Entrevista | 10-07-2014 10:23

“O Governo está a matar as aldeias com o encerramento de escolas”

“O Governo está a matar as aldeias com o encerramento de escolas”

Presidente da Junta de Freguesia de Pontével, Jorge Pisca, considera que as escolas primárias da sua freguesia que vão fechar têm todas as condições para continuar a funcionar

O encerramento das escolas do 1º ciclo das localidades de Casais da Amendoeira e Casais Lagartos, ambas na freguesia de Pontével, concelho do Cartaxo, vai aumentar as despesas da junta de freguesia e da câmara municipal, assim como desenraizar as crianças da sua comunidade. A opinião é do presidente da Junta de Freguesia de Pontével, Jorge Pisca, que considera que o Governo está a “matar” as aldeias com a decisão de encerrar estas duas escolas com a justificação de que têm menos de 21 alunos.Jorge Pisca garante que ambas as escolas têm todas as condições para continuarem a funcionar. Inclusive, a escola de Casais da Amendoeira foi pintada este ano e foram feitas algumas reparações, pela junta de freguesia em conjunto com uma empresa que cedeu tintas e mão-de-obra. “O Ministério da Educação não tem despesas a mais com estas duas escolas. Pelo contrário, vai ter é se as fechar, porque os alunos precisam de transporte para irem para a nova escola”, explica.A lei diz que a câmara municipal tem que disponibilizar transporte a crianças que frequentem escolas a mais de três quilómetros de distância de casa. A escola de Pontével, para onde os alunos devem ir, situa-se a cerca de dois quilómetros, ficando essa responsabilidade a cargo dos pais. O problema é que a maioria dos alunos dessas duas escolas têm Escalão A e Escalão B, ou seja, são alunos de famílias consideradas de menos recursos. “Não podemos obrigar os pais a terem mais esta despesa quando mal ganham dinheiro para as despesas normais”, explica Jorge Pisca, que teme que alguns pais retirem os filhos da escola por não terem possibilidade de suportar mais encargos. Para evitar essa situação, o autarca garante que estão a estudar uma alternativa para não deixar os alunos sem transporte.No entanto, esta não é uma situação fácil de resolver. Os autocarros da câmara municipal e da junta não são homologados de acordo com as regras de segurança para transportar crianças. E o município não tem dinheiro para adquirir novos autocarros e carrinhas. “A junta tem uma carrinha de nove lugares mas só pode transportar seis crianças de cada vez, porque não pode levar menores nos três lugares da frente. Vamos ter que fazer muitas viagens para levar os meninos à escola. Eles vão ter que se levantar de madrugada. Os maiores prejudicados de todas estas decisões do Governo são as crianças”, acusa, não escondendo a indignação.Indignação e revolta é o sentimento das populações de Casais da Amendoeira e Casais Lagartos que preferiam que os “seus meninos” fizessem a primeira etapa escolar na sua terra. Jorge Pisca considera que o actual presidente da Câmara do Cartaxo, o socialista Pedro Magalhães Ribeiro, tem feito tudo o que está ao seu alcance em defesa da manutenção destas duas escolas e elogia o envolvimento da população do concelho. “O que se está a passar este ano com as escolas da freguesia de Pontével pode acontecer nos próximos anos com outras freguesias do concelho, por isso temos que estar unidos numa luta que tem de ser de todos nós”, sublinhou.O presidente da junta enumera as vantagens de frequentar o primeiro ciclo na sua terra. Os avós vão levar e buscar os alunos à escola, podendo almoçar em casa. Alguns levam inclusive filhos de vizinhos e dão-lhes comida. Existe uma maior proximidade com os avós e com a sua terra. Ao irem para outra escola são obrigados a passar o dia todo fora, indo à sua aldeia só para dormir. “Vai acontecer o que já se está a passar noutras aldeias, os pais começam a levar os filhos para as localidades onde trabalham e qualquer dia as famílias mudam-se de vez para as terras onde trabalham. É a desertificação completa das aldeias e do interior. Como é que podem querer estimular o regresso ao interior senão existem as mínimas condições de vida nestes locais. Uma aldeia sem crianças é uma terra morta”, lamenta.A freguesia de Pontével tem quatro escolas. Pontével, Casais da Amendoeira, Casais Lagartos e Casais Penedos. Jorge Pisca diz que a de Casais Penedos, que não vai fechar, precisa de obras porque o telhado é em amianto e como o refeitório fica fora do edifício escolar é necessário construir um telheiro para as crianças circularem protegidas nos dias de chuva.Providência cautelar para evitar encerramento de escolas do concelhoO executivo municipal do Cartaxo, liderado pelo socialista Pedro Magalhães Ribeiro, admite avançar com uma providência cautelar, caso o Ministério da Educação (ME) mantenha a decisão de encerrar as escolas de Casais da Amendoeira e Casais Lagartos. Outra das intenções é organizar uma petição pública que será entregue na Assembleia da República e fazer uma manifestação junto ao edifício do ME. Estas são algumas das decisões que saíram da sessão pública contra o encerramento das escolas do concelho, realizada no final de Junho no auditório da Quinta das Pratas.Nessa sessão, Pedro Ribeiro apresentou o manifesto público “Pela Defesa das Nossas Escolas”, que reúne os “fundamentos” para a manutenção dos estabelecimentos de ensino, e um conjunto de propostas aceites numa reunião anterior com a Junta de Freguesia de Pontével, o Agrupamento Escolar D. Sancho I, pais e encarregados de educação. O presidente do município explicou, na última sessão da assembleia municipal, que o manifesto público e as suas propostas vão ser colocadas em prática caso o ME mantenha a sua decisão de encerrar as escolas de Casais Lagartos e Casais da Amendoeira. “É muito difícil dialogar com o Ministério da Educação porque a receptividade é quase nula. Infelizmente temos um país que é gerido a partir de Lisboa, por pessoas que não têm a noção de como é viver num meio rural. A distância entre Casais Penedos e Casais da Amendoeira não é a mesma em meio rural do que em meio urbano. Temos uma cobertura de transporte público rodoviário bastante deficiente e muitas famílias carenciadas sem transporte próprio”, reforçou.O empresário que gosta de ajudar a desenvolver o seu concelhoJorge Pisca nasceu a 12 de Abril de 1963 em Pontével. Esta é a primeira experiência como presidente de junta de freguesia. O empresário foi deputado municipal, independente eleito nas listas do PS, no anterior mandato. Foi convidado por Paulo Varanda mas recusou o primeiro convite. Não queria meter-se a sério na política. Mudou de ideias quando percebeu que muita gente gosta de opinar, mas, “na hora da verdade”, ninguém se chega à frente para enfrentar os desafios. “Decidi aceitar o desafio, até para ver do que sou capaz. Gosto de ajudar as pessoas e sentir que estou a fazer algo positivo pela minha terra. Não sou homem de estar parado”, afirma a O MIRANTE, numa entrevista que decorreu no seu gabinete no edifício da junta de freguesia.Avançou na lista independente de Paulo Varanda e conquistou a junta de freguesia, que pertencia ao PS. Garante que não é um trabalho fácil mas não está arrependido de ter aceitado o convite. “Falei com os funcionários e chamei-os à atenção que aqui trabalhamos para as populações e não para os partidos. Da mesma forma que já disse ao presidente da câmara que estamos todos a puxar a carroça para o mesmo lado”, explica.Proprietário da empresa M3 - Signatus confessa que não é fácil conciliar a empresa com a vida política e que os negócios ressentem-se um bocadinho. A empresa está agora entregue à esposa que, garante, tem dado conta do recado. No entanto, tanto a mulher como os três filhos reclamam a ausência do pai que não consegue estar tão presente como gostaria. “Apesar das dificuldades eles têm sido compreensivos e sabem que a gestão da junta de freguesia exige muito de mim”, realça. Jorge Pisca também está ligado ao associativismo, sendo membro da Associação Empresarial da Região de Santarém - Nersant há 12 anos. É vogal no Centro Cultural e Recreativo de Casais da Amendoeira e foi também vogal da Sociedade Filarmónica Incrível Pontevelense. Foi sócio fundador da Associação Tubarões de Portugal, colectividade motard do concelho do Cartaxo. Apaixonado por motas admite que não perde a concentração de Valladolid (Espanha), Góis e na próxima semana vai marcar presença na concentração motard de Faro (Algarve).

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