldades no preenchimento de vagas em sectores estratégicos, da indústria à saúde, do turismo às tecnologias, as escolas profissionais há muito provaram que podem dar uma resposta concreta, eficaz e realista a este problema estrutural, formando jovens qualificados, resilientes e com visão de futuro. Mas, para isso, é fundamental que a vontade política se traduza em investimento consistente, sustentado e duradouro.
É tempo de afirmar, com clareza, que o ensino profissional é uma via de excelência e não uma alternativa de segunda linha. Os jovens as famílias que nos escolhem merecem acesso ao melhor que a escola pode oferecer. E nós, nas escolas profissionais, continuaremos a fazer a nossa parte: com convicção, com exigência e com sentido de missão.