“Há uma busca incessante de mais dinheiro para matar a vida e cada vez menor preocupação com verbas para matar a fome”
Qualquer um pode sobreviver sem notícias. Mas, entenda ou não, é sempre mais pobre. Na verdade, também somos a informação que temos e a informação que geramos.
Qual considera ser a sua terra; aquela onde se sente realmente bem e à vontade?
Tudo, ou quase tudo, o que sou devo à Póvoa da Isenta, meu berço, a Santarém cujos destinos dirigi (1992-2002), ao Vale de Santarém, a Almoster, a Alcanede, a Amiais de Baixo, a Pernes, ao Arneiro das Milhariças, à Romeira, a Tremês (terra dos meus ascendentes paternos), à Gancaria, à Várzea, à Azinhaga (terra de Saramago, no concelho da Golegã), a Lamego, a Almeida (terra de Eduardo Lourenço), a Lisboa e ao Rio de Janeiro (cidade fundada pelo escalabitano Estácio de Sá). A lista é extensa, mas traduz as terras que mais temperam o meu coração. Sempre foram boas mães e grandes amigas para mim.
Quais as pessoas que mais admira?
Tive o privilégio de contactar com personalidades do tamanho do mundo, como José Saramago, Lídia Jorge, António Lobo Antunes, Vasco Graça Moura, Urbano Tavares Rodrigues, João Rui de Sousa, Manoel de Oliveira, Álvaro Siza Vieira, Veríssimo Serrão, Vítor Melícias, António Ramalho Eanes, Mário Soares, António Guterres, Francisco Pinto Balsemão e Jorge Sampaio. Serão sempre referências, enquanto virtudes éticas, pela exemplaridade do seu carácter e pela perenidade das suas obras.
Como descreveria O MIRANTE a alguém que nunca tivesse contactado com o jornal?
Diria que só a sua existência nos deixa mais felizes e, sobretudo, orgulhosos perante o quilate e a proximidade do seu profícuo labor.
Ainda lê o jornal em papel?
Sou de um tempo tão “antigo”, mas tão novo, que ainda valorizo as edições em papel, embora ciente de constituirmos (elas e eu) espécies em vias de extinção. Sem pedir desculpa a nenhum fundamentalismo, serei assinante dos jornais, em suporte de papel, tanto de Santarém, como de Lamego (onde também fui autarca), enquanto viver e eles existirem nesse formato.
Há mais de 60 municípios sem um jornal ou rádio de informação local, sendo considerado que as pessoas daqueles locais, vivem em “desertos de notícias”. Como se sentiria se vivesse num deles?
Sentir-me-ia mesmo num deserto. Qualquer um até poderá sobreviver sem notícias. Mas, entendesse ou não, ficaria sempre mais pobre. Na verdade, também somos a informação que temos e a informação que geramos.
Muita informação chega-nos através das redes sociais. Sabe quem faz, escreve e publica aquelas informações e vídeos?
Essas autorias, tantas vezes camufladas, são como bichos-de-conta que, quanto mais se procuram e tocam, mais se escondem, enrolados sobre si próprios.
É assinante de algum jornal digital, nacional ou regional, ou só acede às notícias que são disponibilizadas gratuitamente?
Ainda não fiz a minha incursão no território das assinaturas digitais, apesar de usufruir das suas publicações. Sou e serei sempre assinante de jornais, em suporte de papel, editados em Santarém e Lamego, conforme já referi e tenho muito gosto em repetir.
É cada vez mais complicado sermos atendidos telefonicamente e, por vezes presencialmente, em muitos serviços, sejam públicos ou privados. Já lhe aconteceu?
Com efeito, já me aconteceu. Porém, tenho tido sorte com as estradas digitais, por nelas me ver bem-sucedido até agora. A renovação da carta de condução foi um caso recente. Fiquei bastante satisfeito. Entendo, inclusive, que há serviços deveras visados pela crítica, o que acho injusto. Trata-se das Finanças que, em termos gerais, estão bem organizadas, um feito que se deve, em grande medida, a Paulo Macedo e a José António Pereira Azevedo.
Consegue utilizar bem as novas tecnologias, nomeadamente as aplicações úteis, através do telemóvel?
Não tenho razão de queixa, conquanto nem a todas recorra com muita assiduidade.
O que é que achou deste inquérito? Acha que estamos a ser muito narcisistas e que a comunicação social não é assim tão importante como se faz crer?
Antiteticamente, considero que os jornais têm mais valor do que crêem possuir. Esta resposta poderá caminhar com alguma parcialidade ao seu lado. Mas, se assim for, assumo-a. De facto, trabalhei em vários jornais. Conheço a sua estrutura empresarial, as exigências laborais de toda a ordem e os prazos, sempre apertados, que estão estabelecidos. Fui correspondente de “O Século” e “PortugalHOJE”. Também colaborei com “A Capital” e com “O MIRANTE”, onde escrevi durante vários anos, à semelhança do que havia sucedido nos semanários “Correio do Ribatejo”, “LAMEGOhoje”, “DOUROhoje” e “O Ribatejo”. Todos os jornais que conheci foram, para mim, escolas de bons ofícios e de salutar convívio profissional.
Qual foi a última notícia que o deixou incrédulo?
A busca incessante, conflito após conflito, de mais dinheiro para matar a vida e a cada vez menor preocupação com verbas para matar a fome.
O que gostaria de acrescentar?
Acredito que os jornais, além de separarem o trigo do joio no seu escrutínio, podem ser fontes de esperança, tornando-se despertadores das potencialidades adormecidas nas regiões e no país.


