“Fico incrédula por termos a nossa democracia em risco e por ver a ignorância ganhar terreno”
Admiro pessoas cultas, conhecedoras, interessadas, que gostam de conversar sobre assuntos que me enriquecem culturalmente. Admiro quem gosta de partilhar o muito que sabe de forma altruísta e humilde.
Em Portugal há mais de sessenta municípios sem um jornal ou rádio de informação local, sendo considerados “desertos de notícias”. Acha que sentiria falta de informação local, se vivesse numa região como aquelas?
Sim, sentiria falta. As redes sociais estão a transformar-se no principal canal de comunicação e nem sempre com informação isenta e de qualidade, como é desejável para garantir o conhecimento factual da realidade.
Muita informação chega-nos através das redes sociais. Sabe quem faz, escreve e publica aquelas informações e vídeos?
Nem sempre, e muitas ‘fake news’ circulam com perfis falsos para ocultar a identidade de quem veicula (des)informação.
Acontece-lhe dar mais atenção a notícias de proximidade do que às que ocorrem em lugares longínquos?
Involuntariamente acontece. E se a notícia de proximidade envolver uma pessoa conhecida, ainda mais. Não significa que se desvalorize o que ocorre num país longínquo.
Como descreveria O MIRANTE a alguém de outra região que nunca tivesse contactado com o jornal?
É um semanário regional que se foca no jornalismo de proximidade, cuja área de abrangência principal é o distrito de Santarém, estendendo-se também a alguns concelhos do distrito de Lisboa. Define-se por ter rigor editorial, recusar o sensacionalismo e procurar corresponder aos interesses do público da sua região.
Ainda lê a edição em papel?
Raramente leio o jornal em papel. Leio a edição digital. Contudo conservo edições impressas com notícias ou acontecimentos que desejo preservar e partilhar mais tarde.
É assinante de algum jornal digital, nacional ou regional, ou só acede às notícias que são disponibilizadas gratuitamente?
Sou assinante de jornal digital nacional e também de regional.
Alguma vez lhe apeteceu ser jornalista por um dia?
Nunca senti essa vontade ou curiosidade.
Qual foi a última notícia que a deixou incrédula?
Algumas notícias em que se defendem posições que comprometem a democracia. Todas as notícias relativas à ascensão de um partido antidemocrático, “partido de um homem só”. Fico incrédula por não imaginar que fosse possível termos em risco a nossa democracia e por ver a ignorância ganhar terreno. A manipulação, na comunicação social, incomoda-me.
Consegue utilizar bem as novas tecnologias, nomeadamente as aplicações úteis, através do telemóvel?
Sim, uso com facilidade. No computador ou no telemóvel.
É cada vez mais complicado sermos atendidos telefonicamente na generalidade dos serviços, públicos ou privados. Já lhe aconteceu?
A todo o momento me vejo confrontada com “atendedores IA”, que impedem uma rápida resposta ao que necessitamos esclarecer. Quase todos os serviços estão desumanizados no que respeita à comunicação com os clientes. Gastamos muito tempo até conseguir ter um atendimento telefónico efectuado por operador humano, o que me causa sempre alguma “irritação”.
Qual considera ser a sua terra; aquela onde se sente realmente bem e à vontade? É a terra onde nasceu ou outra? E é a melhor terra do mundo?
A minha terra é aquela onde resido. Não é a localidade onde nasci. Não é a melhor terra do mundo, mas é onde me sinto protegida e muito bem.
As pessoas que mais admira são algumas das que conhece e com quem contacta, ou outras a quem, muito provavelmente, nunca vai ter a possibilidade de cumprimentar?
Admiro pessoas com quem contacto, podendo não ser íntimas ou da esfera de amizade mais próxima. Admiro pessoas cultas, conhecedoras, interessadas, que gostam de conversar sobre assuntos que me enriquecem culturalmente. Admiro quem gosta de partilhar o muito que sabe de forma altruísta e humilde.
O que é que achou deste inquérito?
Todos reconhecemos que a comunicação social e o jornalismo são considerados essenciais para a sociedade e a democracia. Contudo, a sua relevância é constantemente desafiada por factores como a crise dos modelos de negócio tradicionais, o crescimento das ‘fake news’ e a decadência deontológica (excesso de sensacionalismo).
O que gostaria de acrescentar?
Celebrar 38 anos é honrar quase quatro décadas de jornalismo de proximidade no Ribatejo e Vale do Tejo. A vossa independência, rigor e dedicação à informação de proximidade são inestimáveis. Que continuem a ser a voz atenta e essencial da nossa grande região! Muitos sucessos e muitos mais anos a informar com o mesmo impacto.


