Especiais | 17-10-2025 07:00

O empresário que arrisca e não dá muito tempo ao adversário para pensar

O empresário que arrisca e não dá muito tempo ao adversário para pensar
ESPECIAL GALARDÃO EMPRESA DO ANO
Francisco Neves, fotografado por O MIRANTE na Galme do Carregado, empresa de galvanização que fundou em 1979

Francisco Neves, 79 anos, é filho de uma família remediada de Canados, freguesia de Meca, concelho de Alenquer. Começou aos 13 anos a aprender mecânica na base área da Ota, antes de entrar nas OGMA em Alverca, aos 14 anos, onde aprendeu o ofício que lhe permitiu fazer-se à vida e criar duas empresas que são referências nacionais: A Equiporave e a Galme.

Na vida e especialmente nos negócios, Francisco Neves foi sempre uma pessoa que gosta de ouvir e ser rápido a decidir. “Não dou muito tempo ao adversário para pensar”, conta a O MIRANTE com um sorriso. A partir do momento em que toma uma decisão avança, mesmo que a decisão não seja a melhor. “Corro o risco de decidir mal, mas decido”, conta. Aos 79 anos, o fundador das empresas Equiporave (Castanheira do Ribatejo) e Galme (Carregado, Alenquer), filho de um feitor agrícola, diz-se um empresário de bem com a vida, que se orgulha de nunca ter enganado ninguém na vida para crescer. “Aceito perfeitamente o falhanço mas não aceito a mentira”, revela.
Francisco Neves passou a infância em Canados, freguesia de Meca, no concelho de Alenquer, de onde é natural. Aos 13 anos o pai mandou-o para a base aérea da Ota para aprender as bases da mecânica. Um ano depois deu-lhe uma mota para começar a deslocar-se para Alverca, onde ingressou nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), conciliando o trabalho com os estudos à noite. Aos 26 anos já era técnico de electrotecnia e máquinas. Frequentou a antiga Escola Industrial de Vila Franca de Xira e o Instituto Industrial, actual ISEL. “Vivi com a PIDE e o Partido Comunista. O Jerónimo de Sousa foi meu colega na escola industrial de Vila Franca de Xira. Tenho muito respeito por ele, é um comunista que nasceu para aquilo”, recorda.
Francisco Neves é um homem que nunca pediu emprego na vida e as ofertas de melhores empregos sempre foram ter com ele. Passou por uma empresa americana de fabrico de televisores, que tinha 1.500 trabalhadores e de lá saiu para ingressar na Avimetal - Indústria de Material Avícola, S.A., em Abrigada, concelho de Alenquer, onde permaneceu quatro anos e meio. Casado e com dois filhos, aceitou depois uma proposta do Grupo Valouro, entrando como sócio de explorações de frangos, já que a empresa queria apostar na produção desses animais. O empresário gosta de saber o que está a fazer e uma vez dormiu dentro de uns pavilhões de pintos para perceber o comportamento das aves durante a noite e calcular o calor ideal para os criar. Em paralelo fundou a sua própria empresa em 1975, a Equiporave, dedicada à produção de equipamentos de metalomecânica ligeira precisamente focada na agropecuária.
Há 30 anos sofreu um grave acidente de automóvel em Vila Franca de Xira, quando o carro que conduzia fez aquaplaning na Auto-Estrada do Norte (A1) e caiu sobre a cidade. Escapou por milagre. Esse episódio fê-lo repensar a vida e entregou a outros técnicos parte das responsabilidades no Grupo Valouro. “Tenho de fazer fisioterapia regularmente, mas nem sempre vou. Por isso uso duas biografias, do Mário Soares e do Francisco Pinto Balsemão, para meter uma das pernas em cima e fazer exercícios (risos)”, conta.
Na altura um dos filhos já se encontrava formado e o outro tinha acabado de concluir o curso de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. Assim nasceu a Equiporave Ibérica, uma empresa gerida pelos dois filhos, que continua a comercializar comedouros e bebedouros, entre outros equipamentos, para a indústria agropecuária. Os principais clientes situam-se nos sectores da suinicultura, avicultura e ruminantes, variando entre pequenos produtores e grandes grupos de produção animal. “Antigamente metíamos 12 frangos por metro quadrado, hoje metemos 22. Quando aumenta a densidade também aumentam os problemas. Hoje um pavilhão de frangos é uma cabine de um avião: é estanque, tem ar controlado, humidade, etc. Hoje o frango é a proteína mais barata que se cria no mundo”, explicou recentemente ao nosso jornal. Ao longo da vida, Francisco Neves trabalhou em aviões, televisores e pecuária. A Equiporave facturou no último ano 11 milhões de euros e tem três dezenas de trabalhadores.
A necessidade de galvanizar os produtos da Equiporave levaram-no a fundar outra empresa, em 1979, que é hoje uma das quatro que restam a nível nacional a fazer galvanização e metalização. A Galme, no Carregado, facturou no último ano três milhões de euros e tem duas dezenas de trabalhadores. “Já ampliei a empresa três vezes”, diz o empresário, para quem a falta de mão de obra especializada é um problema.

O dia em que Ricardo Salgado lhe serviu sopa

Francisco Neves considera que os bancos não existem para ajudar e devem ser usados com muito cuidado. Só recorreu uma vez à banca e pagou o empréstimo antecipadamente para não onerar as contas da empresa. “O Ricardo Salgado, antes da queda do BES, chegou a servir-me sopa no prato durante um jantar em que fui convidado. Veja-se como as coisas mudaram. Hoje em dia os supermercados é que mandam no país e a banca e as seguradoras na Europa. É revoltante”, recorda.
Francisco Neves é um homem que quer ser recordado como uma pessoa amiga, séria e trabalhadora, já tendo emprestado do seu bolso 100 mil euros a um empresário seu amigo que precisava de ajuda. Também se considera um bom patrão que gosta de ajudar os seus empregados. “Nunca enganei ninguém na vida e isso dá-me paz de espírito”, garante. Quando tem objectivos garante ser uma pessoa teimosa. Diz ter amigos na política e já ter sido convidado para integrar três partidos diferentes. “Nunca entrei em nenhum. Para mandarem em mim têm de saber mandar-me”, refere.
Diz ver com tristeza a queda de produção fabril da região. “A produção é o meio mais uniforme e correcto de distribuir a riqueza. A região tem que saber adaptar-se, inverter a corrente da facilidade. Não sou contra as grandes superfícies, não sou contra a logística, mas isso não gera riqueza. Precisamos de mais indústria”, defende. Há cerca de uma década Francisco Neves começou a abrandar o ritmo, retirando os computadores de casa e do seu gabinete. Desligou-se da informação instantânea, como refere, mas garante que continua a estar a par de tudo através dos seus funcionários. Os tempos livres são agora passados nas suas paixões: touradas, fados, ler revistas e em almoços com amigos.

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