“As redes sociais democratizaram a partilha mas também diluíram a responsabilidade”
É importante continuarmos a valorizar a imprensa regional. É ela que preserva as nossas memórias, tradições e identidade. E num tempo em que tudo parece global e efémero, essa ligação ao local é o que nos mantém verdadeiramente humanos.
Acha que sentiria falta de informação local se vivesse numa região sem jornal ou rádio local?
Sem dúvida. A informação local é o que nos mantém ligados à comunidade. Sem ela, perdemos a noção de pertença. É através desses meios que sabemos o que se passa nas escolas, nas empresas, nas associações — é o retrato vivo do lugar onde estamos.
Actualmente, muita informação chega-nos através das redes sociais. Sabe quem faz, escreve e publica aquelas informações e vídeos?
Nem sempre. E esse é precisamente o problema. As redes sociais democratizaram a partilha, mas também diluíram a responsabilidade. Por isso valorizo o jornalismo profissional, que se pauta por rigor e verificação, algo cada vez mais necessário.
É assinante de algum jornal digital, nacional ou regional, ou só acede às notícias que são disponibilizadas gratuitamente?
Sou assinante de alguns meios digitais porque acredito que a informação de qualidade tem valor e deve ser remunerada. É uma forma de apoiar o jornalismo sério e garantir que continua a existir.
Como descreveria O MIRANTE a quem nunca tivesse contactado o jornal?
Como um jornal que conhece bem o pulsar da região. O MIRANTE tem o mérito de dar voz às pessoas comuns e de manter viva a ligação entre as comunidades, algo que nem sempre é valorizado noutros meios. É um jornal com alma local, mas com um olhar atento sobre o que nos rodeia.
Ainda lê o jornal em papel? Porquê?
Leio ambos. O papel continua a ter um encanto próprio — é mais pausado, quase uma pausa no ritmo do dia. Mas a edição digital permite acompanhar o que se passa com mais rapidez. Acho que cada formato tem o seu espaço, e juntos completam-se.
Costuma dar atenção especial às notícias de proximidade?
É inevitável que o que está próximo de nós desperte mais empatia. Quando acontece algo na nossa rua, envolve rostos, vozes e lugares que reconhecemos. Não é indiferença perante o que acontece longe, é apenas a natureza humana a reagir ao que nos é familiar. Aconteceu-me recentemente ao saber de um acidente perto da clínica — senti o impacto de imediato, porque conhecia algumas das pessoas envolvidas.
Qual considera ser a sua terra, aquela onde se sente realmente bem e à vontade?
A minha terra é o Ribatejo, onde cresci e onde mantenho grande parte das minhas memórias. É aqui que me sinto bem, onde conheço as pessoas e onde o tempo ainda tem o ritmo certo. Não digo que seja a melhor terra do mundo, mas é, sem dúvida, o meu lugar — aquele onde tudo tem significado, desde os cheiros até às conversas de café.
As pessoas que mais admira são algumas das que conhece e com quem contacta, ou outras a quem, muito provavelmente, nunca vai ter a possibilidade de cumprimentar?
Admiro pessoas que conheço, principalmente aquelas que, de forma discreta, fazem bem o seu trabalho todos os dias. Na Medicina Dentária, encontro muitos exemplos assim — profissionais dedicados, com um verdadeiro sentido de responsabilidade e humanidade. Também admiro figuras públicas da ciência e da cultura que inspiram pela consistência e pela ética, mesmo sem as conhecer pessoalmente.
Já lhe aconteceu não ser atendido telefonicamente ou presencialmente em serviços? Desesperou ou aceitou como parte da evolução?
Já aconteceu várias vezes, e confesso que me custa aceitar que o contacto humano se esteja a perder. A tecnologia ajuda, mas não pode substituir totalmente a empatia e o diálogo directo. Há situações em que uma boa conversa resolve mais do que um formulário online.
Consegue utilizar bem as novas tecnologias, nomeadamente as aplicações úteis, através do telemóvel?
Sim, considero-me relativamente à vontade com a tecnologia, até porque na minha área a inovação é constante. Mas continuo a achar que a tecnologia deve servir as pessoas e não o contrário. Gosto de a usar, sem deixar que me consuma o tempo.
O que é que achou deste inquérito? A comunicação social é assim tão importante como se faz crer?
Gostei muito. É um inquérito que nos obriga a parar e pensar sobre o papel da informação nas nossas vidas. A comunicação social é essencial — não apenas para informar, mas para unir, esclarecer e formar opinião. O problema não é a sua importância, é quando a usamos sem espírito crítico.
Alguma vez lhe apeteceu ser jornalista por um dia?
Confesso que sim. Gosto de observar e de ouvir as histórias das pessoas. Talvez porque, de certa forma, o trabalho clínico também exige escuta e empatia — e isso aproxima muito da essência do jornalismo.
Sabe ou imagina quantas pessoas trabalham nas empresas que editam O MIRANTE em papel e online todos os dias?
Imagino que sejam poucas para a dimensão do trabalho que fazem. É notável a forma como conseguem manter uma presença forte, tanto em papel como online. Isso só é possível com dedicação e muito amor pelo que se faz.
O que gostaria de acrescentar?
Apenas que é importante continuarmos a valorizar a imprensa regional. É ela que preserva as nossas memórias, tradições e identidade. E num tempo em que tudo parece global e efémero, essa ligação ao local é o que nos mantém verdadeiramente humanos.


