“Tenho um orgulho enorme nas nossas gentes; A União faz Abrantes”
Com a utilização da inteligência artificial torna-se cada vez mais difícil distinguir entre a realidade e a manipulação. Por isso é tão importante valorizar o jornalismo profissional e os meios de informação de referência que ainda temos.
Há muitos municípios sem um jornal ou rádio de informação local. Acha que sentiria falta de informação local, se vivesse numa região como aquelas?
Não tenho dúvida que sentiria. A informação local é essencial para a vida das comunidades e para captar a sua história. Sem ela, há uma parte significativa da identidade colectiva que se perde. Por isso, valorizo muito o papel da comunicação regional e pela forma como ligam as pessoas ao seu território.
Muita informação chega-nos através das redes sociais. Sabe quem faz, escreve e publica aquelas informações e vídeos?
Este é um dos grandes desafios do nosso tempo e agora com a utilização da inteligência artificial torna-se cada vez mais difícil distinguir entre a realidade e a manipulação. Por isso é tão importante valorizar o jornalismo profissional e os meios de informação de referência que felizmente ainda temos.
Costuma dar mais atenção às notícias locais?
É natural que nos toquem mais as notícias que acontecem à nossa volta, porque nos identificamos com as pessoas, as suas vivências e os lugares. Essa é a essência da vida em comunidade. Sentir que o que acontece aos outros, que nos são tão próximos, também nos pode acontecer a nós. No entanto, acredito que devemos manter um olhar solidário e atento sobre o que se passa no mundo, porque partilhamos desafios globais que exigem responsabilidade colectiva.
Como descreveria O MIRANTE a quem não o conhecesse?
Como um jornal de proximidade, com um olhar genuíno sobre o território e as nossas pessoas. É uma publicação que dá voz à região, valoriza o que é nosso e contribui para o debate público com rigor e independência. É, sem dúvida, uma referência do jornalismo regional em Portugal.
Ainda lê o jornal em papel?
Sim, continuo a ler o jornal em papel, mas reconheço o enorme valor do digital, essencial para se chegar mais rápido às pessoas. Em alguns jornais e em determinados tipos de notícia há ainda uma diferença grande entre a notícia escrita para a versão em papel e a versão online, tendencialmente dependente de títulos apelativos para um clique mais fácil.
Qual considera ser a sua terra; aquela onde se sente realmente bem e à vontade?
A minha terra é Abrantes, em todas as suas freguesias e comunidades. Nasci em Tramagal e vivo em Rossio ao Sul do Tejo. É daqui que sou e é aqui que me sinto verdadeiramente em casa. Tenho um orgulho enorme nas nossas gentes, no espírito de entreajuda e na forma como sabemos unir-nos nos momentos decisivos. Por isso costumo dizer que “A União Faz Abrantes”.
Quem são as pessoas que mais admira?
Admiro muitas pessoas com quem me cruzo diariamente. Professores, autarcas, bombeiros, profissionais de saúde, empresários, agentes culturais, entre tantos outros. Diariamente há muita gente que faz a diferença no dia-a-dia da nossa comunidade e que não têm reconhecimento público, mas que têm a admiração e o respeito de todos.
É cada vez mais complicado sermos atendidos telefonicamente e, por vezes presencialmente. Já lhe aconteceu?
Já me aconteceu, claro, como a qualquer outro cidadão. Com a utilização cada vez maior de inteligência artificial nas nossas vidas a tendência será para se perder o contacto humano e este período de transição é fundamental que não se esqueçam os mais idosos ou as pessoas com menor literacia digital.
Consegue utilizar bem as novas tecnologias, nomeadamente as aplicações úteis, através do telemóvel?
Sim, sem qualquer problema, mas sempre que possível, continuo a preferir o contacto directo com as pessoas.
O que é que achou deste inquérito? Acha que estamos a ser muito narcisistas e que a comunicação social não é assim tão importante como se faz crer?
Pelo contrário. Acho que este inquérito é útil e obriga-nos, a todos, a reflectir sobre o papel da comunicação social, especialmente a regional. Foi um gosto contribuir para essa reflexão.
Alguma vez lhe apeteceu ser jornalista por um dia?
Por curiosidade, gostava de ser jornalista por um dia, para ser eu questionar em vez de responder.
Qual foi a última notícia que o deixou incrédulo?
Notícias que mostram falta de solidariedade ou desrespeito pela vida humana deixam-me sempre incrédulo. Vivemos tempos em que a indiferença e a intolerância se banalizam, e isso devia preocupar-nos a todos.
Sabe ou imagina quantas pessoas trabalham nas empresas que editam O MIRANTE em papel e online todos os dias?
Não sei o número exacto, mas sei que é uma equipa pequena para a dimensão e a qualidade do trabalho que faz. Algo transversal aos meios regionais, que invariavelmente fazem muito, com poucos recursos.
O que gostaria de acrescentar?
Gostaria de felicitar O MIRANTE pelos seus 38 anos de jornalismo regional sério, atento e independente. Que continuem a ser a voz que ajuda a reforçar a identidade da nossa região.


