“Tento não perder o olhar sobre o que acontece fora daqui; o mundo é cada vez mais pequeno e a empatia não deve ter fronteiras”
Utilizo bem as novas tecnologias até porque o cargo obriga. Mas também tenho os meus momentos de frustração, como toda a gente. Às vezes um simples ‘login’ dá mais luta do que uma reunião inteira!
É cada vez mais complicado sermos atendidos telefonicamente e, por vezes presencialmente, em muitos serviços, sejam públicos ou privados. Já lhe aconteceu?
Já me aconteceu várias vezes, como a qualquer pessoa. Ligar para um serviço, ouvir aquela música em ‘loop’ durante uns bons minutos e ser atendido por uma máquina. Claro que há momentos em que se perde a paciência, mas também percebo que os serviços estão sobrecarregados e a mudar. O importante é não deixarmos que a tecnologia substitua o contacto humano porque às vezes uma conversa de dois minutos resolve o que uma aplicação não consegue em dois dias.
Qual considera ser a sua terra; aquela onde se sente realmente bem e à vontade? E é a melhor terra do mundo?
A minha terra é o meu concelho, Azambuja, sem qualquer dúvida. Cresci aqui, e é aqui que tenho as minhas memórias da escola, dos amigos de infância, dos primeiros empregos, das festas, das vindimas. É uma terra que me ensinou a ser paciente e a dar valor às pessoas. Não sei se é a melhor do mundo, mas para mim é, porque é a que conheço de olhos fechados.
Quais são as pessoas que mais admira?
Admiro muita gente anónima que me rodeia todos os dias. Tenho uma enorme admiração pelos bombeiros, por exemplo, pela entrega e pelo silêncio com que servem os outros. Admiro professores, técnicos, voluntários, pessoas que fazem o seu trabalho com paixão e sem se exibirem. Também há figuras públicas que me marcaram, como Mário Soares, pela coragem democrática, ou Nelson Mandela, pela capacidade de perdoar. Mas confesso que são as pessoas simples, com quem me cruzo nas ruas de Azambuja, que mais me inspiram.
Acontece-lhe dar mais atenção à notícia de uma pessoa atropelada na sua rua, do que a um acidente com dezenas de pessoas num país longínquo?
Sim, acontece-me o mesmo que à maioria das pessoas. É natural que uma notícia próxima nos toque mais, porque conhecemos o sítio, as pessoas, a realidade. Lembro-me de um acidente na nossa zona há uns tempos que me deixou realmente inquieto, talvez porque, quando é “na nossa rua”, sentimos que podia ter sido alguém da nossa família. Mas tento não perder o olhar sobre o que acontece fora daqui. O mundo é cada vez mais pequeno e a empatia não devia ter fronteiras.
Como descreveria O MIRANTE a alguém de outra região que nunca tivesse contactado com o jornal?
O MIRANTE é um jornal muito próprio. É atento, inquieto, directo. Tem o estilo ribatejano de dizer as coisas como elas são, sem rodeios, mas com respeito. É o tipo de jornal que ajuda as comunidades a pensar sobre si próprias.
Muita informação chega-nos através das redes sociais. Sabe quem faz, escreve e publica aquelas informações e vídeos?
Nas redes sociais nem sempre se sabe quem está por trás das publicações. É o lado perigoso dessa liberdade. Há conteúdos excelentes e informativos, mas também muita manipulação. Por isso é que continuo a defender o jornalismo profissional, que tem regras e rosto.
É assinante de algum jornal digital, nacional ou regional, ou só acede às notícias que são disponibilizadas gratuitamente?
Sou seguidor habitual de jornais digitais, nacionais e regionais, mas só tenho acesso às notícias disponibilizadas gratuitamente.
Consegue utilizar bem as novas tecnologias, nomeadamente as aplicações úteis, através do telemóvel?
Sim, utilizo bem as novas tecnologias até porque o cargo obriga. Mas também tenho os meus momentos de frustração, como toda a gente. Às vezes um simples login dá mais luta do que uma reunião inteira!
O que é que achou deste inquérito? Acha que estamos a ser muito narcisistas e que a comunicação social não é assim tão importante como se faz crer?
Achei o inquérito muito interessante. Obriga-nos a parar e pensar em temas que, no dia-a-dia, passam ao lado. E não, não acho que a comunicação social seja narcisista, é essencial. Sem imprensa livre, ficamos todos mais pobres.
Alguma vez lhe apeteceu ser jornalista por um dia?
Nunca pensei no assunto, embora deva ser fascinante ser jornalista por um dia, andar no terreno, fazer perguntas, ouvir histórias. Acho que o jornalismo e o poder local têm algo em comum: ambos vivem muito perto das pessoas.
Qual foi a última notícia que o deixou incrédulo?
Infelizmente não foi a última notícia que me deixou incrédulo; são as constantes notícias da continuação das guerras, e aperceber-me da forma como normalizámos imagens de sofrimento. É uma espécie de fadiga colectiva, e isso devia preocupar-nos.
Sabe ou imagina quantas pessoas trabalham nas empresas que editam O MIRANTE em papel e online todos os dias?
Imagino que não sejam muitos, mas que valham por muitos. O MIRANTE tem a alma de quem gosta do que faz, nota-se em cada edição.
O que gostaria de acrescentar?
Apenas acrescentar uma palavra de apreço por todos os que continuam a fazer jornalismo local. É cada vez mais difícil, mas é também cada vez mais necessário. A verdade e a proximidade nunca passam de moda.


