Especiais | 20-11-2025 19:00

“Apesar de estarmos no século XXI ainda temos muito que informar, aprender e sobretudo cuidar”

“Apesar de estarmos no século XXI ainda temos muito que informar, aprender e sobretudo cuidar”
38 ANOS DE O MIRANTE
Teresa Almeida, presidente da CCDR LVT (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo) - foto O MIRANTE

Sem os jornais locais e regionais perde--se a ligação entre os cidadãos e as suas comunidades, até porque meios de comunicação regionais são, muitas vezes, o primeiro registo da história e da identidade de cada território.

Além das pessoas que me são mais próximas no contexto familiar e pessoal, admiro, sobretudo, pessoas com quem trabalhei e com quem trabalho que, com discrição e perseverança, se dedicam ao serviço público, muitas vezes sem grande reconhecimento. São técnicos, professores, autarcas, empresários e cidadãos que, todos os dias, fazem acontecer. Claro que também admiro algumas personalidades que marcaram a sociedade portuguesa e o mundo pela sua visão e integridade, mas, sobre essas, creio que não vale a pena estar a frisar nomes porque o seu legado já lhes deu o seu merecido reconhecimento.
A minha terra é, sobretudo, aquela onde me sinto bem, onde trabalho e onde sinto que posso contribuir para melhorar a vida das pessoas. A minha vida pessoal e profissional já me levou a diversos territórios. Eu nasci em Vale de Cambra, portanto no Norte, vivi e trabalhei grande parte da minha vida na Península de Setúbal, mas também, pelos desafios da minha profissão, vivi e trabalhei num curto período no Alentejo. Hoje moro e trabalho em Lisboa. Não sou muito de “bairrismos”, mas, se tivesse de “vestir uma camisola”, diria que a minha terra é toda a região de Lisboa e o Vale do Tejo.
Defino O MIRANTE como um jornal regional com identidade própria, que acompanha a realidade das pessoas deste território. E também como um jornal que valoriza a proximidade e que, ao longo destas quase quatro décadas, tem dado um contributo para reforçar a coesão e o conhecimento do território.
Prefiro sempre ler o jornal em papel. Talvez por hábito e por ser mais cómodo, mas também porque o papel continua a ter um valor simbólico importante, sobretudo para uma leitura mais pausada e reflectida. Mas reconheço que o formato digital é hoje essencial para chegar a novos públicos e garantir que a informação regional circule de forma rápida e acessível.
Sou uma ávida consumidora de notícias e de informação, e a informação local é fundamental para a democracia e para a coesão dos territórios, sobretudo para populações mais envelhecidas e isoladas. Sem os jornais locais e regionais perde-se a ligação entre os cidadãos e as suas comunidades, até porque meios de comunicação regionais são, muitas vezes, o primeiro registo da história e da identidade de cada território.
Tento seguir as redes sociais de vários jornais para ter a certeza da informação que chega às minhas mãos. Claro que muitas vezes acabo por me confrontar com informação vinda de outros meios, dos quais desconheço a origem, e isso preocupa-me e deve preocupar-nos. A credibilidade da informação é um bem público e um pilar fundamental da democracia. Daí que acredito que a imprensa tem e deve ter cada vez mais um papel importante no combate às ‘fake news’, pelo rigor com que devem verificar as fontes e responsabilidade editorial e social que têm.
A digitalização traz vantagens, sobretudo pela sua rapidez, mas também desafios na relação com as pessoas. E isso acontece tanto nas relações comerciais e institucionais como nas relações pessoais, prova disso é que, cada vez, resolvemos menos assuntos pessoalmente e até por chamada. Enviamos uma mensagem ou um e-mail e fica resolvido. Considero que precisamos de garantir que a tecnologia não substitui a proximidade, seja em que formato for, e que deve ser olhada como um complemento que facilita o acesso e não uma barreira.
Este inquérito é uma boa oportunidade de reflexão. Quanto à imprensa, tem um papel insubstituível na construção da cidadania e da confiança pública e não podemos ter qualquer dúvida sobre o assunto. É, como sabemos, o quarto poder democrático e, passados 50 anos do 25 de Abril, percebemos a importância que teve e que tem na construção da nossa democracia.
Eu sou arquitecta e, embora tenha desempenhado funções muito diversas ao longo da minha carreira, não tenho qualquer dúvida de que acertei na escolha de profissão que fiz. Não sei se teria muito jeito para ser jornalista, mas, se fosse por um dia, creio que gostaria de realizar essa experiência. Até porque diariamente ouço, e gosto de ouvir, muitas pessoas e compreender as diferentes perspectivas que têm sobre o território e toda a sociedade.
Apesar de me meter em caminhos pouco formais, acho que gostaria de mencionar que a notícia que mais me chocou ultimamente, para além das violências gratuitas dos conflitos armados, foi a de um filho adolescente ter morto a sua mãe. É um exemplo triste do profundo mal-estar existente numa sociedade que, por vezes, já não consegue olhar para o que se passa no seu contexto mais íntimo. Percebemos que, apesar de estarmos no século XXI, ainda temos muito que informar, aprender e, sobretudo, cuidar.
Apenas uma palavra de reconhecimento pelo trabalho de O MIRANTE e por todos os que, diariamente, dão voz às comunidades e aos territórios. E relembrar a todos os leitores, como forma de conclusão, que o jornalismo regional é um pilar essencial da democracia e do desenvolvimento equilibrado da região e do país, como tal, devemos continuar a lê-lo.

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