Da tristeza de uma perda nasceram dois exemplos de sucesso e superação

Margarida e Sílvia Marante ousaram ir contra quem duvidou das suas capacidades de gerir uma empresa numa área tradicionalmente dominada por homens. Há mais de meio século no mercado, a Marante - Materiais de Construção e Decoração está de boa saúde financeira e recomenda-se. As irmãs e empresárias, que assumiram os destinos da empresa com o falecimento do pai, acreditam que a boa liderança se faz pelo exemplo e é capaz de transformar equipas.
Quando as irmãs Sílvia Marante e Margarida Marante se licenciaram, a primeira em Direito e a segunda em Organização e Gestão de Empresas, estavam longe de imaginar que iriam acabar como parceiras de negócio, a gerir a mesma empresa. Não uma qualquer, mas aquela onde cresceram entre sacos de cimento, tubos e mosaicos, e que desde cedo se habituaram a cuidar: A Marante – Materiais de Construção e Decoração, que está no mercado da revenda desde 1973 e foi fundada pelo pai de ambas, José Marante e mais dois sócios, em Tomar, onde mantém a sua sede. Com três anos de diferença uma da outra, recordam com nostalgia os Verões passados na loja sede a ajudar nas lides administrativas, num tempo em que uma calculadora, papel e uma caneta eram material indispensável.
Sílvia Marante, de 55 anos, ainda exerceu advocacia durante um tempo - sempre com um olho na actividade da empresa -, já Margarida, de 52 anos, assim que terminou o curso recebeu e aceitou o convite do pai para trabalhar na empresa, inicialmente na área administrativa. Praticamente ao mesmo tempo entrava a irmã, decidida a trocar a advocacia pela área comercial. Levada pela mão do pai começou a explorar o mercado espanhol, a estabelecer as primeiras pontes com fornecedores e a visitar obras. Um treino intensivo que não fazia adivinhavar a tristeza que viria a seguir. José Marante viria a falecer pouco tempo depois de ter conseguido captar as filhas para o negócio que fundou.
Os desafios foram grandes. Num sector maioritariamente ligado ao género masculino “houve quem não acreditasse e comentasse que não íamos ser capazes de segurar a empresa”, conta Sílvia Marante. Mas em vez de atirarem a toalha ao chão, as irmãs mostraram a fibra de que são feitas e não só mantiveram o negócio, como o fizeram crescer. Abriram novos espaços comerciais, estabeleceram novas pontes com mercados e fornecedores, e apostaram na certificação e formação dos colaboradores. “Cheguei a ir a algumas obras e sentia que olhavam para mim com desconfiança, do género: está agora aqui uma mulher a querer ensinar-nos. Nessa altura não havia muitas mulheres a liderar negócios de materiais de construção. Hoje há cada vez mais, felizmente”. O uso desta última palavra não vem ao acaso já que ambas consideram que a liderança no feminino tem as suas vantagens, nomeadamente no que respeita à empatia, intuição e organização, até porque, sublinha Margarida, “as mulheres estão habituadas a ter de fazer malabarismo” para não falharem em nenhuma frente.
Conciliar a vida pessoal com a profissional não é tarefa fácil. É preciso responder às demandas da família, sem perder o foco na gestão da empresa e na habilidade de tomar boas decisões em prol do negócio. Juntas têm um total de cinco filhos e é como se os de uma fossem da outra, brincam, tal é a proximidade e confiança que têm uma na outra. O olhar cúmplice que partilham durante a entrevista denuncia isso mesmo. A boa relação que sempre tiveram não tem saído, garantem, beliscada por trabalharem no mesmo local, até porque lideram áreas distintas. “Ela compra e eu pago”, brinca Margarida Marante, directora financeira, que muito se preza por ter as contas da empresa em dia, sem atrasos no pagamento a fornecedores.
Parceiras de negócio, que se juntaram pela resposta fácil e positiva ao convite do pai, não escondem o orgulho pelo caminho que têm trilhado. Partilham os valores que lhes foram passados por José Marante e a mãe, Maria Marante, sócia maioritária da empresa - da qual também faz parte o irmão António Marante - e a vontade de continuar a fazer crescer o negócio familiar na expectativa que haja quem, depois delas, lhe possa dar seguimento.
Aposta firme na formação e na liderança pela positiva
As irmãs empresárias têm uma forma de olhar para a liderança que, defendem, devia ser mais praticada nas empresas portuguesas. “Quem lidera não se posiciona no topo, mas na base. Quem lidera está a segurar, a dar a mão e a ser exemplo”, explica Sílvia Marante, sublinhando que uma boa liderança faz uma boa equipa.
Com décadas de experiência na bagagem, Sílvia e Margarida Marante já passaram por momentos desafiadores, como a crise financeira de 2010 que muito afectou o sector da construção, obrigando ao decréscimo do número de obras públicas e privadas, à falência de empresas e consequente perda de empregos. Foram as boas práticas de gestão que mantiveram a Marante à tona. A sustentabilidade financeira continua a ser uma prioridade nesta casa onde o investimento e a inovação acontecem de braço dado com o estudo e planeamento.
Com uma facturação de cinco milhões de euros ao ano, a empresa, com instalações em Tomar, trabalha com as principais fábricas nacionais e estrangeiras que atestam a qualidade e garantia dos produtos comercializados. São milhares de referências, desde material de canalização e electricidade, pavimentos e revestimentos, climatização, sanitários, material de rega, isolamentos, entre outros. A Marante tem três locais em Tomar: a Loja 1 com a área das canalizações, a Loja 2 onde está o Showroom, e a Loja 3 dos inertes e bricolage. A maior parte dos clientes da Marante é do concelho de Tomar e de concelhos vizinhos como Entroncamento, Torres Novas, Golegã, Abrantes, Sertã, Alvaiázere e Ferreira do Zêzere. Também faz distribuição no distrito de Portalegre e na zona de Lisboa.
A empresa, que dispõe de serviços de atendimento técnico personalizados, tem apostado na formação dos seus colaboradores. Em 2023 foi criada a ‘Marante Academy’ que ministra formação com vista ao reforço das competências dos seus colaboradores, nomeadamente na aprendizagem do Inglês e na transmissão de conhecimentos técnicos e padronização no atendimento. A intenção é aproveitar, valorizar e actualizar as competências dos mais de 37 profissionais, alguns dos quais com mais de 20 anos de casa.