Santarém: uma Região a duas velocidades?

Em todos os indicadores analisados: número de empresas, exportação, volume de negócios e VAB, a Lezíria do Tejo apresentou resultados mais favoráveis do que o Médio Tejo.
1- O número total de empresas (sociedades) dos diversos concelhos que compunham o distrito de Santarém (continua a ser um indicador útil de análise) em 2023 é de 17.852. Cresceram 11% em relação a 2022 e representam 3% do país.
Não há diferenças significativas nos últimos 10 anos no que diz respeito ao posicionamento dos concelhos quanto ao número de empresas: Santarém (2666), Ourém (2365), Benavente (1316), Tomar (1211), e Torres Novas (1192) continuam a liderar nesse critério.
Também não houve alteração quanto à comparação sectorial dos concelhos. O sector industrial continua a ser mais representativo em Ourém (277 empresas), Santarém (238), Alcanena (128), Rio Maior (116) e Abrantes (109).
As empresas do distrito de Santarém exportaram em 2014, 2,4 mil milhões de euros e representam 1,9% a nível nacional. Registe-se que enquanto a exportação de bens a nível nacional, de 2023 a 2024, subiu de 77 mil milhões para 79 mil milhões, as empresas da Lezíria e do Médio Tejo desceram de 2,6 milhões para 2,4 milhões, o que é um dado nada positivo.
Os concelhos da Lezíria do Tejo exportam mais 67,5% do que as do Médio Tejo: 1,5 mil milhões de euros e 896 milhões respectivamente.
Esta discrepância também ocorre no indicador do volume de negócios. As empresas do distrito vendem 19,3 mil milhões euros, sendo 10,7 mil milhões originados na Lezíria do Tejo, mais 24,5% do que no Médio Tejo (8,6 mil milhões). Representa 3,5% do volume de negócios do país.
Relativamente ao VAB [valor acrescentado bruto], conseguimos obter dados desagrupados por concelho. O VAB regional (3,5 mil milhões) representa 1,7% do VAB nacional. O VAB da Lezíria do Tejo (1,9 mil milhões) tem um peso de 54,3% do VAB regional. No período de 2012 a 2022 cresceu mais do que a média nacional (+19%), mas esse crescimento desacelerou no período de 2019/2022 (+5%). Em termos absolutos, Ourém (511 milhões euros); Santarém (476 milhões euros); Benavente (394 milhões euros); Torres Novas (253 milhões euros) e Rio Maior (213 milhões euros), lideram a criação de VAB regional, o que não será estranho dado o peso do sector industrial nestes concelhos. É de salientar a taxa de crescimento do VAB nalguns concelhos nos últimos 10 anos. Alguns partiram de uma base muito baixa, mas não deixa de ser significativo: Sardoal (119%), Vila Nova da Barquinha (106%), Benavente (142%), Golegã (118%) e Salvaterra (106%).
Principais conclusões
(i) Tanto em termos de exportação (1,9%) como de VAB (1,7%) a região tem um peso menor em relação ao país, do que no número de empresas (3%) e volume de negócios (3,5%).
(ii) Em todos os indicadores analisados: número de empresas, exportação, volume de negócios e VAB, a Lezíria do Tejo apresentou resultados mais favoráveis do que o Médio Tejo.
(iii) Seria importante que alguma instituição da região começasse a partir do VAB (é um indicador que mede o valor que cada sector acrescenta à economia através dos seus processos produtivos) a investigar as razões desta diferença de evolução e crescimento entre as duas NUT’s na última década e perceber que sectores estão a puxar pela economia regional.
2- Só há três formas de aumentar o peso da economia regional no contexto económico do país:
melhorando a qualidade de gestão das empresas;
aumentando a sua dimensão, intensidade exportadora e níveis de capitalização;
atraindo investimento.
Da conjugação de todos estes factores poderá resultar a melhoria da conjuntura económica regional, dependendo do grau de coesão e articulação entre os diversos actores locais (empresas, associações, universidades e autarquias).
3- Concluiria esta breve e sumária reflexão abordando um tema que se encontra na agenda empresarial e mediática: a proposta de alteração do Código do Trabalho. A proposta do Governo assenta em 132 medidas: 89 são irrelevantes; 34 beneficiam a economia nacional e a competitividade das empresas; nove são negativas e, nalguns casos, um recuo face à actual legislação. Não se justifica por isso a contestação sindical e política às medidas propostas.
Todos percebem que se assiste a uma revolução tecnológica em que o progresso tecnológico se baseia na IA [Inteligência Artificial] e na robotização. Todos reconhecem que estes factores pressionam as relações laborais e a respectiva legislação que as enquadra. Todos admitem que os países que lideram esta revolução tecnológica flexibilizam a legislação laboral. Todos aceitam que só se entra na economia do conhecimento com uma educação mais empreendedora, universidades com uma cultura de produto, e empresas com inovação na gestão operacional, mas flexibilizar a legislação laboral é um sacrilégio.
Sem coragem para mudar não chegaremos lá.