“Admiro profundamente quem coloca o bem comum acima dos seus próprios interesses”
Custa-me aceitar que a modernização traga afastamento. A tecnologia deve aproximar e não criar barreiras. Nos serviços públicos, em particular, o contacto humano é essencial: é nele que se constrói a confiança entre os cidadãos e as instituições.
Alguma vez lhe apeteceu ser jornalista por um dia?
Sim, talvez por um dia. Gosto de ouvir pessoas, de procurar histórias e de lhes dar sentido. É isso, no fundo, que o jornalismo faz. Mas tenho um profundo respeito por quem exerce a profissão, todos os dias, com ética e dedicação, por isso é melhor deixar essa missão para quem a vive de verdade.
Qual foi a última notícia que a deixou incrédula?
Infelizmente, têm sido várias, sobretudo as relacionadas com violência, injustiça e desrespeito pela vida humana. Cada vez que vejo uma criança, um idoso ou qualquer pessoa ser vítima de maus--tratos, fico incrédula com a forma como se ignora o valor da dignidade humana.
Sabe ou imagina quantas pessoas trabalham nas empresas que editam O MIRANTE em papel e online todos os dias?
Não sei, mas imagino que já seja um número considerável, tendo em conta o volume e a qualidade do trabalho que desenvolvem diariamente.
Também lhe acontece dar mais atenção às notícias de proximidade?
É natural a proximidade despertar em nós uma atenção diferente. Aquilo que acontece perto mexe connosco de outra forma, porque tem rostos, nomes e lugares que reconhecemos. Mas acredito que a empatia não tem fronteiras. O sofrimento humano, seja ele onde for, deve tocar-nos e mobilizar-nos. Tento sempre manter essa consciência: a de que vivemos num mundo interligado e que todos temos um papel no cuidado com o outro.
Qual considera ser a sua terra; aquela onde se sente realmente bem e à vontade? E é a melhor terra do mundo?
A nossa terra é, acima de tudo, o lugar onde nos sentimos bem. Em jovem vivi noutros sítios onde fui feliz, mas foi aqui, no local onde nasci, que escolhi construir a minha vida. É aqui que me sinto verdadeiramente em casa, onde criei laços, vivi alegrias e enfrentei desafios. Tenho um enorme orgulho neste concelho e nas suas gentes: trabalhadoras, generosas e com um profundo sentido de pertença. Não sei se é a “melhor terra do mundo”, mas para mim é, sem dúvida, a mais especial.
Quem são as pessoas que mais admira?
Admiro muitas pessoas que conheço e com quem trabalho diariamente, pessoas simples, mas com uma força e uma resiliência admiráveis. São essas que mais me inspiram: quem faz o bem sem precisar de ser visto. Para além disso, admiro profundamente quem, em qualquer área, coloca o bem comum acima dos seus próprios interesses.
Como descreveria O MIRANTE a alguém que não conhecesse o jornal?
É um jornal que conhece o território e as pessoas que nele vivem. É uma voz atenta e próxima, que dá vida à região, valoriza o que aqui se faz e o que somos. Um meio de comunicação que sabe ouvir, que acompanha de perto e que ajuda a reforçar a identidade colectiva do Ribatejo.
Ainda lê o jornal em papel?
Sim, ainda gosto de folhear o jornal em papel. Há algo de especial em sentir as páginas e poder parar num título, numa fotografia, sem a pressa do ecrã. O digital é indispensável pela rapidez e alcance, mas o papel tem alma. Continuo a ser fã da leitura em papel.
Muita informação chega-nos através das redes sociais. Sabe quem faz, escreve e publica aquelas informações e vídeos?
Não sou grande consumidora desse tipo de conteúdos. Na maioria das vezes, nem se sabe quem os publica; esse é um dos grandes desafios do nosso tempo. É por isso que valorizo tanto o papel dos jornalistas, de quem investiga, confirma e escreve com rigor.
É assinante de algum jornal digital, nacional ou regional?
Como já referi, continuo fã da leitura em papel e, por isso, mantenho o hábito de comprar os meus jornais. Gosto do ritual da leitura pausada, do contacto com as páginas e do tempo que esse gesto nos oferece.
É cada vez mais complicado sermos atendidos telefonicamente e, por vezes presencialmente, em muitos serviços, sejam públicos ou privados. Já lhe aconteceu?
Já me aconteceu, claro. E confesso que não gosto, custa-me aceitar que a modernização traga afastamento. Considero que a tecnologia deve aproximar, não criar barreiras. Nos serviços públicos, em particular, o contacto humano é essencial: é nele que se constrói a confiança entre os cidadãos e as instituições.
Consegue utilizar bem as novas tecnologias, nomeadamente as aplicações úteis, através do telemóvel?
Utilizo, mas confesso que não tão bem como os mais jovens. No entanto considero que é importante manter essa aprendizagem constante. As novas tecnologias são ferramentas poderosas, desde que as saibamos usar para simplificar a vida e comunicar melhor.
O que é que achou deste inquérito? Acha que estamos a ser muito narcisistas e que a comunicação social não é assim tão importante como se faz crer?
Achei um exercício interessante. Fez-me reflectir sobre a forma como comunicamos e sobre o papel da imprensa. A comunicação social é essencial à democracia: informa, fiscaliza, dá voz e liga-nos. Sem ela, a sociedade perde transparência e memória.
O que gostaria de acrescentar?
Gostaria de deixar uma palavra de parabéns a O MIRANTE pelos 38 anos de trabalho em prol da região. São quase quatro décadas a informar com seriedade, a acompanhar o crescimento das nossas comunidades e a valorizar o Ribatejo. Que continuem a ser uma referência de proximidade, de verdade e de compromisso com as pessoas.


