“Alguma desatenção ou quase indiferença em relação ao que acontece noutros países resulta do excesso de informação”
Um grupo de jovens portugueses levou 50 mil rosas para Praga, a fazer lembrar a nossa Revolução dos Cravos, e um Renault 21, para que o recém-eleito presidente da República Checa, Václav Havel, não tivesse de usar um carro soviético. Em gratidão, Mário Soares foi o único político estrangeiro presente na tomada de posse.
A proximidade face aos assuntos é um elemento que usamos quando os temos de valorizar. Durante muitos anos fui autarca em Vila Franca de Xira, trabalhei com o poder municipal noutros concelhos, e de facto essa proximidade, capta a nossa atenção de outra forma. Mas alguma desatenção ou quase indiferença em relação ao que acontece noutros países não vem tanto da distância, mas do excesso de informação.
Todos trazemos connosco uma parte das terras por onde passamos. Para mim, há duas que são particularmente importantes. Uma delas é a Póvoa de Santa Iria, para onde fui com dois anos e onde vivo até hoje, e que é aquela que mais vi transformar-se ao longo do tempo. Por outro lado, tenho um sentimento muito forte com Luanda, que foi a cidade onde nasci, e onde tive a sorte de, por motivos profissionais, lá viver durante algum tempo, já em adulto, e perceber o sentimento de que os meus pais me falavam de que quem passa por África não consegue esquecer. Hoje eu próprio sinto isso, com essa “minha terra” cheia de potencial que é Angola.
As pessoas que mais admiro, para além dos meus pais, são algumas com quem tive o privilégio de trabalhar. Pelo seu empenho nas causas que abraçam e visão de futuro, como é o caso do anterior presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras; e mais recentemente com o presidente Isaltino Morais em Oeiras, que me deixaram lições que, embora parecessem irrelevantes, mais tarde percebi o seu pleno significado.
Há figuras históricas que foram muito relevantes para a minha formação política, como o fundador do meu partido, Francisco Sá Carneiro. E também o presidente Ronald Reagan, o chanceler Helmut Kohl, a primeira-ministra Margaret Thatcher, e vários outros. Aproveito para contar uma história sobre um deles, Václav Havel, que fiquei a saber há pouco tempo, numa conferência com Álvaro Beleza e José Pedro Aguiar Branco. Um grupo de jovens portugueses levou 50 mil rosas para Praga, a fazer lembrar a nossa Revolução dos Cravos, e um Renault 21 para que o recém-eleito presidente da República Checa, não tivesse de usar um carro soviético. Em gratidão, Mário Soares foi o único político estrangeiro presente na tomada de posse.
Descreveria O MIRANTE como um exemplo de jornalismo atento ao que o rodeia, que dá palco aos actores políticos locais e que dá voz aos empresários. Mas sobretudo que fala dos problemas comuns de quem vive numa região que, embora tenha concelhos perto de Lisboa, como é o caso de Vila Franca de Xira, e também uma capital de distrito, não é, de todo, o centro das atenções mediáticas.
É raro ler a edição do jornal em papel, porque o digital tem a virtude de estar mais presente, seja porque é actualizado várias vezes por dia, seja porque está no nosso bolso a qualquer hora. Ler a edição em papel acaba por ser um acto fortuito, quando o encontro em algum café da região, mas que me traz sempre uma atenção diferente para as notícias.
Sou assinante de vários jornais na vertente nacional. Acompanho o Observador praticamente desde o lançamento; e já há vários anos que tenho uma assinatura de acesso tanto ao Jornal de Notícias como ao Diário de Notícias, com quem aliás já colaborei em questões profissionais. Actualmente, por força do trabalho, recebo também muitos serviços de ‘clipping’, mais ajustados às temáticas da mobilidade e da sustentabilidade ambiental, que é como me chega muita informação que é divulgada pela imprensa nacional. Já na imprensa regional tenho, há vários anos, assinaturas de O MIRANTE (além de participar em comentário num outro meio de comunicação local, na vertente da rádio).
As dificuldades com o atendimento telefónico de um serviço não me provocam desespero, mas indignação. Um telefone não atendido não é um acaso de evolução, mas uma marca de desleixo de serviços – públicos ou privados – que ficam capturados pela desresponsabilização perante os cidadãos. Como gestor público estive em empresas onde esta era uma realidade que combati desde o início, porque é inadmissível que o cidadão, o cliente, fique sem as respostas de que precisa e que ninguém se sinta minimamente perturbado com isso. Quem manda nos serviços tem de ter a coragem de fazer, e não ficar preso à lógica do “ir fazendo”.
A informação quase imediata que recebemos a quase todas as horas tem o mérito de nos criar pequenas incredulidades passageiras. Mas algumas recentes, deixaram-me incrédulo por mais tempo, por estarem relacionadas com a minha actividade profissional. Ouvir pessoas que se dizem “especialistas” e “professores catedráticos” a defender, numa matéria que conheço bem, como a dos transportes, argumentos contrários aos que eles próprios ensinam.
É indispensável dar os parabéns a O MIRANTE. Não só por mais um aniversário, que é um exemplo não tanto de longevidade, mas sobretudo da capacidade de permanecer relevante. E desejar que continue a ser um palco privilegiado a transmitir notícias sobre os concelhos do Ribatejo, dando voz a uma região que, apesar de ser o centro do país, está por vezes na periferia da discussão pública.


